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Documentário aborda como elogios podem mudar estereótipos
Vida & Arte

Documentário aborda como elogios podem mudar estereótipos

Filme aborda como simples elogios ditos a uma criança podem ajudar a mudar estereótipos e contribuir com a igualdade de gênero
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Cinthia Medeiros

Enviada a São Paulo

cinthiamedeiros@opovo.com.br

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Como pode um simples elogio na infância ter efeitos negativos no desenvolvimento de uma pessoa? O que pode ter de errado em chamar uma menina de princesa linda e um menino de corajoso e inteligente?


Esses questionamentos foram o ponto de partida para a narrativa que conduz o documentário Repense o Elogio, lançado esta semana, em São Paulo. Dirigido por Estela Renner, que também assina obras como O Começo da Vida (2016) e Muito Além do Peso (2012) - ambos voltados para temáticas da infância -, o filme mostra como os adjetivos que usamos para agraciar uma menina ou um menino reforçam estereótipos de gênero e acabam por influenciar nas oportunidades dadas a cada um deles ao longo da vida. O documentário faz parte de uma campanha desenvolvida pela multinacional Avon, voltada para o empoderamento feminino e a igualdade entre os gêneros e está disponível na internet.


Um pesquisa realizada pela empresa em várias regiões do País apontou que quase 80% das palavras utilizadas por adultos para elogiar meninas são adjetivos relacionados à beleza, como linda, bonita, princesa. Quando se tratam de elogios direcionados a meninos, em 70% dos casos eles reforçam características ligadas à inteligência, à coragem, à esperteza. Com esses dados em mãos, Estela Renner escolheu três estados brasileiros - São Paulo, Paraná e Pernambuco - e foi ouvir, diretamente de crianças, adolescentes e adultos, suas percepções sobre o tema. Em algumas situações, o entrevistados foram convidados a escolher, entre uma lista de palavras dispostas sobre uma mesa, as que usariam para elogiar uma menina. Delicada, linda, vaidosa, princesa estiveram sempre entre as preferidas. Para os meninos, corajoso, forte, esperto e inteligente foram os adjetivos mais recorrentes.

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“Neste filme o rigor era falar de experiências pessoais e sentimento. Não fomos ouvir especialistas. O ponto de partida é: existe um desequilíbrio enorme entre elogios ditos as meninas e ditos aos meninos. O que isso representa? ”, provoca Estela.


Para a educadora Gabriela Tebet, convidada para o lançamento do documentário, essa abordagem é necessária por trazer questionamentos sobre o papel do elogio na produção da identidade. “As histórias, as brincadeiras, as piadas, os filmes, as imagens na parede das escolas, a decoração dos quartos das crianças, todos esses discursos constroem uma realidade. E estar aqui hoje discutindo o elogio, os discursos que a gente produz, é um passo que nos faz pensar em qual tem sido o nosso papel cotidianamente na reprodução de estereótipos e qual pode ser o nosso papel para superar essas desigualdades e para produzir uma sociedade mais justa e mais igualitária”, reforça a pedagoga.


Os depoimentos mostrados no filme são profundos. “Pra mim que tenho cabelos crespos e os traços mais grossos, eu nunca fui a princesa”, diz uma das adolescentes. “Quando a gente fala que a mulher é bonita, ela é bonita pra continuar nesse padrão que ela tem que ser bonita pra arrumar um marido e cuidar de casa”, emenda outra garota. “Eu sempre quis que me chamassem de heroína, de vencedora, não só de princesa”, “muitas vezes um elogio é uma projeção de padrão”, são outros desabafos feitos pelas jovens.


A rapper MC Soffia, de 13 anos, uma das vozes ouvidas no documentário, amplia a discussão: “A menina negra não é nem elogiada. Tem essa coisa das pessoas elogiarem meninas de um padrão só”, alerta. Soffia canta, desde os seis anos de idade, letras que falam sobre o empoderamento de meninas negras.


Meninos também são ouvidos. Um deles, ainda pequeno, manifesta a alegria de poder dançar balé. Outro, mais velho, fala sobre o desafio de manter a perfeição que a palavra sugere. Há os que questionam por que os meninos nunca são chamados de sensíveis.


Ao longo de 46 minutos, o documentário vai descortinando sentimentos, nos convencendo sobre o poder real da palavra. “Por isso consideramos tão importante repensar os elogios. Sabemos que as características atribuídas ao masculino são percebidas como superiores às atribuídas ao feminino. Quando lembramos que vivemos uma realidade machista em uma sociedade patriarcal, é fácil concluir que não é uma coincidência o fato que os meninos sejam chamados de campeões, inteligentes, e as meninas, de princesas, de lindas. As pesquisas nos mostram que anos desse entendimento de valores limita tanto as meninas como os meninos”, diz Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil. Ela também foi convidada para o evento de lançamento do filme.


“Se você chamar uma menina de forte, ela vai querer ser mais forte ainda. Se chamar uma menina de determinada, ela vai procurar o quê? Determinação”, alerta uma das adolescentes no filme.


“As crianças se espantam com a violência, com a intolerância. Elas não se espantam com um menino querer fazer balé. As crianças e os jovens têm ali dentro deles uma força e uma potência, uma vontade de ser e uma tolerância entre eles que tem muito a nos ensinar”, celebra Estela Renner.


A jornalista viajou a convite do evento


Multimídia


O documentário está disponível na internet, no site

www.repenseoelogio.com.br

 

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