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O som do Brasil: da MPB ao candomblé
Vida & Arte

O som do Brasil: da MPB ao candomblé

Oferecendo masterclass hoje à noite no Porto Iracema das Artes, o cantor e produtor Arto Lindsay conversou com o Vida&Arte sobre parcerias e música brasileira
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Arto Lindsay é norte-americano, nascido no estado de Virgínia, mas é também brasileiro. Dono de um português sem marcas de sotaque, o artista, conhecido em especial pela atuação como produtor musical, veio morar no Brasil ainda bebê, ficando até os 17, quando foi estudar e trabalhar fora. De volta ao País há 15 anos, Arto tem com a música nacional uma relação direta e atenta: entre Marisa Monte e Caetano Veloso, já produziu e estabeleceu parcerias com diversos artistas daqui. Em Fortaleza, o produtor musical orienta a pesquisa do projeto Ode ao Mar Atlântico, dos artistas cearenses Eric Barbosa, Éden Barbosa e Eduardo Escarpinelli, selecionados no Laboratório de Música 2017 do Porto Iracema das Artes. Hoje, às 19 horas, o produtor musical ministrará na escola a masterclass “Se a música é uma casa, o que é que está no telhado?”.


O POVO – Qual será o foco da masterclass?


Arto Lindsay – Eu vou falar sobre a relação entre a música e outras formas de arte, de uma maneira geral. O nome da masterclass é destacado do conteúdo, é para instigar, criar curiosidade. Sem explicar muito ainda, falarei também sobre a forma e o conteúdo na música, da relação entre letra e música, como isso influi na relação das pessoas com ela.


OP – Você tem parcerias musicais que vão de Laurie Anderson a Marisa Monte, passando por Caetano Veloso e David Byrne. O que te leva a estabelecer uma parceria com alguém? Quais os diferenciais desses artistas?

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Lindsay – Para mim, e acho que para outras pessoas também, as parcerias se constroem, não é algo que se saia em busca. E a música é feita de parcerias. Até quando uma pessoa senta sozinha em casa e compõe, para depois subir ao palco e cantar, há uma parceria com o público. Geralmente, porém, ela é feita em grupo, gente que se junta em banda, orquestra, samba de roda. É algo comunitário. Nas coisas que eu faço tenho levado isso adiante, de alguma forma me “especializei” em parcerias, gosto da ideia de fazer música com as pessoas. A parceria boa não é a da soma, é aquela que cria uma terceira coisa. A parceria com o Ode ao Mar Atlântico só surgiu porque fizemos juntos, eles não teriam feito o que está sendo feito sem mim e nem eu sem eles. Colocar a ênfase no “junto” é importante.


OP – Da nova geração da música brasileira, o que você está acompanhando e te chama atenção?


Lindsay – Muitas coisas. Estou adorando conhecer o trabalho dos meninos do Porto. Tem também outro projeto lá, o Sila-Crvs A.O.A. Eu conheço muito bem uma turma que tem uns 35 para 40 anos, que acompanho há bastante tempo: o Siba, o Lucas Santtana, tem muita gente dessa geração, que já é mais velha. Da geração mais nova, tenho pouco contato pessoal, mas escuto. Tento estar sempre atento ao que está acontecendo de novo. Músico sempre quer ouvir as novidades pelo prazer de conhecer.


OP – Como você avalia a relação da música brasileira com o estrangeiro?


Lindsay – É um fluxo constante. A música brasileira foi formada, de alguma maneira, por influências internacionais, vindas da Europa para o Brasil, da África para o Brasil, elementos “estranhos”, de fora.

A música indígena foi esquecida, ignorada, só mais recentemente, do século XX para cá, que ela passou a interessar às pessoas. Mas a música brasileira tem grande influência lá fora. Sabemos que a bossa nova aprendeu com o jazz, mas depois ela ensinou muito para ele. A própria MPB, uma das principais fontes dela sendo o tropicalismo, teve uma relação estreita com a música internacional. É um fluxo, as coisas vêm pra cá, vão daqui, é natural. Nos últimos 20 anos, as pessoas de fora se interessam e conhecem bastante a música brasileira, não só as figuras mais destacadas, como o pessoal da bossa nova, o Milton Nascimento, mas o funk, o forró. Lá fora, há a noção da riqueza da música daqui.


OP – Com a vivência em Fortaleza, o quê você destaca da música local? Como está sendo o processo de tutoria no Porto Iracema?


Lindsay – Uma coisa que chamou minha atenção, e é exatamente uma das áreas pesquisadas pelo pessoal do projeto, é a música de umbanda e candomblé do Ceará. A primeira vez que eu visitei Fortaleza foi durante a festa de Iemanjá, e ouvi as pessoas tocando tambores, coisas maravilhosas, bem particulares. O projeto Ode ao Mar Atlântico abrange áreas que me interessam, que são as instalações sonoras, a materialidade do som, tratar o som como um elemento cênico, digamos assim. Existem muitas coincidências de interesse entre o que os músicos do projeto trabalham e o que eu faço, a nossa conversa foi muito proveitosa para os dois lados. Gosto do formato do Porto Iracema. Tive a chance de conversar com o Karim (Aïnouz, cineasta cearense e um dos tutores do Laboratório de Audiovisual da escola) e gostaria de dar uma olhada no pessoal de dança, mas não tive tempo ainda. Gostei muito desse modelo, dessa maneira de trabalhar.

 

Serviço

 

Masterclass Se a música é uma casa, o que é que está no telhado?


Quando: hoje, às 19 horas


Onde: Auditório do Porto (Rua Dragão do Mar, 160,

Praia de Iracema)


Gratuito

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