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Mãe! de Darren Aronofscky estreia amanhã nos cinemas
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Mãe! de Darren Aronofscky estreia amanhã nos cinemas

Filme de Darren Aronofsky, que estreia amanhã nos cinemas, surpreende em traumatizar com referências a uma das histórias mais antigas da humanidade
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Seria injusto levantar bandeira sobre Mãe! imediatamente após a sessão. No festival de Veneza, onde o diretor, Darren Aronofsky, foi vaiado e aplaudido ao mesmo tempo, a obra originou uma intriga tão intensa como há muito não era compartilhada dentro de uma sala de cinema. E eu ainda estou digerindo o que ele quis dizer.


O filme, que traz Jennifer Lawrence no papel principal, conta a história de um casal apaixonado que, durante a reconstrução de uma casa, recebe uma visita inesperada. A surpresa, que se estica durante os dois primeiros atos de desenvolvimento, garante momentos de suspense, ainda que possua toques cômicos. A tensão que o roteiro cria, por outro lado, segue outro caminho. Durante toda a apresentação de características dos personagens presentes na casa, o público percebe nuances do horror, como era construído no gênero há quase meio século.

[SAIBAMAIS]

O diretor, como era esperado, suga todas as energias de sua atriz. Lawrence desenvolve empatia, principalmente quando luta para manter a ordem. No entanto, ela vai além. Sua personalidade floresce com o passar dos atos, o que garante uma personificação que intensifica todo o acúmulo de erros de seu esposo. Cito, como exemplo, a sequência em que a personagem, em busca de defender aquele que ama, parte para a troca de ofensas, agressões físicas e sinais de força. Esse domínio será lembrado nas premiações do ano que vem.


Já Javier Bardem, dono de uma elegância arrebatadora, surpreende ao ser um personagem fraco e indeciso, mesmo quando só busca reconhecimento e amor em troca, o que lhe oferece camadas de um coadjuvante covarde e tolo. A fotografia e montagem, do mesmo modo, seguem a linha de construção que o diretor exige. Os elementos começam tímidos, com características de câmera na mão e montagem seca e sem cortes, que, sem o apoio da trilha sonora alta, assusta quando deve. O som, do mesmo modo, é outro elemento que surpreende, assusta e emula dores.


Próximo de um final catártico, o diretor investe em sinais de elementos que lhe caracterizam como excelente cineasta de terceiros atos. A fotografia escurece, ainda que mantenha possível a compreensão do que está em tela. Ao mesmo tempo, Aronofsky traz cortes bruscos, que oferecem mais claustrofobia.


O roteiro da obra, no entanto, é o mais polêmico e importante detalhe. Quando os personagens apostam em um caminho óbvio, Darren surpreende. Quando os diálogos não parecem significar nada, Darren os desmitifica. E, principalmente, quando há algo em tela que não desenvolve os protagonistas, o diretor quebra protocolos e choca, o que pode ter rendido as vaias no festival.


O susto do terceiro ato final ainda fica dentro de nossas cabeças. O Apocalipse explorado em sua conclusão anacrônica cutuca na ferida de fanatismo, política, feminicídio e religião, da forma mais misturada possível, o que traz sensação de dúvidas antes mesmo do choque.


Esse momento, por sinal, é dúbio. A linha tênue entre satisfação e nojo pelo que está sendo mostrado faz com que entendamos a magia do cinema. Esse foi o discurso de um diretor que já falou sobre vícios em Réquiem para um Sonho, imortalidade em Fonte da Vida, arrependimentos em O Lutador e de determinação em Cisne Negro. Cada um possui o seu espírito e temática originais, as quais o diretor já demonstrou dominar muito bem. Sintam-se desafiados com Mãe! agora. O cinema contemporâneo, independentemente de vaias ou aplausos, agradece por tamanho esmero. Entretanto, somente o seu gosto pessoal irá definir o filme.

 

SAIBA MAIS


Filmes do diretor disponíveis na Netflix


Fonte da Vida (2006)- fala sobre a imortalidade e amor atravessando tempo e espaço.


O Lutador (2008)– com Mickey Rourke, trata sobre arrependimentos, determinação e lutas internas.


Cisne Negro (2010)– O filme mais popular do diretor, que garantiu o Oscar para Natalie Portman

 

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