Logo O POVO+
Cinema: o voo solo de Greta Gerwig em Lady Bird
Vida & Arte

Cinema: o voo solo de Greta Gerwig em Lady Bird

Com Lady Bird: É Hora de Voar, a atriz, roteirista e diretora Greta Gerwig se tornou, merecidamente, a quinta mulher indicada ao Oscar de melhor direção
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

“E se essa for a melhor versão de mim?”, pergunta Christine “Lady Bird” MacPherson (Saoirse Ronan), num questionamento que quase todo mundo se faz na juventude. Adolescência é tempo de negação. Foi-se a paz da infância, onde os pais são semideuses e professores fontes inesgotáveis de conhecimento. Com o tempo, cresce a dúvida, a vontade de quebrar paradigmas, enquanto a pessoa parte em busca de si. Neste contexto, a jornada de Lady Bird (Saoirse Ronan) é francamente ordinária. Mas é esse contexto acessível que mostra todo o charme de Lady Bird: É Hora de Voar, primeiro voo solo da atriz e roteirista Greta Gerwig como diretora.


Conhecida por comédias de jovens adultos como as ótimas Frances Ha (2012) e Mistress America (2015) - ambos protagonizadas por Greta e roteirizados por ela e seu marido, o diretor Noah Baumbach - , a cineasta mirou em personagens mais jovens e, ao mesmo tempo, com conflitos mais maduros em Lady Bird. A dramédia se passa em 2002, em Sacramento, uma cidade mezzo conservadora em meio à progressista Califórnia. Christine (perdão, Lady Bird) vive nesse entremeio ao ter de driblar a pobreza da família enquanto convive com ricas colegas na escola.


Desvencilhada das tramas que protagonizou, Greta pôde investir mais nas imaturidades da personagem. Frances Ha e Brooke (de Misteress America) pareciam presas no complexo de incompletude de todo millenial - o que rendia mais comédia física do que reflexão profunda. Lady Bird lida com questões mais práticas. Falta de dinheiro e mobilidade social, depressão, pressão familiar (de uma mãe-coruja) e a vontade de fuga para uma realidade utópica (Nova York).

[QUOTE1]

Um mérito de Greta é conseguir tratar de tudo isso com leveza. Nenhum personagem soa vilanesco - muito pelo contrário. Os namorados da protagonista podem até machucá-la, mas é mais pela curva natural de quem tenta se encaixar e faz com que outros sofram com os efeitos colaterais. Para além disso, a trilha musical consegue aproximar a comédia e o drama, chegando a impor todo o peso na bela cena do aeroporto entre Christine e sua mãe, Marion (Laurie Metcalf).


Assim como Me Chame Pelo Seu Nome, outro concorrente ao Oscar de melhor filme, o longa é uma obra de despertar na adolescência - a chamada cinematografia “coming of age”. Só que enquanto o filme de Luca Guadagnino é, ao mesmo tempo, íntimo e distante, o de Greta Gerwig é próximo, palpável em seu ritmo de dramédia disfuncional. Lady Bird é toda pessoa que brigou com uma mãe que se esforçava muito para ser sempre presente. Ou todo mundo que se apaixonou por um menino que parecia perfeito, mas... Bem, nem tudo vem fácil.


Adolescência é negação e, quase sempre, erro. Que o diga Lady Bird, que renega o nome dado pelos pais (Christine) para apostar na originalidade do nome autoinfligido. É uma fase de aprender que somos fruto dos atos dos nossos pais. Aprender que amizade de verdade é a que não guarda em si interesse. Aprender que ter conteúdo não é sentar em uma piscina lendo um livro no meio de uma festa. Ou até aprender que vamos fazer muito sexo não especial pelo resto de nossas vidas. Lady Bird é sobre uma menina que quer voar antes de andar - o que não é lá errado, só que rende uma queda bem
mais dolorosa.


Mulheres no Oscar de melhor direção


1977 - LINA WERTMÜLLER (PASQUALINO SETE BELEZAS)

A diretora e roteirista italiana conseguiu arrematar quatro indicações para um filme em língua estrangeira. Lina perdeu o Oscar para John G. Avildsen (Rocky: Um Lutador), que também levou a estatueta de melhor filme.


1994 - JANE CAMPION (O PIANO)

Assim como Greta Gerwig, Jane Campion foi indicada a melhor melhor roteiro original e direção por O Piano. A primeira estatueta foi um dos três Oscar do filme. Já a outra, ficou com Steven Spielberg, por A Lista de Schindler.

 

2004 - SOFIA COPPOLA (ENCONTROS E DESENCONTROS)

Outra a ser indicada (e vencer) como roteiro original e ficar sem o prêmio como diretora, Sofia Coppola perdeu o Oscar de direção para Peter Jackson (O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei), que levou quase tudo na edição. Ela concorreu ainda com o brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus).

 

2009 - KATHRYN BIGELOW (GUERRA AO TERROR)

Kathryn Bigelow finalmente ganhou o (merecido) prêmio. Além de direção, Guerra ao Terror ficou com os Oscar de roteiro original, montagem, mixagem de som, edição de som e, claro, filme. O maior concorrente na noite era a megaprodução Avatar.

 

2018 - GRETA GERWIG (LADY BIRD: É HORA DE VOAR)

Greta é favoritíssima para repetir os feitos de Jane Campion e Sofia Coppola e ficar com o Oscar de roteiro original, mas sem o de direção. Lady Bird concorre ainda às estatuetas de atriz (Saoirse Ronan), atriz coadjuvante (Laurie Metcalf) e filme.

 


 
O que você achou desse conteúdo?