Logo O POVO+
Cão sem Plumas, de Deborah Colker, chega a Fortaleza no fim de semana
Vida & Arte

Cão sem Plumas, de Deborah Colker, chega a Fortaleza no fim de semana

Inspirada em João Cabral Melo Neto, a premiada coreógrafa Deborah Colker apresenta Cão sem plumas. A obra inclui cinema e música para falar do "homem-caranguejo"
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Do banco do passageiro, no meio de um engarrafamento nas ruas do Rio de Janeiro, Deborah Colker desaguou num choro inesperado. “O que seria apenas uma distração contra o tédio, a leitura do poema O Cão Sem Plumas me provocou uma verdadeira comoção, foi como um soco no estômago”, lembra a coreógrafa, em entrevista ao O POVO. Ela conta ter conhecido, ainda nos anos 1980, essa obra do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999) e, desde então, fixou o seguinte verso: “É muito mais espesso o sangue de um homem do que o sonho de um homem”. Foi só em 2014, porém, que a carioca iniciou a empreitada para levar a obra aos palcos. Em 2017 fez a estreia e agora o espetáculo chega aos palcos cearenses em duas apresentações neste fim de semana no Teatro RioMar Fortaleza.


“Montamos um corpo e um vocabulário de movimentos que construíram um ‘homem-caranguejo’, que é mastigado, saqueado, roubado, que roubam dele até o que ele não tem. Mas esse mesmo homem é teimoso, resistente e guerreiro. Essa terra seca e craquelada é a pele dele”, aprofunda Deborah. O espetáculo, assim como o poema, acompanha o percurso do Rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco, e põe em evidência a população ribeirinha. Para a artista, apesar de partir da peleja da gente nordestina, a obra se faz universal. “Fala de todos os ribeirinhos, exilados, marginalizados e retirados de seu lugar”.


Para compor o trabalho considerado pela coreógrafa como “o que mais exala brasilidade” do seu extenso currículo, a companhia migrou das ruas do bairro da Glória, no Rio, para imersão em Pernambuco. “Fomos descendo o Rio de onde o Capibaribe começa, pequeno, às vezes até escondido, passamos pelo rio seco, pelo agreste, pelos canaviais, pelo mangue, pelo rio que encontra o Mar e chegamos na cidade grande”, mapeia, ressaltando a convivência entre os bailarinos e os moradores da região.


Para transpor os versos ao palco, a coreógrafa contou com a colaboração do cineasta pernambucano Cláudio Assis, de filmes como Febre do rato e Amarelo manga. “Cláudio transita entre o belo e o feio, entre a essência e a verdade”, aponta. Ela ressalta ter o diretor uma “disposição em nadar contra a corrente” que evidenciou uma “estética cabraliana”. O registro do processo de montagem feito por Assis entra em cena numa relação entre os corpos e a tela.


Cão sem plumas abre espaço também para a música. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge Du Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento Manguebeat, e Lirinha, da banda Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator. “Escolhi reunir quatro linguagens artísticas, que estão presentes nesse espetáculo: a dança, o cinema, a poesia e a música”, convida.


SERVIÇO


Cão sem plumas

Quando: sábado, 24, às 21 horas e domingo, 25, às 20 horas

Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)

Quanto: De R$ 60 a R$ 160

Informações: 30662000

O que você achou desse conteúdo?