Frances McDormand é, sem dúvidas, uma das melhores atrizes da contemporaneidade. Ela consegue transitar entre papéis bem humorados como fez em Fargo, Queime Depois de Ler e Moonrise Kingdom até segurar um filme inteiro nas costas em um papel complexo e cheio de implícitos como faz agora em Três Anúncios para um Crime, produção que concorre a 7 Oscar.
No filme, a atriz vive uma mãe chamada Mildred Hayes que teve a filha assassinada. Sete meses se passam sem que o criminoso seja encontrado pela polícia. Hayes, após perceber que o caso foi deixado de lado pela autoridade local, aluga três outdoors em uma estrada abandonada e provoca com mensagens de culpa o xerife Bill Willoughby, que parou de procurar o assassino.
Esse, essencialmente, é um longa sobre ódio. McDormand consegue mostrar em toda cena a revolta e a dor de uma mãe que perdeu a filha de uma maneira brutal. Muitas vezes, ela não precisa dizer nada para mostrar seu sofrimento, como na sequência em que fica parada na porta do quarto da filha. A história dirigida por Martin McDonagh explora a ideia de que, às vezes, devemos aceitar o ódio para, depois disso, encontrarmos algum tipo de evolução. O filme aponta isso após a personagem colocar os outdoors, já que ela passa a encarar cada olhar de reprovação da cidade a partir disso.
[FOTO2]A pessoa que leva a culpa pelo caso nunca ter sido resolvido é o xerife Willoughby, vivido de por Woody Harrelson. Além de não ter encontrado o criminoso e conviver com a culpa, ele ainda está com câncer terminal e precisa resolver o que fará com sua família. Em um tom amigável, ele é o único que entende e até defende as ações de Mildred (mesmo que ele mesmo seja o alvo), além de servir como guia para Jason Dixon (Sam Rockwell), um policial racista e machista.
Dixon, desse modo, é o mais próximo de um vilão. Ele procura atrapalhar os planos de Hayes e ainda tenta prejudicar todos ao seu redor. Sua redenção, por outro lado, é algo único na filmografia de McDonagh. A desconstrução do personagem, que já começa com todo ódio no coração, é o inverso da personagem Hayes. Ele aprende com a raiva e se torna aquilo que sempre quis. Um exemplo de roteiro que estuda os personagens com total esmero. A possível vitória de Sam Rockwell no Oscar de melhor ator coadjuvante será justíssima.
Outra provável vitória é a de Frances McDormand. Sua atuação impressiona, choca e ainda emociona nos momentos pontuais da trama. Ela consegue ainda ser engraçada e violenta quando mostra como é ser uma mulher em um mundo patriarcal. Ela luta contra isso e vence à sua maneira.
O filme ainda consegue ter momentos emocionantes e engraçados. Guiado pela brilhante performance de McDormand, o longa já conquistou a apreciação de muitos votantes da Academia. Agora resta descobrir se ele terá uma vida longa como A Forma da Água, seu principal concorrente no Oscar.
INDICAÇÕES O filme recebeu indicações de melhor filme; atriz, para Frances McDormand; ator coadjuvante para Sam Rockwell e Woody Harrelson; roteiro original e montagem
Confira outros filmes
NA MIRA DO CHEFE (2008)
O primeiro filme de Martin McDonagh mostra dois matadores tirando férias depois de um crime.
FARGO (1996)
Filme dirigido pelos Irmãos Coen, teve a atuação de Frances McDormand como um marco daquele ano.