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Os desafios do Porto Iracema para o futuro
Vida & Arte

Os desafios do Porto Iracema para o futuro

Vivendo momento de efervescência, Escola Porto Iracema das Artes luta para manter continuidade
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Desde que foi inaugurada, a Escola Porto Iracema das Artes vive a busca pela continuidade no cenário cearense. Nascido para retomar a experiência formativa do Instituto Dragão do Mar, espaço que de 1996 a 2003 movimentou o Estado com cursos, o equipamento cultural tem sua permanência atravessada pela extinção do projeto antecessor. “A continuidade do Porto é garantida pela conquista de um prestígio social, de um reconhecimento pela sociedade da importância da Escola. Esse prestígio normalmente se conquista lentamente, não é uma coisa dada”, avalia Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar e idealizador do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.


“O campo das artes é um campo de provação o tempo todo por ser um espaço de transgressão. O que garante a continuidade é a função social que uma escola como essa ocupa no seu percurso”, avalia Bete Jaguaribe, gestora do espaço, ponderando que “no Brasil, política pública nenhuma está imune”. Para ela, essa função social passa diretamente pelo ato de escancarar ainda mais as portas do espaço e levar as experiências do Porto para outros locais. “Estamos definindo uma ação conjunta nos territórios do (programa) Ceará Pacífico para pensar um programa conjunto de oficinas artísticas em bairros como o Vicente Pinzón, onde já tivemos uma experiência piloto de oferecer formação para os jovens de lá”, conta Bete, apontando que a ideia é, nos próximos meses, ampliar essas atividades do Porto para além da Praia de Iracema.


Para a gestora, os públicos fortalezenses têm se interessado cada vez mais em fazer parte das atividades do Porto. “A ideia é que a Cidade se aproprie da Escola para que no futuro a possibilidade de fechamento se torne mais difícil”, explica. Ela avalia que, diferentemente do cenário de 2003 (quando o Instituto fechou as portas das salas de aula), o Estado vive hoje momento diferente quando o assunto é olhar para atividades culturais. “O campo cultural está mais ativo, complexo. Hoje tem mais cursos universitários de arte e os atores do campo cultural estão prontos para defender nossas conquistas”, aponta.

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Para Linhares, o ano de 2018 será de “consolidação de expertises” do Porto. Ele aponta dois grandes eixos que norteiam os projetos futuros: documentação e nacionalização. “Precisamos fortalecer essa compreensão do modelo formativo do ponto de vista da documentação dessa experiência pedagógica que vivemos aqui. A ideia é transformar nosso plano (pedagógico) em livro”, detalha, adiantando que ainda este ano será lançada a revista do Dragão do Mar, publicação que trará textos que refletem sobre experiências como a do Porto.


Sobre nacionalização, o gestor aponta que a ideia é promover circulação pelo País dos artistas que passaram pelos laboratórios da Escola, a partir de parcerias entre o equipamento cearense e instituições Brasil afora. No ano que vem, adianta Paulo, há ainda o desejo de que o Porto sedie um encontro internacional de escolas de formação artística.


Para a banda Projeto Rivera, que passou pelo Laboratório de Música em 2016, a busca pela nacionalização já é uma realidade. “O primeiro impacto de participar do laboratório foi tirar a banda da zona de convívio e colocar a gente em contato com artistas do cenário nacional. A experiência no Porto ampliou muito nosso ponto de vista”, celebra Victor Calíope, vocalista do grupo, que este ano foi selecionado para se apresentar no Rock In Rio. “Através do Porto conseguimos mostrar nosso trabalho e dialogar com outras linguagens artísticas”, comemora, desejando “vida longa” às atividades da Escola.

Renato Abê

 

ALUNOS

No levantamento mais recente, realizado em abril de 2017


94,75%

têm entre 16 e 29 anos

 

86,5%

vêm de instituições de ensino da rede pública

 

BATE PRONTO


Andrei Bessa, encenador e performer que integrou Laboratório de Teatro em 2016 e hoje coordena essa ação formativa


O POVO - Como a experiência de laboratório pode refletir em ações que extrapolam os projetos contemplados?

Andrei Bessa- O laboratório tem uma característica diferencial no seu planejamento e programa pedagógico que é a liberdade da criação, que é o artista pautar as suas próprias questões. A gente começa a ver os grupos montando outros trabalhos posteriormente ao laboratório e percebe quanto isso reflete, é uma curva no processo de criação, de estabelecimento dos grupos, dos artistas.

OP - Por que é importante que uma escola pública de arte esteja de portas abertas num momento como esse em que o País “discute” o fazer artístico a partir de tensionamentos políticos?

Andrei- O Porto é interessado no processo de criação, que é uma característica que faz com que ele seja um projeto único no Brasil. Temos um espaço que vislumbra abrigar processos criativos e não apenas carimbar produtos artísticos e isso é muito rico e importante principalmente nesse momento que a gente está passando. O Porto é um espaço para a gente estar junto, discutindo, debatendo. Assim, a gente consegue possibilidades de continuarmos exercendo nossa arte como deve ser e não pautada em projetos políticos partidários. Acaba sendo um lugar para a gente se alimentar do que está acontecendo para fortalecer discursos e estéticas.

 

SAIBA MAIS


Expansão para Interior


A Escola Porto Iracema das Artes lançou esta semana o programa “A Barca - travessias do Porto”, cujo objetivo é expandir a atuação da escola para o interior do Estado por meio de oficinas, vivências, palestras, performances e aberturas de processos. A primeira ação do programa aconteceu no último fim de semana, em Itapipoca, com imersão coletiva dos projetos Afrontamento e Ode ao Mar Atlântico, do Laboratório de Dança, junto à Cia Balé Baião; à comunidade quilombola Águas Pretas; e à Casa Ilê Axé Ogum.


A segunda edição do “A Barca” já está sendo articulada para o mês de novembro, no município de Paracuru, com projetos dos Laboratórios de Música, Teatro e Dança.


“Essas parcerias com projetos do Interior nascem da demanda dos artistas de propor encontros de propostas estéticas”, aponta Bete Jaguaribe, diretora do Porto Iracema. Segundo a gestora, a proposta não é “exportar” simplesmente o que tem sido feito na Capital, mas promover trocas que beneficiem os projetos daqui e das diferentes cidades. “O programa de formação tem que ser construído a partir dos interesses que ligam as experiências do município com as do Porto”, diz, destacando que o objetivo é ampliar essas trocas pelas regiões cearenses.

Renato Abê

 

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