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A raiva ancestral
Vida & Arte

A raiva ancestral

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Pantera Negra começa com um menino negro, na periferia de Oakland, no momento em que ele perde o pai e é abandonado por todos. Podia ser a origem de um super-herói rico, branco e poderoso. Mas o que se move ali é o ódio ancestral de um menino negro que cresce para virar um vilão. Assim, o filme de Ryan Coogler escolhe não começar por contar a origem de um super-herói. Ele prefere dar o contexto que serve de combustível para o ódio do antagonista.


Se de cara conseguimos compreender Erik Killmonger (Michael B. Jordan), o melhor vilão que a Marvel já levou para os cinemas, isso não significa que T’Challa (Chadwick Boseman) não seja um personagem forte. Já em Capitão América: Guerra Civil (2016), o rei de Wakanda e alterego do Pantera Negra tem uma presença física marcante e representa um norte ético irretocável.


Isso é tão forte que Coogler aposta em uma trama toda composta de um subtexto político. O próprio Killmonger representa a raiva ancestral de um povo escravizado e humilhado por séculos. Ele tem uma fúria justificada e um objetivo nobre: que os negros não sejam mais subjugados no mundo. E mesmo a trajetória criminosa faz sentido pelo contexto de ele ser um menino pobre e abandonado na periferia dos EUA, onde o crime é uma opção perfeitamente razoável.


Filme feito por negros e com elenco quase totalmente negro, Pantera Negra é uma mensagem. É importante por representar uma minoria no lugar que ela merece, mas, mais que isso, é entretenimento de qualidade - que o diga a bela cena de perseguição ainda no primeiro ato. Na nova aventura da Marvel, Wakanda finalmente chegou — e já mostrou a que veio.

 

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