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A Força do Querer chega ao fim como sucesso de audiência
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A Força do Querer chega ao fim como sucesso de audiência

Sucesso de audiência e de repercussão nas redes sociais, A Força do Querer chega ao fim cheia de dilemas humanos que conquistaram o público
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Da transformação de uma dona de casa em “rainha” do tráfico ao processo de transexualização de um homem nascido em corpo feminino, A Força do Querer ganhou o público ao escancarar dilemas humanos de forma íntima. Fenômeno de público e crítica como não era visto desde Avenida Brasil (2012), a trama das nove pautou discussões das mesas de bar à linha do tempo do Facebook. O Vida&Arte ouviu especialistas e artistas para analisar o bom desempenho da produção que chega ao fim na próxima sexta-feira, 20.


“A novela precisa tocar as pessoas através da compaixão, que é o ato de se colocar no lugar do outro. Isso a Glória Perez fez lindamente”, avalia a atriz Maria Clara Spinelli, que dá vida à personagem Mira. Ela usa como exemplo o caso do personagem Ivan (Carol Duarte). “A questão da transexualidade foi tratada de uma maneira clara e bonita. Ivan é querido por todo o público”, aponta a atriz, que é transexual. Para Maria, que na trama é melhor amiga de Irene (Débora Falabella), a autora acertou não separando os personagens de forma maniqueista. “Assim reflete muito mais a humanidade do que os mocinhos e vilões clássicos”, pondera.

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Para o pesquisador de TV Julio Cesar Fernandes, mestre em Comunicação e professor de jornalismo e transmídia da Faculdade Cásper Líbero (SP), A Força do Querer compreende a atual dinâmica do telespectador. “Acredito que a TV esteja passando por uma fase que não é mais da idealização, o público não idealiza mais ser um personagem ou morar no bairro da novela. O público quer identificação”, teoriza, apontando que a obra dirigida por Rogério Gomes acertou ao acentuar os “defeitos” dos personagens.


O ator cearense Silvero Pereira, que vive Elis Miranda/Nonato na trama, aponta que essa identificação era compartilhada, inclusive, entre o elenco. “Dentro da equipe, a gente sempre comentava como essa novela também nos contagiava, mesmo estando dentro do processo e vendo os bastidores”, aponta o fundador do Coletivo As Travestidas. “Sempre conversamos sobre as personagens como telespectadores vidrados e apaixonados por telenovela. Isso sem dúvida foi o que mais curti fazer parte, pois éramos um coletivo dentro e fora das câmeras”, celebra.

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Para Silvero, a forma como a história foi contada fez com que diferentes públicos se refletissem na tela. E, apesar de o enredo se passar numa grande cidade com núcleos em sua maioria de personagens ricos, os dramas humanos acabaram repercutindo de muitas formas. “As pessoas fizeram fila na porta da minha casa em Mombaça (a 296km de Fortaleza) para ver o artista conterrâneo e eu pude visitar uma escola de crianças e ver no olho delas o orgulho e admiração pelo trabalho”, se emociona.


A pesquisadora Mayara Magalhães, doutora pela Universidade Federal do Ceará com estudos sobre telenovela, destaca que a história de Glória Perez acabou estabelecendo diálogo com o acirramento entre liberais e conservadores que o País vive. “A gente está num momento em que as questões políticas estão envolvidas com questões morais e isso alimentou ainda mais as discussões (sobre a novela). Há uma campanha fortíssima contra a Globo nas redes sociais, mas o público tem se engajado na defesa de temas como a transexualidade”, contrapõe, ponderando que a mobilização para defender personagens (a exemplo da Bibi, a já citada “rainha” do tráfico) acaba atraindo olhares que migram da internet para a TV. “A novela continua tendo um papel pedagógico. Quando alguns temas são colocados de forma humanizada, o público muda o olhar em relação a esses sujeitos, porque você vê o drama dos personagens e esse drama derruba resistências e cria empatia”, diz.

 

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