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Focus apela para memória afeitva do público
Vida & Arte

Focus apela para memória afeitva do público

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Henrique Rochelle

ESPECIAL PARA O POVO
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Não há dúvida: para o público, há (muito) espaço para dança como diversão despretensiosa. Esse é o lugar de As Canções Que Você Dançou Pra Mim, que revisita um catálogo de músicas de Roberto Carlos, para uma cena leve e de fácil digestão.


A coreografia de Alex Neoral, estruturada em cenas curtas que vão acompanhando a transição quase vertiginosa entre as canções, evidencia a característica repetitiva das músicas, que o tempo todo retomam palavras, temas e estruturas.


Há algo de específico em como o coreógrafo relaciona os corpos do elenco, especialmente numa exploração de carregamentos que é quase uma assinatura sua. Na melhor das cenas vemos um duo com bailarinos se beijando, e a coreografia precisa encontrar formas de se articular sem desgrudar os lábios.


O principal defeito na obra é a mixagem do som, com transições brutas entre as excessivas músicas da trilha. Os trechos que funcionam melhor são os de canções mais alongadas, sem os cortes que criam uma pressa por transições rápidas — que servem para ilustrar o catálogo do cantor, mas não ajudam em nada a dança.


Tratam-se de músicas de um imaginário coletivo e popular, e por isso mesmo precisam menos da exibição rápida e mais do aprofundamento, de um processo que lhes dê sentidos através da dança, o que é pouco realizado.


Mais ao final, os bailarinos começam insistentes cenas de interação com a plateia, que, junto dos figurinos datados, das bolas de espelho, da iluminação de show, e da própria trilha sonora, aumentam a aura kitsch do todo.


O espetáculo é bom entretenimento, mas pede um pouco menos de enfeites (e músicas), e mais desenvolvimento e substância, para ser mais sucinto e coeso, sem depender de que as canções apelem para a memória afetiva do público — o que ocorre, e causa uma recepção grandiosa, mas que não é pela dança.


No formato assistido, o título da obra nos trai, porque o que mais importa ali não é o “dançar”, mas as “canções”, e aí entramos num terreno perigoso para uma companhia notável como a Focus.


Henrique Rochelle é crítico de dança, editor dos sites Da Quarta Parede e Criticatividade e Doutor em Artes da Cena pela Unicamp.

 

SAIBA MAIS

 

XI Bienal Internacional de Dança do Ceará acontece até o dia 29 de outubro em vários palcos da Capital e de cidades do Interior. Até lá, o V&A publica textos do crítico de dança Henrique Rochelle, sobre alguns dos espetáculos que ele tem acompanhado.

 

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