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A sutil jornada de Rosália no filme Pela Janela
Vida & Arte

A sutil jornada de Rosália no filme Pela Janela

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Um dos desafios do cinema é como filmar processos internos. Ao contrário da literatura, em que uma narrativa em primeira pessoa ou mesmo uma voz onisciente pode nos guiar pelos pensamentos dos personagens, em um filme se deve sempre fugir do palavreado excessivo. Pela Janela, de Caroline Leone, é desses filmes que vez ou outra são acusados de “não acontecer nada”. Afinal, ele se propõe a esmiuçar o interior, não o exterior.


Rosália (a magnífica Magali Biff), 65 anos, trabalha há três décadas como uma eficiente supervisora de uma fábrica. Até o dia em que o empregador não precisa mais dela. Caindo em depressão, ela é amparada pelo irmão, José (Cacá Amaral). Só que ele precisa levar um carro de São Paulo, onde moram, até Buenos Aires (Argentina) e ninguém está disponível para ficar com Rosália. Relutantemente, os dois partem nessa jornada.


Pela Janela é, em muitos pontos, um filme sobre paz e transformação. Após a quebra, a demissão, Rosália perde o chão. Aos poucos, o road movie apresenta novas realidades, novas possibilidades para a personagem. Ela não encontra uma cura. Muito menos fala em depressão ou até em solidão. Só que ela demonstra as hesitações, como na cena em que se recusa a andar até o ponto central de observação das Cataratas do Iguaçu. Quando ela chega lá, vendo uma força imensurável da natureza, ela se transforma, aos poucos.


Se há algo que incomoda em Pela Janela é a opção deliberada pela lentidão, principalmente no primeiro ato. A ideia parece ser a de acelerar mais em Buenos Aires, em dar mais vida para uma Rosália renovada. Só que pode soar artificial após minutos desperdiçados com a personagem cortando verduras antes de cozinhar. Pela Janela é lento porque o peso nas costas de Rosália pede. Porque o processo de cura é, também, vagaroso. Só que parece que essa lentidão, que surge de cara, é punição para quem vê.

André Bloc

 

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