Ao lado do Museu Sacro São José de Ribamar está outro tesouro do patrimônio histórico de Aquiraz: a igreja matriz do município. As duas edificações foram erguidas no século XVIII e compõem um conjunto coeso que representa a história da primeira capital do Ceará. O piso, as paredes e o teto - naturalmente repletos de referências religiosas - carregam aspectos da biografia cearense e propõem alguns mistérios para autoridades, curiosos e pesquisadores.

Para quem levantar um pouco os olhos há um espetáculo particular. Um grupo de painéis, divididos em três fileiras, narram os caminhos percorridos pela sagrada família. São 15 espaços - 12 preenchidos e 3 em branco. A mais alta das linhas está a 7,6 metros do chão, portanto, é necessário fazer um pouco de esforço para avistar os detalhes, as pinceladas, as faces sacras. O autor (ou o grupo de autores) das pinturas é desconhecido e também não há consenso sobre o ano no qual as obras foram pintadas, explica a jornalista Lúcia Helena Galvão, autora do livro Painéis de Aquiraz - Joias da Arte Popular do Ceará Colonial, lançado em 2010. Em todas as cenas, diz Lúcia, existe a presença de São José. Possivelmente, por ser ele o padroeiro do lugar.

Após o lançamento do livro, Lúcia fez uma sucessão de palestras em escolas públicas de Aquiraz e do Litoral Leste. Ela explicava sobre a origem da edificação e os valores - cultural, artístico e histórico - do conjunto. À época, as 12 pinturas estavam em situação degradante.

Marcas do tempo, das chuvas, do vento e da intervenção humana descaracterizavam as personagens. Um esforço coletivo de governos, institutos de patrimônio e apreciadores das obras desencadeou o restauro da edificação. Agora, Lúcia prepara um livro sobre a nova condição dos painéis. Com pesquisas e textos já encaminhados, a jornalista faz captação de recursos para publicar a nova obra, que mostra a beleza dos painéis após a intervenção. 

SAIBA MAIS

Aquiraz foi a primeira vila do Estado, fundada em 1699, e carrega o título de primeira capital cearense.

O museu sacro de Aquiraz foi o primeiro do gênero instalado no Ceará.

A última reforma, realizada em 2010, garantiu a recuperação física do prédio e mecanismos de acessibilidade.

O museu foi criado pela Lei Nº 8.822, em 21 de junho de 1967. A inauguração, em 27 de setembro do mesmo ano, teve a presença do governador Plácido Aderaldo Castelo, que foi recebido na entrada da cidade com faixas e banda de música.

O prédio é protegido pelo Tombo Estadual segundo a Lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968, através do decreto n° 16.237 de 30 de novembro de 1983.

Painéis no teto da igreja, divididos em três fileiras, narram os caminhos percorridos pela sagrada família

30 

quilômetros é a distância entre Aquiraz e Fortaleza

CHAVES

O conjunto original que era utilizado para trancafiar “detentos” e “arruaceiros” na Casa de Câmara de Cadeia é a primeira peça do museu

CÁLIGAS

As sapatilhas são utilizadas por bispos durante os ritos. As peças são datadas do século XX e integram um conjunto formado também por luvas, casula, estola e alva

ORATÓRIOS 

As peças têm uma sala especial no museu. Eles são grandes ou pequenos; em ouro, prata, madeira ou metal, com detalhes pintados e em tecido.