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Grupo 3030 lança álbum pedindo calmaria em "tempos pesados"
Vida & Arte

Grupo 3030 lança álbum pedindo calmaria em "tempos pesados"

Inspirado pelas paisagens de Porto Seguro, grupo 3030 lança terceiro álbum da carreira. Proposta de trio é defender a reflexão e calmaria em "tempos pesados"
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A Saudade da Bahia chorada por Dorival Caymmi na década de 1950 encontra eco num sentimento narrado por um trio de músicos que hoje habita o Rio de Janeiro, mas não tira o estado nordestino da cabeça. “Mas que saudade eu tenho da Bahia, se ao menos escutasse o que meu pai dizia, larguei o chão de barro, era feliz e nem sabia”, canta o grupo 3030 na música Febre de Mudança, em referência direta à composição de Caymmi (“Se eu escutasse o que mamãe dizia”, lamentou este). A música recém-lançada conta com participação do rapper Emicida e integra o álbum Alquimia, terceiro disco do grupo cuja trajetória já soma dez anos. Vida&Arte conversou com os músicos Bruno Chelles, Lk e Rod.


“A gente defende que a música é uma arma forte para mudar as coisas. A música é essa alquimia que pode transformar o mundo”, elabora Bruno, explicando o conceito que norteou o álbum. Apesar de fincar os pés no hip hop, o 3030 busca agregar diferentes sonoridades (bossa nova, jazz, samba, lambada) e abraçar temáticas solares, mas com uma abordagem densa.

[SAIBAMAIS]

Enquanto a grande maioria dos músicos do rap nacional dá protagonismo a versos de cunho social, o grupo tem como foco uma reflexão mais pessoal, chegando a temas como paz astral, ancestralidade e espiritualidade. “Não gosto muito dessa obrigação que associam ao rap de ter que falar disso ou daquilo. Defendemos a igualdade entre todos os seres. É importante falar de contextos sociais, tanto que nesse disco tem, mas damos uma visão nossa. As formas de abordar os assuntos evoluem”, reflete LK.


Hoje radicado na capital carioca, o grupo foi formado em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro. A vida calma à beira mar com um contato maior com a natureza reflete diretamente nos versos apresentados pelo trio. “A gente quer trazer uma energia mais leve para esse planeta. Principalmente nesse momento tão pesado que a gente tem vivido”, reitera Rod. O músico destaca ainda a influência da capoeira e de outras manifestações culturais do dia a dia dos três na cidade nordestina. “A capoeira me influenciou tanto em ritmo quanto ideias, está na minha história”, completa.

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Antes de integrar o grupo, Bruno foi cantor de uma banda de forró. “Tudo o que escrevo e canto tem a ver com música brasileira e, claro, tem a influência muito forte de Luiz Gonzaga”, atesta, citando ainda Dominguinhos. Bruno critica o recorte cirúrgico que alguns artistas fazem entre os ritmos. “Tudo é música. A mistura de ritmos só engrandece”, completa.


LK faz coro à diversidade sonora: “A gente ouvia Bob Marley todo dia na Bahia. E aí entrava forró, Timbalada. são ritmos que mexem com a gente até hoje”, explica. O rapper evidencia ainda a influência das religiões de matrizes africanas. “Temos uma relação com candomblé. Na Bahia, independente da religião, as pessoas falam de orixá, têm essa veia espiritual mais aberta”, celebra.


Já são dez anos de trajetória e três discos no currículo (além de singles, EPs) e agora o grupo, surgido no contexto das redes sociais, busca expansão. “A gente vem dessa geração que já faz tudo na internet, mas começou a se sentir meio prisioneiro só desse espaço e, por isso, começou essa busca por outros meios de comunicação. Os artistas ainda dependem dos grandes veículos para alcançar mais pessoas e é isso que a gente quer”, vislumbra Rod.


Entre as participações especiais de Alquimia estão dois nomes de peso na cena rap nacional: MV Bill e Emicida. “A gente tinha o sonho de poder trabalhar com eles dois. São artistas mais urbanos que a gente tem afinidade musical. O MV Bill com essa marca da crítica social e o Emicida também tem essa relação com a cultura negra”, completa LK.


 
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