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Johnny Hooker fala sobre o show no Carnaval de Fortaleza
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Johnny Hooker fala sobre o show no Carnaval de Fortaleza

O cantor pernambucano Johnny Hooker integra a programação oficial do Carnaval de Fortaleza e promete fazer uma apresentação cheia de liberdades
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Depois de um punhado de shows lotados em Fortaleza, o pernambucano Johnny Hooker volta à Capital para apresentação gratuita na terça de Carnaval. Saindo do álbum Eu vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito - que foi sucesso entre a crítica e jogou luz sobre o trabalho do cantor - ele parte o disco Coração, gestado durante um período de depressão profunda.


Johnny é um dos representantes mais bem cotados da geração atual de artistas. Teve composições em novela, tocou nas rádios, apareceu em programas de TV, conquistou espaços ocupados por veteranos. A produção, entretanto, continua sendo de forma independente. Não há gravadora ou empresário por trás da carreira e das decisões artísticas de Hooker.


O POVO - O Brasil está mais careta?

Johnny Hooker - Tenho a impressão que sim. E não só eu! Tenho conversado com muita gente que também acha. Acho que isso vem da desesperança, na economia, na política, no futuro. Se deu uma abertura ao consumo, mas que não veio acompanhada de conscientização, do lugar da inclusão de fato. Agora na crise estão todos com medo de perder. Virou um ambiente combativo, individualista, em que o “outro”, o “estrangeiro”, o “diferente” é claramente demonizado. Essa demonização da arte, da reflexão e a ascensão de figuras políticas que se vendem como não políticas ou “salvadores da moral” são sintomas disso.

 

OP - Cabe resistência e reflexão no Carnaval?

Johnny - Claro que cabe. Tem coisa mais política do que dançar, se expressar com liberdade, do que tomar as ruas com toda gente de todo lugar? Ainda mais no momento de trevas e desesperança no futuro em que vivemos. Só tenho medo que isso desague num transe coletivo de escapismo. Se o escapismo, o individualismo ganham, aí sim estamos perdidos. Mas o Carnaval é a festa do coletivo! E que a gente faça continuar sendo!

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OP - Já temos o que comemorar na luta contra o preconceito?

Johnny - Há nada a se comemorar. O Brasil em 2017 bateu o próprio recorde pelo segundo ano consecutivo como país que mais mata LGBTs no mundo. As parcas políticas de combate a homofobia foram extintas. O panorama é sombrio.

 

OP- No momento político que o Brasil vive, como as pessoas podem resistir? Como elas podem renascer?

Johnny - Acho que se colocar nas questões. Quando os retrocessos estão vencendo, não dá para ficar nesse silêncio complacente. Já não se fala as coisas por que as pessoas têm medo das retaliações. Isso pra mim já é muito mais semelhante a um estado de exceção do que nós gostaríamos de admitir.

 

OP - Depois do Macumba, que foi um disco de sucesso, como foi gestar um novo álbum? Houve pressão?

Johnny - Durante a gestão de Coração eu caí num processo muito grave de depressão. Então, fazer esse disco foi mais uma questão de sobrevivência mesmo. Essa questão da pressão foi eclipsada por isso. (O álbum) é combativo por que os tempos exigem combate, empatia, afeto. É uma tentativa de sobreviver, na vida pessoal e aos tempos.

 

OP - O primeiro álbum já tinha um “passeio” por ritmos brasileiros. Em Coração, essa diversidade está mais presente. É um processo estudado por você?

Johnny - A turnê do Macumba levou a gente para tantos lugares do País, de norte a sul. Por isso Coração reflete muito isso. Tem o Rio de Janeiro, cidade onde eu morei durante três anos, em Eu Não Sou Seu Lixo, tem Belém em Corpo Fechado. Filipe Catto fala toda vez que esse disco é “Johnny canta os clássicos” e eu morro de rir.

 

OP - O trabalho como compositor é um trabalho de sofrimento?

Johnny - Jamais. O trabalho como compositor é como a vida, é ruim e é bom. Quando você escreve, seu universo imaginário, sua vida e suas músicas se confundem de uma maneira tão imensa que você já nem sabe mais o que é realidade e o que foi inventado. É tudo ficção.

 

OP - E você se reinventa enquanto artista?

Johnny - Espero ter a oportunidade de fazer muitas coisas diferentes durante minha vida como músico. Acho que vestir uma nova roupagem a cada trabalho é gostoso, mexe com suas estruturas, provoca você e o público. Ainda mais num País em que muitas vezes tenho a impressão de que só querem ver os artistas ficarem em suas zonas de conforto. Quando lancei Coração algumas pessoas falaram que era muito diferente do Macumba, algumas falaram que é igual. Vai entender.

 

OP - Em Coração há alguns tons de agonia, mas há um toque de superação também. O quanto você está nessas composições?

Johnny - Eu estou 100%, mas isso não significa que elas sejam 100% baseadas na realidade. Acho que existe uma tentativa sim de superação, de se libertar das coisas. Acho que esse disco é meu último respiro de esperança em relação as coisas e as pessoas.

 

OP - Você tem quatro apresentações para o Carnaval e três são gratuitas - São Paulo, Recife e Fortaleza. É importante para você ter esse contato com o público sem a obrigatoriedade do ingresso?

Johnny - Eu amo poder fazer shows gratuitos, abertos ao público. É democrático e é emocionante estar cantando nas ruas pelo Brasil. Infelizmente não faço com tanta frequência como desejaria. Ainda sou um artista que opera de forma 100% independente. 100 por cento. Algumas pessoas julgam ou imaginam que pela repercussão do meu trabalho eu tenho algum “empresário” ou “gravadora” por trás. Mas não tenho, sou meu próprio empresário e quando você é independente é mais difícil viajar pelo Brasil tocando gratuitamente.

Johnny Hooker no Carnaval

Onde: Aterrinho da Praia de Iracema

Quando: terça-feira, 13, a partir das 17 horas, seguido de Banda Patrulha e Jorge Aragão

Gratuito

 

DÊ O PLAY

Para quem não conhece a obra do pernambucano Johnny Hooker e vai curtir o Carnaval na Praia de Iracema, o Vida&Arte sugere cinco músicas essenciais na obra do cantor: Alma Sebosa, Corpo Fechado, Desbunde Geral, Volta e Flutua, parceria com a cantora Liniker.
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