Logo O POVO+
Crítico de dança Henrique Rochelle fala sobre o espetáculo Lub Dub
Vida & Arte

Crítico de dança Henrique Rochelle fala sobre o espetáculo Lub Dub

O V&A traz, a partir de hoje, textos de críticos de dança sobre os espetáculos apresentados na Bienal. O primeiro é sobre Lub Dub, do Balé do Teatro Castro Alves
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL

 

Henrique Rochelle
ESPECIAL PARA O POVO

 

[FOTO1]

Lub Dub, que o sul-coreano Jae Duk Kim criou para o Balé do Teatro Castro Alves é uma coreografia cardíaca: inspirada nas batidas do coração, que servem para dar nome à obra, e para desenhar sua trilha sonora, percussionada e de pulsações.


Na coreografia, que tenta aproximar as culturas afro-brasileiras e sul-coreana, vemos um desenho de movimentos que trabalham com os ombros, e com os braços ágeis na frente e atrás da cabeça. Também é constante a preocupação com o chão, tanto em rolamentos quanto em saltos — que se interessam por sua queda e seu desenvolvimento no solo, mas sem perderem a explosão e o caráter energético.


Na cena vazia, a luz se transforma em cenário, traçando pelo espaço os recortes por onde os bailarinos se movimentam em agilidade constante. Especialmente ousada é a trilha sonora, também assinada por Kim, que inclui ótima performance vocal ao vivo e mistura as percussões com músicas do candomblé e da capoeira.

[QUOTE1]

Refrescante ponto de vista, a obra trata do coração sem falar de amor. O coração que o elenco nos mostra não é meloso, não se desmancha em encantos. Ele pulsa, parte para o ataque, e enfrenta.


As cenas operam entre a luta interna de um indivíduo e aquelas travadas com outros. Lutas, aliás, são um elemento chave nessa obra, aparecendo em diversos formatos ao longo de Lub Dub.


As mais interessantes são as que tendem ao pessoal, ao interno, sem parecer competitivas. Essas, são cenas que retratam o esforço do indivíduo com suas próprias batalhas. Nelas vemos os bailarinos em conjuntos, mas nem sempre dançando juntos: eles dividem o mesmo palco, mas cada um enfrentando a sua própria realidade.


Os bailarinos pegam microfones e os incluem na dança, transformando o barulho das batidas no próprio corpo em mais um elemento da trilha sonora, que se torna espectral. Ela vem dos intérpretes, ocupa o teatro e adentra ao público, nos fazendo, também, pulsar nesse mesmo ritmo de luta — e esse é o sucesso de uma obra que contagia, batendo no ritmo do coração.


Henrique Rochelle é crítico de dança, editor dos sites Da Quarta Parede e Criticatividade, e Doutor em Artes da Cena pela Unicamp

 

O que você achou desse conteúdo?