“A arte é uma ferramenta muito forte para criar a união da sociedade.” É nisso que acredita o artista mexicano Libre Gutierrez, que ao lado de outras dezenas de artistas tenta levar cores novas para o Centro Socioeducativo do Passaré. O intuito é não só colorir as paredes e estruturas do lugar, mas expandir horizontes e criar novas paisagens para quem convive com o lugar.
Isso tudo se materializa na estrutura de madeira e metal com quase quatro metros construída por cinco internos ao lado de Libre Gutierrez. Batizada de Coração a obra está guardada na garagem do Centro Socioeducativo, mas deve ser levada para a Praia de Iracema quando estiver finalizada. Foi proposta pelo mexicano, mas adotada pelos jovens que, além da montagem e pintura, ficaram responsáveis pela criação de pequenas casas de madeira grudadas no Coração, cada uma com o nome de um deles.
[QUOTE1]“É um pouco de nós, uma coisa que nós construímos”, define um dos jovens de 17 anos. Ao lado dos colegas, ele levanta a obra com cuidado e se orgulha do que construiu. “Mostra que nós podemos mudar, que vamos sair daqui diferentes”, ele fala, esperançoso. Conta que Libre Gutierrez levou o material na última quarta-feira, 15, e que desde então trabalha diariamente ao lado dos internos, orientando a produção.
Se a crença do mexicano é de que a arte é um diálogo, a construção do Coração é a concretização dessa união. Os artistas e os internos trabalham e se divertem em uma sincronia de bons amigos. Quando a equipe de reportagem tinha dúvidas sobre o que falava o mexicano, os jovens traduziam rapidamente a partir do espanhol que aprenderam em uma semana. Quando Libre reclama de um detalhe na obra, um dos adolescentes logo aponta o defeito e sugere outro tipo de parafuso.
[FOTO2][FOTO3]Na próxima sexta-feira, 24, a obra vai ganhar ainda mais uma camada de sentido. Os cinco jovens vão receber pincéis e poderão escreve mensagens na estrutura. Depois disso, o Coração dos jovens do Passaré vai ser fixado na área nobre de Fortaleza. “É um legado deles para a sociedade”, explica Libre. “Eles existem e são parte da sociedade, tem um coração”.
As cores no Concreto
A quarta edição do Festival Concreto acontece até o próximo domingo, 26, com intervenções, pinturas de murais e oficinas espalhadas por diversos lugares da Cidade. No Passaré, as pinturas são realizadas em muros espalhados pelo bairro e nas paredes do Centro Socioeducativo.
“A galera do bairro tem sido bem acolhedora, passa e pergunta sobre a obra, especialmente as crianças”, explica o paraense Dedeh Farias, que trabalha em um mural há três dias na parte externa do Centro. O desenho que se forma na parede é de um homem com um enorme peixe na mão, uma história que ele diz trazer da ilha de Marajó, no Pará. A pintura deve estar completa em dois ou três dias, segundo ele.
Não muito longe, um grupo de crianças brinca apontando para esse e outros murais e dizendo coisas como “vai ficar lindo” ou “qual é o nome desta boneca?”. Dedeh comemora o contato, dizendo que o festival expande os horizontes destes jovens e da comunidade em geral.