No início dos anos 1980, Dedé, Mussum e Zacarias se afastaram do cearense para criar a DeMuZa, produtora de cinema que lançaria o longa Atrapalhando a Suate - sem Didi no elenco. A separação ganhou as páginas de jornais e revistas de todo o País e não demoraram a aparecer teorias sobre a dificuldade de relacionamento do quarteto. Pouco tempo depois, encerraram as atividades da DeMuZa e voltaram a se unir.
Jáder Santana - Muito se falou sobre a relação dos quatro Trapalhões. Vocês realmente tinham uma boa convivência?
Renato - A gente se respeitava. Cada um tinha seu tipo de humor.
Rodrigo - A generosidade dele como escritor é tanta que ele bolava o quadro sem precisar estar nele. Se você pega a história do programa, todos eles tinham quadros sozinhos.
Renato - A disciplina foi muito importante para mim. Disciplina e o senso de equipe. Tinha que respeitar o campo do outro, o estilo do outro.
JD - E a história da DeMuZa?
Rodrigo - Essa é um episódio muito à parte. Foi o período de cerca de um ano da folclórica separação dos Trapalhões. Eu queria desmistificar esse minuto de briga, de desavença, descontrole. Você pode ver, o Renato é um cara marcado pela cordialidade. Se você olha pra ele e diz que vai tentar carreira solo, ele vai te desejar boa sorte.
Renato - Eles queriam fazer um filme deles. “Vão, podem ir, eu seguro aqui sozinho, vou começando outras coisas”. Mas não deu outra. Depois de nove meses eles voltaram.
[FOTO2]JD - E de onde surgiram essas histórias de desavenças?
Rodrigo - Qualquer coisa que faça sucesso no Brasil vai criar inveja. O cuidado que ele teve de fazer esse livro em vida é pra evitar que saísse uma biografia inventando o que não existe, entortando as coisas.Renato - É tudo sincero, pode perguntar a todos eles.
JD - Em algum momento da tua carreira você desejou desaparecer desse mundo de fofocas e voltar a ter aquela vidinha de Sobral?
Renato - Não, que é isso? Eu quero é corresponder a esse carinho. Não sei aonde vou chegar com tanto fãs. Quero é agradecer o carinho de sempre. Nunca virei as costas pra um fã, nem naquela época dos autógrafos. Era difícil, pediam pra escrever meu nome num pedaço de guardanapo.JD - Sempre conviveu bem com a fama?
Renato - Se saio de casa, tenho que atender a todo mundo. E graças a Deus chegou o celular e agora é só foto, não tem mais autógrafo.JD - Hoje em dia está mais difícil fazer humor?
Renato - Tá não. Pra mim, não. A mesma coisa que fiz ontem, eu faço hoje. Não mudou nada.JD - E o politicamente correto?
Renato - Isso é folclore. Tem que respeitar todo mundo.Lilian, que acompanhava a entrevista atentamente, sorrindo a cada piada de Renato, precisa sair da sala para atender uma ligação.
JD - E a relação com a Lilian? O que ela te ensinou?
Renato - Tudo. Minha mulher é tudo pra mim hoje em dia. É espelho, é amiga, é amante, é empresária. Ela é tudo, faz tudo pra mim. Eu tenho uma mulher que me ajuda e que me ama, pô. Minha vida agora tá nas mãos dela. Ela é tudo. Ela que organiza essas reuniões, filtra os telefonemas, fala com os repórteres. Chega pra mim com tudo pronto. E ainda é mãe.
Renato Aragão: do Ceará para o coração do Brasil
De Rodrigo Fonseca304 páginas
Editora SextanteQuanto: R$ 49