O conceito de distopia já não é novidade no audiovisual e na literatura. Essa noção de um não-futuro em que se vive em situações extremas está presente em produtos de sucesso a exemplo do filme hollywoodiano Mad Max ou do romance The Handmaid’s Tale (que deu origem à série de TV homônima). Para a artista visual Mariana Smith, porém, rastros de uma distopia não tão distante assim estão presentes em detalhes que podem ser vistos no presente. Paulista radicada na Ceará, ela abre hoje, no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a exposição Memórias do Futuro em Ruínas.
A artista apresenta um olhar sobre o litoral cearense a partir de observação das dunas da Praia do Futuro e de como o movimento delas revela a interferência humana. “A distopia do projeto futurista é deflagrada em ruínas e fragmentos de uma arqueologia que emerge das dunas e nos conecta a outro tempo, ainda presente”, conceitua Mariana. A partir de fotografias, instalações e vídeos, a exposição mergulha na formação das dunas e no que essa paisagem revela.
[QUOTE1]Em Memórias do Futuro em Ruínas, outro elemento, ainda mais difícil de ser capturado pelas lentes, é protagonista: o vento. “O fato de morar em Fortaleza, que é uma terra de ventos, me fez perceber essa presença permanente que não deixa a gente esquecer do tempo. A ventania é o anúncio do futuro que está por vir. O vento move, transforma e, ao mesmo tempo, desvela coisas”, aponta a artista.
Para compor essa mostra que trata de temas tão intangíveis, Mariana se apegou a elementos geográficos e arqueológicos. Nascida nos estudos de mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a pesquisa se centra nessa paisagem que vem se formando há milhares de anos na costa do litoral cearense. “Eu olho para o campo de dunas para olhar para a cidade de Fortaleza. O bairro Praia do Futuro foi construído em cima de um campo de dunas para ser o bairro do futuro, como aconteceu em outras cidades como o Rio, com a Barra da Tijuca,. Mas hoje há uma tomada de força da natureza e já aparecem as ruínas”, examina.
Para a artista, a ocupação do litoral apresenta modificações irreversíveis. “O homem que está destruindo a natureza está se autodestruindo. Isso é real e concreto no presente. A área do Cocó é o último resquício de dunas que temos na Cidade”, aponta, destacando a importância de a sociedade se mobilizar para garantir proteção ambiental do espaço. “É uma discussão anacrônica essa sobre a proteção das dunas do Cocó”, arremata. Para ela, o importante é reparar nessas ruínas, simbólicas e efetivas, do tempo presente. “Que futuro é esse que a gente está construindo?”, provoca.
Exposição Memórias do futuro em ruínas
Onde: piso intermediário do Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Programação gratuita