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Especial Antônio Bandeira. Epifania de longa duração
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Especial Antônio Bandeira. Epifania de longa duração

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A partida precoce de Antônio Bandeira, aos 45 anos, mudou os rumos de uma carreira em franca ascensão. Diferentemente de outros nomes da história da arte, que conseguiram ampla notoriedade somente após a morte, o cearense conquistou múltiplos olhares em vida. “Ele fez muito sucesso enquanto estava vivo, justamente por se alinhar com essa tendência à abstração informal, que crescia”, aponta Regina Teixeira de Barros, curadora da mostra Antônio Bandeira: um abstracionista amigo da vida. Ela, porém, destaca certo apagamento nas primeiras décadas pós-morte do pintor. “A abstração informal havia perdido terreno nos últimos anos para a abstração geométrica, mas agora está havendo um novo interesse por esse tipo de produção. Bandeira tem ganhado ainda mais visibilidade”, formula a pesquisadora.


“Eu tenho uma teoria muito pessoal de que se o Bandeira não tivesse morrido tão jovem hoje seria um dos pintores abstratos mais importantes do mundo”, projeta o curador e pesquisador Max Perlingeiro. “Em 1967, ele estava com duas grandes exposições já marcadas: uma em Bruxelas e outra em Nova York. A obra dele era muito apreciada, Bandeira desde cedo já tinha um posicionamento de mercado muito interessante” explica.


Segundo Perlingeiro, as grandes exposições realizadas nas últimas décadas têm feito o nome de Bandeira crescer em visibilidade e cotação. “A partir do anos 1980, você vê o crescimento. Nos anos 1990, a obra dele passa a ter um valor muito mais alto. Ele faz parte da constelação de artistas brasileiros com pinturas superiores a R$ 1 milhão. Ele tem um mercado consolidado”, detalha.


As cotações atuais do cearense só crescem. Na feira SP-Arte, em 2016, havia obra de Bandeira sendo vendida por R$ 9,5 milhões, o que o coloca no hall de grandes nomes com alto valor de venda como Lygia Clark, Cândido Portinari e Di Cavalcanti. Também ano passado, o escritório de arte Soraia Cals realizou leilão cujo catálogo tinha como capa a obra Sol sobre paisagem (Bandeira, 1962). O maior lance inicial era o dessa obra, com valor de R$ 1,25 milhão. Com o lançamento dos catálogos raisonné, esses valores devem aumentar, pois Bandeira entra para o time raro de artistas com esse tipo de publicação (hoje, apenas Alfredo Volpi, Portinari, Iberê Camargo, Tarsila do Amaral e Leonilson possuem catálogo semelhante).


Max aponta ainda que as últimas telas feitas pelo cearense indicavam novas rotas que o artista seguiria a partir dali. “No ateliê, tinha muitas obras inacabadas que sinalizavam como é que seria o Bandeira da próxima década. Tinha uma abstração mais apurada, a utilização de cores que não correspondiam à paleta inicial dele, que eram as cores primárias. Ele já estava usando obras com uma tonalidade bem diferente”, conta. Bandeira havia falado sobre alterações em entrevista à Revista Clã. “Não pode deixar de haver uma mudança (ou uma transformação) na pintura. Se alguém pinta o mesmo quadro cem vezes, haverá fatalmente uma modificação. O último quadro seria diferente do primeiro”.


Organizador do livro Antônio Bandeira e a poética das cores (2012), o jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho resume a importância da produção que Bandeira, que atravessa passado, presente e futuro. “A marca Bandeira é seminal para as artes cearenses. Foi nosso primeiro grande momento. Depois, vieram Sérvulo, Leonilson e colecionamos vitórias. Bandeira é uma epifania de longa duração. Instala uma nova visão de arte e de expressão. É tão único e pessoal, ainda que dialogue com Vieira da Silva e outros artistas do seu tempo. Superou a aldeia e se fez cidadão do mundo”, finaliza.


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