Logo O POVO+
O ano do mulheriu
Vida & Arte

O ano do mulheriu

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

O ano que acaba foi muito bem utilizado pelas mulheres. Artistas veteranas e novatas no mercado ganharam destaque ainda maior na cena cultural. É fato que, historicamente, os homens permanecem com uma fatia maior no meio artístico. Eles são mais publicados por editoras, dirigem mais filmes, têm mais papéis principais no teatro e na televisão e, além disso, recebem cachês mais altos. Mas os inegáveis talentos e trabalhos femininos estão sendo reconhecidos sob outras óticas. E 2017 vivenciou apenas a explosão de um processo artístico que já acontece há anos e vai vociferar ainda mais.


Alguns eventos pontuais deram propulsão à notoriedade e à importância das mulheres no campo artístico. A norte-americana Viola Davis levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel em Fences - Um Limite entre nós; a escritora Hilda Hilst foi escolhida como homenageada para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) do próximo ano; a diretora Patty Jenkins lançou Mulher-Maravilha após 14 anos do seu último filme e arrebatou corações (e bilheterias) ao redor do mundo, tendo como intérprete da protagonista a atriz Gal Gadot.


Esses momentos reforçam um pensamento: nós precisamos de representatividade. E essa necessidade não vem apenas de uma dívida histórica ou de um cumprimento de cota. Pois a arte feita por mulheres é relevante, é potente, é incrível e tem uma qualidade artística, técnica e estética incontestável.


As artistas locais também fizeram o ano. Nas feiras e nos movimentos de economia criativa, elas comercializaram produtos artesanais e objetos estéticos. Fernanda Meireles, Bruna Bortolotti, Luci Sacoleira, Simone Barreto e Tereza Dequinta são apenas algumas das mulheres que protagonizaram esses momentos.


Ao longo de 2017, algumas escritoras merecem menção honrosa. A indiana Rupi Kaur se tornou um fenômeno editorial com o livro de poesias Outros jeitos de usar a boca (Milk and Honey, em inglês), publicado no Brasil pela Editora Planeta. Vivendo no Canadá desde a infância, a autora comandou um processo que alguns ranzinzas apelidaram como “fraca revolução feminista”. O fato é que Rupi envolveu mulheres do mundo inteiro com seus escritos. Fez leitoras que não tinham a poesia nas suas estantes gostarem daqueles textos simples, diretos, sem academicismos. Os textos dela são, no melhor sentido da palavra, necessários. Rupi comanda uma revolução no interior de cada uma das suas leitoras. Para o próximo ano, há previsão do lançamento de The Sun and Her Flowers, segundo livro da escritora e já lançado no exterior.


Margaret Atwood, por sua vez, foi celebrada por leitores que descobriram sua obra. A autora de O Conto da Aia chegou a ser cotada para receber o Nobel de Literatura, que acabou para as mãos do escritor Kazuo Ishiguro. Com novas edições de livros antigos sendo lançadas no Brasil, Margaret ficou conhecida por uma escrita certeira nas descrições e por personagens bem construídos.


A cena regional também foi particularmente marcada pelas escritoras. Marília Lovatel e Ana Miranda figuraram no Prêmio Jabuti; Nina Rizzi lançou o seu livro Quando vieres ver um banzo cor de fogo pela Editora Patuá, com reverberações nacionais e aprovação da crítica; Socorro Acioli agitou a Cidade com seus ateliês de escrita criativa, além de ter lançado seu primeiro livro de contos; a artista visual Raisa Christina encantou leitores com os textos e as ilustrações do blog Corpo Sonoro.


O ano também foi dos clubes de leitura. Em Fortaleza, há reuniões sobre diferentes autores, livros, gêneros e vertentes literárias. Em livrarias e centros culturais, os leitores aproveitaram os momentos de encontro. Leia Mulheres, Clube de Leitura da Sublime, Clube de Destaque para as mediações femininas. Contra todas as queixas e contra todos os rabugentos, não há como negar: 2017 foi das mulheres, 2018 será mais ainda.

O que você achou desse conteúdo?