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Especial Antônio Bandeira. Museu abrigo
Vida & Arte

Especial Antônio Bandeira. Museu abrigo

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Antônio Bandeira foi o primeiro pintor a ter uma exposição solo no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc-UFC). Menos de um mês após a abertura do espaço, em 1961, o abstracionista estampou as paredes do recém-inaugurado equipamento com uma sequência de 33 quadros. Atualmente, 40 obras compõem o acervo de Bandeira no Mauc, considerado o mais respeitado conjunto público do artista no País, segundo Pedro Eymar, diretor do museu.
O acervo – explica Pedro – é primordialmente abstracionista. Estão no museu, disponíveis para visitação, obras icônicas como Cidade queimada de sol (1959) e Retrato de menino (1942). A presença constante de Bandeira na universidade é atribuída à estreita amizade dele com o reitor Antônio Martins Filho, que, diz Pedro, trabalhou com editoração e com grupos como Clã e Scap.
“Há uma ligação dos dois movimentos em Fortaleza: da Scap, que era de artes plásticas, e do Grupo Clã, que era da literatura. O Martins atuava na editoração e era frequente a presença dos artistas, dos pintores e dos ilustradores nesses espaços”, explica Pedro.

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Em 1963, durante uma das passagens pelo Brasil, Bandeira volta a expor no Mauc. Foram três eventos ao longo do ano - incluindo nova exposição individual - que deixou de herança mais um quadro ao museu. Pouco depois, a UFC recebeu uma obra doada pelo intelectual Ismael Pordeus. “As histórias dizem que o Martins queria comprar, mas o Pordeus chegou com o quadro embaixo de braço e presenteou”, relata Pedro. Cinco obras do acervo vêm de um álbum de serigrafia feito por Bandeira na Argentina, em 1960. Há, ainda, o icônico quadro Cidade em festa (1961), óleo sobre tela feito ali mesmo, nas dependências do museu.
 

“O Mauc é fruto de um diálogo internacional, porque o Martins Filho vai encontrar o Bandeira na França e nesse lugar se fortalece a necessidade e se potencializar a ideia de construir no Ceará um museu de arte”, diz a estudiosa Carolina Ruoso. Viajando com alunos e professores, Martins Filho chega a Paris e procura Bandeira, que guia o grupo por museus. Mas, além dos encontros no Exterior, o contato entre o reitor e o pintor foi reforçado por longas cartas.
Além dos quadros, o Mauc abriga ainda fotografias, catálogos de exposições, textos de críticos, jornais e revistas que fizeram menção à obra de Bandeira ao longo do tempo. Lá estão também registros do pintor posando, de paletó e gravata, ao lado do reitor durante as exposições de 1961 e 1963. Em uma das imagens, os dois aparecem em um solene aperto de mãos com o quadro Cidade queimada de sol ao fundo. Um registro que mostra como a amizade fomentou o mais belo acervo público de Bandeira no Brasil.  

 

Saiba mais

 

O Mauc foi inaugurado
com exposição coletiva em 25 de junho de 1961, mas, em 15 de julho do mesmo ano, era aberta exposição individual de Bandeira. A mostra teve destaque nos cenários artísticos nacionais – com a presença de intelectuais e críticos como Orlando Mota, Eneida de Morais, Augusto Rodrigues, Paulo Silveira, Mauritônio Meira, Aluísio Medeiros, Alcides Pinto, Goebel Weyne, Walmir Ayala e Fausto Cunha. O prédio do museu, com suas varandas e mangueirais, abrigava o Colégio Santa Cecília.
 

O pintor Antônio Bandeira fez a doação de quatro óleos sobre tela  para o Mauc, em 18 de julho de 1961: Cidade queimada de sol, Selva noturna, Grande cidade vertical e Paisagem azul. As obras foram pintadas entre 1959 e 1960. Em correspondência endereçada a Antônio Martins Filho, então reitor da UFC, o abstracionista diz que louva a iniciativa da universidade e que o recém-inaugurado equipamento iria elevar ainda mais o nível cultural do Ceará.
 

Os grupos Clube de Literatura e Arte (Clã) e Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap) surgiram na década de 1940, em Fortaleza. Com diálogos permanentes entre os dois, eles executaram trabalhos em parceria e deram destaque às produções do abstracionista cearense. O pintor Antônio Bandeira é citado, entrevistado e tem a obra visitada em diversas edições da Revista Clã. Atualmente, os textos estão disponíveis para consulta de pesquisadores e do público no acervo do Mauc. 

 

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