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Conheça o "armário-cápsula", técnica minimalista para reduzir consumo
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Conheça o "armário-cápsula", técnica minimalista para reduzir consumo

Quantidade limitada de peças e muitas possibilidades de combinação são as diretrizes do "armário-cápsula", técnica minimalista para reduzir consumo
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Você abre o guarda-roupa de manhã e olha aquelas dezenas de peças penduradas nos cabides. Procura uma calça e uma blusa adequadas para trabalhar e ir ao cinema depois do expediente, mas nada parece encaixar. A camiseta que você quer está suja, o jeans está perdido entre as outras peças e os tecidos não parecem combinar entre si. Depois de alguns minutos perdidos com irritação e indecisão, a solução é escolher uma roupa qualquer e seguir com o dia.


Os momentos de estresse causados pela seleção das roupas podem ser substituídos pela tranquilidade de ter somente peças exatas, combinadas entre si, duráveis e confortáveis. Através de uma técnica chamada “armário-cápsula” ou “armário-casulo”, pessoas do mundo inteiro têm reduzido a quantidade de peças e encontrado mais sapiência nas escolhas. O conceito é simples: ter um número mínimo de roupas e calçados adequados para o estilo de vida e para as atividades do indivíduo. Nada de vestidos de festa ultrapassados, calças com dois números menores ou blusas nunca usadas. Peças íntimas, pijamas e roupas de academia não costumam entrar na conta.

[SAIBAMAIS]

Sílvia Henz foi produtora de moda por um longo período da carreira. Roupas em excesso não faltavam no seu cotidiano, tampouco em seu armário. “Eu era bem consumista. Um dia me dei conta quando fui fazer uma reforma em casa. Encaixotei todas as minhas coisas e deixei algumas coisinhas fora. Essas coisinhas, que eram para durar umas três semanas, acabaram durando muito mais e fiquei muito tempo com pouca roupa. Foi quando percebi que eu tinha muito mais que o necessário. Decidi fazer uma limpeza no guarda-roupa. Vendi, doei, e fui me desfazendo ao poucos”, relembra.


Nessa primeira etapa, Sílvia reduziu cerca de um terço das peças do seu guarda-roupas original. Na segunda etapa, com o incentivo de alguns amigos, ela descobriu em postagens de blogs o armário-cápsula. Atualmente, a curitibana possui em seu armário 31 peças. Quando questionada sobre o desejo de consumir mais, explica que eles vêm e passam. “Sabe quando você vai no shopping e olha aquele monte de lojas e pensa, - olha a quantidade de coisas de que eu não preciso. O que tenho já é o suficiente. É tudo uma questão de como você encara a vida”, afirma Silvia Henz, que hoje trabalha como gestora de conteúdo da apresentadora Ana Maria Braga e é apaixonada pela ideia do minimalismo.


O pesquisador em cultura e comunicação Marcelo Mocarzel, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que o armário-cápsula é uma iniciativa integrante do bojo do minimalismo - estilo de vida que prega a necessidade de desacelerar, reduzir e combater o consumismo, sendo menos escravo do dinheiro e da necessidade de comprar objetos. Ele aponta outros mecanismos usados para atingir esses objetivos: aluguel de roupas, feiras, espaços colaborativos e grupos de trocas. “Há iniciativas fantásticas que ajudam a reduzir o consumo de bens naturais e ainda trazer sustentabilidade financeira às pessoas”, explica Marcelo.


Ter mais dinheiro para outras atividades - como shows, viagens e saídas para restaurantes - é uma das vantagens mais imediatas encontradas pela ativista ambiental Fê Cortez. Envolvida com iniciativas de proteção ambiental, ela começou a observar o próprio armário e não encontrou suas diretrizes atrás das portas. Nessa hora, decidiu montar um acervo de 60 peças que durasse pelos 12 meses de 2018. Fê compartilha rotina de poucas roupas, muitas combinações e bastante tranquilidade no YouTube, postando semanalmente vídeos no canal Menos 1 Lixo.


Fê acredita que tomar menos decisões diariamente ajuda na sensação de tranquilidade. “Significa pensar menos na hora de se vestir. E é uma roupa com a sua identidade. Não é a roupa da blogueira na qual você investiu uma fortuna para ter o look do dia”, aponta. Para manter o armário-casulo em funcionamento, ela investiu em uma série de mecanismos. O primeiro foi reduzir o número de lavagens, que agridem as roupas, deixam um aspecto surrado e ainda gastam um recurso natural primordial: a água. Borrifando água, álcool e vinagre, Fê consegue “matar as bactérias” acumuladas no tecido ao longo do dia e reduzir as idas a lavanderia. Depois, começou a provocar combinações entre as 60 peças existentes no guarda-roupa, pensando sempre em acessórios e maquiagem. “Fazer o armário-cápsula é um exercício de autoconhecimento. Quando você vai se desfazendo das peças, você tem a oportunidade de lembrar que era diferente, que usava aquele vestido e não usa mais. E reafirma as opções da alma”, diz Fê.

 

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O adepto deve ter um número específico de roupas e calçados. Os armários costumam ter 20, 37, 50 ou 60 peças, que são usadas por tempo determinado.

 

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Passado o período de uso, a pessoa faz uma avaliação das peças que permanecem no guarda-roupa e das que serão substituídas. É necessário considerar aspectos como clima, viagens, datas comemorativas e mudanças de rotina.

 

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O princípio não é descartar as roupas indesejadas totalmente - jogando no lixo, por exemplo. Mas destinar para doação ou venda, fazendo o objeto ter mais vida útil.

 

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No exterior - onde há marcação de outono, primavera, verão e inverno - os praticantes costumam reavaliar o guarda-roupa a cada três meses.


 
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