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Crianças discutem sobre arte em visita ao Museu da Fotografia
Vida & Arte

Crianças discutem sobre arte em visita ao Museu da Fotografia

Na contramão de polêmicas recentes que têm separado cirurgicamente os museus do ambiente infantil, o Vida & Arte convidou grupo de crianças para conversar sobre arte em visita ao Museu da Fotografia
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Já na produção para esta pauta, um entrave: “Que obras de arte são essas?” e “É lugar para criança?” foram algumas das perguntas ouvidas pela reportagem ao consultar pais sobre o convite do Vida&Arte para levar grupo de crianças para uma tarde no Museu da Fotografia, na Capital. Alimentada por questões que extrapolam o campo artístico, a desconfiança dos pais tem relação com o momento vivido pelo País, onde casos como o da exposição Queermuseu, no espaço Cultural Santander, em Porto Alegre, e da performance La Bête, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, geraram repercussão negativa ao questionar que tipo de obras poderiam ser vistas por crianças. Na contramão desse distanciamento, o V&A convidou cinco crianças para visitar uma exposição e conversar sobre como interpretam a arte.


Os irmãos Maria, de 5 anos, e Bento, de 7, foram os caçulas de grupo formado também por Sophia e Beatriz, as duas com 11 anos, e Stephany, de 12. Na tarde do último domingo, os cinco refletiram, riram e divergiram no espaço cultural localizado no bairro Varjota.

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Logo no início da mostra Um imaginário de Cidade, a série de imagens Em Processo do jovem fotógrafo paulista Victor Dragonetti, que retrata momentos das manifestações de junho de 2013, prendeu a atenção do grupo. Na cena, jovens são atingidos por policiais com bombas de gás lacrimogêneo. Sophia apontou que os retratados pareciam sentir “medo”, enquanto Maria interpretou que havia “um bicho atacando eles”. Stephany sintetizou: “A foto mostra uma situação de medo e coragem. Você se arrisca a levar um tiro de um policial, mas, ao mesmo tempo, você está tendo muita coragem para se manifestar”.


Já a instalação Baldes - progresso reflejado, do belga Patrick Hamilton, obra que mostra imagens em fundo de baldes no chão, descolou o olhar das crianças. Todo mundo estranhou pelos quadros não estarem na parede, mas logo o grupo estava engajado em entender a obra. “É diferente, né?”, refletiu Beatriz, não tirando o olho. Já de frente para o trabalho A Garota Afegã, do norte-americano Steve McCurry, o grupo se demorou. “É o meu preferido de todos, mas é assustador”, apontou Bento. “Eu tenho a impressão de que ela não está no quadro e está olhando a gente”, elaborou Maria, ganhando risos de todos.


Já mirando obras compostas a partir de computação gráfica, o grupo se dividia. Sophia defendeu a arte como um meio de refletir a realidade. “Quando tem montagem, não é de verdade. Eu fico mais interessada quando é real”, apontou. Para ela, uma mostra como essa tem de se “preocupar mais” em ligar os visitantes com o passado. “Dá para a gente saber tudo o que a gente não viveu, mas nosso pais viram”, diz, dando como exemplo “aqueles telefones de fio”.

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Por outro lado, Bento defende que fazer arte é juntar passado e presente. “É pra ter os dois tempos. O tempo de antes e o tempo de hoje misturados”, confia. Beatriz diz preferir quando a obra mistura fantasias. “Gosto quando a arte é interativa, dinâmica. E não tem problema nas (obras) que têm montagem, o artista que sabe. Eu gosto dos quadros quando tem Photoshop, gosto das fotos em preto e branco”, aponta. Para ela, que durante o passeio fotografou algumas das obras, seria “uma honra” ter uma fotografia sua num museu.


Sobre a importância de crianças irem ao museu, Sophia ponderou: “É importante ter museu para a gente saber que os lugares e as pessoas não são iguais”. Para Stephany, não deve haver censura quando o assunto é arte. “Para saber se criança pode ou não ir (a uma exposição) depende muito do conteúdo, das imagens e de respeitar a faixa etária”, diz, apontando que proibição não é saída. “Tem coisas no mundo que eu ainda não vi, não aprendi. Com a arte, a gente vai conhecendo coisas novas, coisas que pessoas viveram e vivem e que a gente não sabe”, completa ela, apontando que o museu poderia ser um espaço ainda melhor se combinasse a fruição com música. “Seria mais animado”, sugere.


Já Maria disse não ter o que reclamar de uma tarde no museu. Empolgada, deixou apenas uma sugestão: “E se na saída tivesse um parquinho?”.


 

 


 
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