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Vila das Artes promove a mostra Ida Lupino - Subversão e Resiliência
Vida & Arte

Vila das Artes promove a mostra Ida Lupino - Subversão e Resiliência

A Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes promove a partir de hoje, 6, a mostra Ida Lupino - Subversão e Resiliência, com exibição e discussão de filmes da diretora
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Em um mercado em que as mulheres são conhecidas por trás das câmeras somente como continuístas, figurinistas ou maquiadoras, uma das primeiras mulheres a romper essa barreira e impor-se como diretora de cinema foi Ida Lupino. Ela marcou presença durante o período clássico de Hollywood, quando ergueu a sua figura para uma voz de liderança. Esta nova representação garantiu para a londrina nascida em 1918 o trabalho de argumentista, produtora, roteirista e diretora. Com esta importância quase esquecida, a curadora Camila Vieira e a Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes promovem, a partir de hoje, a mostra Ida Lupino – Subversão e Resiliência, com sessões seguidas de debate.


A história de Ida começou depois de sua chegada a Hollywood, na década de 1930, quando ainda tinha 14 anos e tentava passar em um teste de elenco. Duas décadas depois, a atriz passou a roteirizar, produzir e dirigir suas obras, o que inclui O Mundo Odeia-me, primeiro filme noir dirigido por uma mulher. Ida ainda trabalhou na televisão, com todos os tipos de série. Como diretora, passou por episódios de Os Intocáveis, Além da Imaginação, A Feiticeira e outras.


A jornalista, crítica de cinema e realizadora em audiovisual Camila Vieira conta que a mostra foi pensada com o intuito de apresentar ao público a filmografia de uma personagem que, nos anos 1940 e 1950, teve uma importância fundamental para a história do cinema mundial. Ela destaca que selecionou quatro longas que considera representativos da produção cinematográfica de Lupino, dentro da The Filmmakers, produtora que teve com o marido Collier Young.


Camila lembra que, na produtora, Ida Lupino pôde criar filmes independentes, de baixo orçamento, sem o glamour das produções hollywoodianas. “O Mundo é o Culpado, por exemplo, é um dos filmes em que ela aborda a temática do estupro de uma maneira bastante ousada para o período de restrições da censura adotada nos Estados Unidos”, diz.


“Cinema não está separado da política. Quando Ida Lupino realizou tais filmes, ela não só procurou uma forma estética potente para criá-los, mas também adensou reflexões importantes sobre temas considerados tabus na época, como o estupro, o dilema de ser mãe solteira, a violência doméstica. Ela fez do cinema uma forma de reinvenção da linguagem, mas também de criação de olhares diferentes em relação à mulher. Seus filmes eram pontos de partida para formas de resistência às normas da sociedade”, enfatiza.


Para discutir esses temas, ela convidou três mulheres com pesquisas sobre a representação feminina no cinema e um crítico e mestre em literatura para pensar de que modo Ida Lupino pode contribuir com um novo olhar para a construção do gênero noir, que é considerado um gênero cinematográfico masculino.

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A importância da Mostra


A realizadora Camilla Osório, formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará, acredita que o caso de Ida é especial por conta da injustiça histórica, já que é um nome importante do cinema em sua geração e foi praticamente esquecida pelas gerações posteriores. “Assim como a maioria das mulheres que ocuparam diversas funções ao longo da história do cinema, Ida é pouco conhecida e lembrada pelo público em geral. É necessário corrigir isso”, conta. Já o crítico de cinema e mestre em literatura Ailton Monteiro conta que os filmes não representam o que a sociedade machista espera de obras dirigidas por uma mulher. “Mas, sem querer entrar na questão do gênero, até por não ser conhecedor das teorias, as obras em si são suficientemente intensas, elegantes e ainda possuem um trabalho de direção e de movimentação de câmera bastante ousados para a época. Isso dentro daquele estilo seco, rápido e eficiente dos melhores filmes noir. Lupino trabalhou numa clássica Hollywood que representava um ambiente hostil para as mulheres na sétima arte. Uma tendência da qual o mercado não se libertou completamente”, pontua. 

 

Serviço

 

Vila das Artes


Onde: Rua 24 de Maio, 1221, Centro


Entrada gratuita


Not Wanted (1949)


Quando: hoje, 6, às 18h30min


Debatedora: Camilla Osório, realizadora formada em Cinema e Audiovisual pela UFC


Sobre o filme: Considerado o primeiro longa-metragem dirigido por Ida Lupino. Ela assumiu a direção após a morte do diretor anterior, Elmer Clifton, mas acabou não sendo creditada. A obra fala sobre obsessão amorosa e profissional


O Mundo É O Culpado (1950)


Quando: dia 13, às 18h30min


Debatedora: Beatriz Saldanha, mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi


Sobre o filme: O longa aborda a temática do estupro de uma maneira bastante ousada para o período de restrições do Código Hays (censura norte-americana)


Laços de Sangue (1951)


Quando: dia 20, às 18h30min


Debatedora: Grenda Costa, realizadora formada em Cinema e Audiovisual pela UFC


Sobre o filme: A obra procura questionar a dependência familiar através da história de uma tenista que se encontra em confronto com uma mãe controladora


O Mundo Odeia-me (1953)


Quando: dia 27, às 18h30min


Debatedor: Ailton Monteiro, Mestre em Literatura Comparada pela UFC


Sobre o filme: Ida Lupino dimensiona o universo masculino por meio da figura de um assassino em série de homens

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