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Editora Zahar lança livro sobre sua trajetória de 60 anos
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Editora Zahar lança livro sobre sua trajetória de 60 anos

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Cristina Zahar tinha cinco anos quando seu pai, Jorge, publicou o primeiro livro da Zahar Editores. Era 1957 e chegava às livrarias Manual de Sociologia, de Jay Rumney e Joseph Maier, obra que inaugurava a Biblioteca de Ciências Sociais — coleção que ajudaria a colocar a editora num lugar central na academia e no mercado editorial.


Ela não guarda uma primeira memória da editora talvez, ela diz, porque cresceu cercada por livros. Antes da Zahar e antes do nascimento de Cristina, já existia a Livraria Ler, de Jorge e seus irmãos. Antes ainda, ele trabalhou na Herrera & Cia., distribuidora e importadora de livros, revistas e publicações técnicas. Foi ali que a vida entre livros começou — e o tempo dos subempregos deste filho de imigrantes que teve uma infância pobre, que distribuiu panfletos, deu corda em relógios, espremeu cana e vendeu artigos de Carnaval no subúrbio carioca — e que não pôde frequentar a universidade — chegava ao fim.


Acompanhamos essa evolução e tudo o mais que veio depois em A Marca do Z, livro em que o jornalista Paulo Roberto Pires resgata a história do editor, que se confunde com a história da editora. O lançamento marca os 60 anos da casa.


A Manual de Sociologia seguiram-se muitas outras obras que preencheriam lacunas históricas nas livrarias e bibliotecas universitárias e ajudariam na formação intelectual do brasileiro.

Ciências sociais e políticas, psicanálise, música... Tudo em edições bem cuidadas, com boa tradução. Assim tem sido a trajetória da editora que foi administrada por seu fundador até a morte, em 1998, e segue sob o comando de Cristina, hoje diretora editorial, e de sua filha, Mariana, diretora executiva, que já trabalhavam a seu lado.

Muita coisa mudou, mas 4 mil títulos depois, a essência é a mesma.


“Continuamos uma editora independente - este um pilar fundamental - e de fundo de catálogo. Guardada a proporção dos tempos, seguimos os mesmos critérios de qualidade na publicação e princípios de atuação no mercado editorial. E o compromisso com a história da editora é total”, conta Cristina. A linha se expandiu e aquela editora de perfil acadêmico tornou-se mais cultural, comenta.


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é hoje o autor best-seller da Zahar, com 650 mil exemplares vendidos. Publicado pela primeira vez nos anos 1970 por Jorge, Bauman foi, depois, uma aposta de Cristina que comprou, para a surpresa do pai, vários títulos de uma vez — coisa rara no mercado editorial na época e um dos fatores decisivos para a manutenção do autor exclusivamente em seu catálogo. Isso, um pouco antes de ele criar seu conceito }de liquidez.


O livro mais vendido é Alice. A edição de clássicos por esta editora de não ficção foi outro importante marco e deu origem a uma coleção que é referência hoje. Primeiro, sai uma edição em grande formato, com o texto integral, às vezes ilustrações originais, e comentários.

Depois, é lançada uma edição de bolso, também em capa dura, mas mais barata. De Alice, foram vendidos 262 mil exemplares. A coleção Clássicos Zahar foi mesmo um marco, reconhece Cristina, assim como foi o selo Pequena Zahar, criado em 2013 para publicar obras infantis e juvenis. Os dois atraíram leitores mais jovens para a editora. Mas ela cita ainda outros três momentos.


A publicação de História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman; a coleção Antropologia Social, dirigida por Gilberto Velho; a obra de Norbert Elias e a obra de Bauman marcam a presença definitiva na edição de ciências sociais. Já o lançamento da obra de Lacan (Seminários, Escritos, Outros Escritos), diz ela, confirma o papel determinante da editora no estudo da psicanálise no Brasil. Por fim, Dicionário Grove de Música e Kobbé: O Livro Completo da Ópera, dos anos 1990, também são destaques. “Ao unir obras de referência e música, retratam duas áreas de nossa linha editorial que continuam sem paralelo no mercado aqui”, ressalta a editora, que começou a trabalhar com o pai ao voltar de um autoexílio na Inglaterra, para onde foi durante a ditadura militar. (Ag. Estado)

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