O ano era 2001 e entre os dez livros que integravam a famosa lista de indicados para o vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC) estava Helena, de Machado de Assis. Àquela época, o professor Eduardo Luz trabalhava em uma escola particular de Fortaleza dando aulas de literatura, e coube a ele preparar os alunos para fazer o exame sobre o livro.
O entendimento romântico que foi perpetuado sobre Helena ao longo da história, entretanto, sempre pareceu insatisfatório para o professor. E, desde aquele período, ele desenvolve uma pesquisa sobre novas perspectivas de leitura para o romance. A interpretação que começou na escola ultrapassou as barreiras acadêmicas e foi transformada em livro. O romance que não foi lido: Helena, de Machado de Assis, publicado pelas Edições UFC, será lançado hoje, às 18 horas.
A pesquisa realizada por Eduardo Luz - que é mestre em Literatura pela UFC e doutor em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - é considerada inovadora. Ela oferece novos pontos de visão e uma interpretação aguçada sobre quais eram as verdadeiras condições, percalços e motivos da personagem machadiana. As interpretações feitas pela crítica e pelo público ao longo da história mostraram uma Helena resignada, reclusa e apática diante dos acontecimentos. Para Eduardo, entretanto, a narrativa e a personagem têm mais a oferecer.
“Durante todo esse período, sempre esteve transitando por minhas ideias a de escrever esse livro, que propõe e pretende explicar uma nova recepção para o romance, emancipando-a daquela que se arrasta há 141 anos”, explica Eduardo, que leciona na graduação e na pós-graduação do Curso de Letras da UFC. A partir da composição textual, o pesquisador entendeu a órfã Helena como uma personagem que tem mais domínio das situações do que a crítica convencionou acreditar.
Eduardo aponta ainda que, em Helena, Machado de Assis “pilhou” três tragédias gregas e as “torceu” para compor um romance moderno. “Ao longo desse processo, explorou negociações intertextuais complexas e reciclou peças do cânone. Para entendermos o processo compositivo de Machado, portanto, é necessário um aparato literário de que só costumam dispor alunos mais amadurecidos”, pontua.
Slow Reading
A pesquisa de Eduardo Luz é colaborativa, e não solitária. Docente da UFC, ele ministrou a disciplina chamada Leituras do Cânone Ocidental. A cada aula, os alunos e o professor realizavam a leitura de um capítulo - “procedíamos exclusivamente à leitura atenta, densa, à leitura linha a linha desse romance”. O método vagaroso - conhecido em algumas correntes como Slow Reading - permitiu que ideias e apontamentos surgissem ao longo do semestre. E, em 2012, depois de ganhar força nos circuitos acadêmicos, a pesquisa foi transformada em um grupo de estudos.
“O resultado da experiência foi extraordinário: pouco a pouco, compreendemos haver em Helena uma estrutura narrativa extremamente complexa, e alguns aspectos logo se projetaram, à espera de uma análise mais acurada”, diz Eduardo, ressaltando que as contribuições dos alunos foram fundamentais para a elucidação da pesquisa. “Seus insigths, resultantes de uma pressão interpretativa extrema, foram absolutamente imprescindíveis para que fosse alcançado o texto machadiano em palimpsesto”.
O POVO online
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Lançamento O romance que não foi lido: Helena, de Machado de Assis
Autor: Eduardo LuzQuando: quarta-feira, 13, às 18 horas
Entrada gratuita. Haverá sorteio de exemplares