Logo O POVO+
As referências de Getúlio Abelha
Vida & Arte

As referências de Getúlio Abelha

Referências musicais de Zé Ramalho a Pinduca, além de estéticas e de movimentos culturais inspiram o cantor, compositor e ator Getúlio Abelha
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Investindo em novas composições para montar um repertório próprio, Getúlio também produz uma série de vídeos - fazendo figurino, maquiagem e o próprio audiovisual - que são postados em seu canal do YouTube. Atuando em tantas frentes, o jovem não se fia em referências. “Me incomoda precisar dizer nomes, prefiro que as pessoas associem o que sentem e as próprias vivências e referências àquilo que mostro. Sei que nomes me afetam, mas acho isso menos importante que a própria obra”, pondera. “Por isso eu tenho dificuldade em falar de referência. Quase sempre são muito profundas e pessoais”, avança. Na conversa, no entanto, o artista dividiu momentos, nomes e questões que movem e inspiram seu trabalho.

João Gabriel Tréz

 

 

ZÉ RAMALHO


SEM PERFEIÇÃO


“Desde criança, ele tocava muito na rádio e eu gostava, sentia sensações esquisitas e não sabia o que era. Depois eu cresci e entendi que, vocalmente, o Zé Ramalho é inspirador pra mim, porque eu canto mais no grave, sabe? O vídeo cover de Garoto de Aluguel é podre pela minha falta de recursos. Gravei num celular super abafado. Eu acho que a estética do vídeo ajudou, parece que foi feito no final dos anos 1980, aí pensei em aproveitar a falha. É isso que eu faço, aproveito as falhas a meu favor, às vezes eu proponho, porque acho importantíssimo aceitar a falha, o erro. É uma coisa que facilita muito. Se eu pegar um quadro e sair uma linha extremamente torta, eu vou admitir aquilo, entender aquela falha e fazer alguma coisa com ela. Facilita muito a vida de todo mundo. Tá cheio de gente frustrada aí, procurando a perfeição, né?”


FORTALEZA


EXPLOSÃO DE POSSIBILIDADES


“Fortaleza não me afeta ‘também’, Fortaleza ‘principalmente’ me afeta. A cidade é muito maior do que a gente sabe ou consegue perceber, e eu fico atento a isso. Eu me incomodo muito com as pessoas dizendo que Fortaleza é um ovo, que não tem nada, é a mesma coisa. A pessoa não faz o mínimo esforço pra abrir os olhos! Olhar, literalmente, quem tá ao redor. São muitas histórias, segmentos, que a gente acaba não ficando atento. Eu, particularmente, me esforço pra isso e aí vejo uma cidade muito explosiva, cheia de possibilidades”.


RAIMUNDO SOLDADO


EXPRESSÃO E TRADIÇÃO


“Eu amo Calypso, Companhia do Calypso, Pinduca... Amo também Raimundo Soldado, que é um artista que tocava muito quando eu era criança lá no Piauí. Tem uma música que é assim: ‘agora a festa vai começar/ e nós vamos dançar/ até a madrugada chegar’ (Você Gosta de Mim, 1980). Ele é quase um Prince, se apresentava nesses programas de auditório com roupas bem anos 1970, disco. Tem uma levadinha de Carnaval, também. (...) Eu sou um consumidor da música pop que rola no Brasil, só que ela me afeta pelo empoderamento, representatividade. Musicalmente, não. Acho que é por isso que eu tô tão apegado com a raiz e fazendo meus trabalhos com memórias do passado”.


AUDIOVISUAL


NA TELA E NO PALCO


“O vídeo, pra mim, tem relação com alcance, porque eu não faço pra ficar guardado, não faço pra pessoas da Universidade, não faço para críticos. Faço pras pessoas verem, sentirem, responderem. O vídeo é um facilitador disso. Me interesso também pela coisa das possibilidades, tem a edição, fazer os limites serem mais extensos ainda. E aí, meu filho, se tem câmera, tem amigo que tem câmera, tem um computadorzinho emprestado de vez em quando… É possível que as pessoas tenham mais acesso ao que tô fazendo através do vídeo, inclusive pra, a partir dele, eu poder deslocá-las pra outros lugares e outras coisas. ‘Sabe aquele cara que fez aquele vídeo? Ele também faz teatro’. Tô fazendo que pessoas saiam do Facebook e vão pro teatro. Além de ser tão interessante quanto qualquer outra linguagem artística, o vídeo promove essa visibilidade”.


CLUB KIDS


DRAGS SÃO AMOR


“Eu acho que cheguei à conclusão que sou uma espécie de club kid nordestina, sertaneja. Não diria exatamente club kid, porque o contexto deles é boates, Nova York, anos 1990. Mas eu poderia ser uma reedição nordestina. A questão do gênero fluido é uma coisa que, ainda bem, cada vez mais estamos livres e abertos em relação a isso, e eu posso ser uma dessas pessoas e me manifestar nesse sentido. E não sou o único. Tem muita gente aqui que se manifesta, se expressa. Existe uma semelhança, mas não fico vidrado, busco meu caminho e a cultura do meu lugar. E drag queens são amor. Muitas vezes, principalmente no ano passado, que foi baixo astral politicamente, eu ficava angustiado e eram as drag queens que me faziam sorrir e ser feliz. É um movimento extremamente necessário, faz mais sentido do que nunca, me influencia, me faz pensar mais ainda sobre a distorção do mundo que eu proponho, mas por outro viés. Pra mim, essa questão de levar aos extremos, não ter limites, se expressar ao máximo, ser um contraponto, mesmo, é massa”


 
O que você achou desse conteúdo?