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Exposição cancelada gera repercussão
Vida & Arte

Exposição cancelada gera repercussão

Após protestos que acusaram mostra de desrespeitar crenças religiosas, Queermuseu foi encerrada
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Anunciada como “inédita no País” pelo Santander Cultural à época do lançamento, em agosto passado, a exposição Queermuseu, que estava em cartaz em Porto Alegre, foi encerrada um mês antes do previsto após protestos promovidos por grupos considerados conservadores como o Movimento Brasil Livre (MBL). Reunindo 270 trabalhos artísticos que destacam a diversidade de expressão de gênero e sexualidade, a mostra, com obras de nomes como Cândido Portinari, Ligia Clark e Leonilson, foi acusada de desrespeitar signos religiosos, entre outros pontos polêmicos. O cancelamento da exposição reacende debate sobre liberdade artística e política de financiamento.


“O fechamento da mostra autoriza e fortalece o silenciamento.

Corremos o risco de ver outras exposições sendo fechadas. Nossa autonomia e o diálogo estão censurados”, avalia a historiadora da arte Carolina Ruoso, doutora pela Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

Para a pesquisadora, o caso precisa ser analisado de modo ainda mais amplo. “Um banco não é uma instituição cultural, não é um museu. Ele (banco) está interessado em marketing, em mercado e cede a uma postura conservadora, porque está preocupado somente com os clientes”, pondera, afirmando ser preciso refletir sobre a “situação precária” das instituições culturais públicas no País e os impactos disso na relação entre artistas e o investimento privado.

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Por nota, o Santander Cultural pediu desculpas “a todos os que se sentiram ofendidos” pelo teor da obras. “Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo”. Nas redes sociais, muitos comentários destacavam que os trabalhos eram “blasfêmias” e continham cenas de “zoofilia”.


Tony Boita, membro da Rede LGBT de Memória e Museologia Social, critica o crescente “conservadorismo” que vem atravessando a arte no País. “As pessoas não viram a exposição e tomaram um vídeo como única verdade. O que temos visto é que formas de promover a memória e ações de pessoas LGBTs estão sendo boicotadas”, aponta, destacando imagens “fora de contexto” que foram publicadas nas redes sociais. A Rede promoverá protesto hoje em frente à sede do centro cultural, em Porto Alegre.


O jornalista e escritor cearense Lira Neto escreveu publicação em sua página do Facebook dando destaque a obras de artistas como Pablo Picasso e Salvador Dali, que também abordam sexualidade e gênero, questionado o que motivou as reações a umas obras e a outras não. O post de Lira, porém, também foi denunciado por conter imagens de nudez. “O cancelamento da exposição revela o nível do obscurantismo que parece querer tomar conta do mundo, em pleno século XXI. É preciso denunciar tamanho retrocesso. Não me espanta a falta de informação e a ausência de repertório dos que protestaram contra as obras expostas. Estes, talvez, nunca tenham visitado uma galeria de arte”, avançou o autor, em entrevista ao O POVO.


Na páginas do MBL, os membros comemoram o cancelamento: “Tem gente que não sabe a diferença entre censura e boicote. Boicote é quando a sociedade repreende algo, que voluntariamente acaba cedendo, foi o caso do Santander. Ninguém é obrigado a nada. O banco poderia até continuar a exposição horrível lá”, postou o grupo. 

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