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Até parece mentira...
Vida & Arte

Até parece mentira...

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Todo mundo tem uma história pra contar de uma mancada que deu, uma frase mal empregada, uma atitude mal pensada, uma consequência não planejada. No mundo do rock essas histórias acontecem aos borbotões e, não raro, tornam-se lendas que são contadas e recontadas com o tempo. Quanto maior a estrela, mais o relato chama atenção.


É com a ideia de não deixar essas histórias se perderem que o jornalista canadense, naturalizado brasileiro, Daniel Ferro lança Contos do Rock.

O livro traz 54 histórias coletadas durante a produção do programa de mesmo nome, transmitido pelo canal Multishow em 2012. Na TV, Erasmo Carlos, Nasi (Ira!), Pitty, Fernando Deluqui (RPM), Beto Bruno e muitos outros contam histórias de bastidores de shows, viagens e gravações. De experiências de quase morte a contratos mal feitos, uma exigência do autor foi que os convidados só contassem histórias vividas por eles. Nada de “eu ouvi dizer que...”


“Essas histórias avulso acabam contando como uma banda opera na estrada. E muitas delas não estão nas biografias dos artistas. Eu achava relevante, mesmo elas estando fora das biografias”, explica Daniel, que já produziu clipes de nomes como Michel Teló, Chico Buarque e Mr.

Catra, e ouviu muitos desses relatos em camarins e ônibus de viagem.

Enquanto fez o Contos do Rock na TV, foram mais de 250 histórias registradas em 25 episódios. Para o livro, ele passou uma peneira.


Na seleção está, por exemplo, uma turnê que o Cidade Negra fez pelo Nordeste em 1997. O vocalista Toni Garrido conta que ele a banda ficaram satisfeitos de pegar um voo de madrugada que ia praticamente vazio, não fosse uma pequena família de ingleses que se concentrou na frente do avião. No meio da viagem, duas crianças vieram em direção do quarteto carioca com um CD na mão e cantando “casa, casa, casa...”. Depois de autografar o disco, eles olharam para o pai das meninas e o reconheceram. Era Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones.


Tem ainda Andreas Kisser, fundador do Sepultura, falando de uma turnê por três cidades na índia. Em Shillong, eles se apresentaram em um palco todo feito de bambu amarrado. “Mas, pra falar a verdade, foi um dos palcos mais firmes que eu já toquei. Ali não tive do que reclamar”, lembra o guitarrista que, na mesma turnê, teve que lidar com problemas intestinais do baterista Jean Dolabella e com os efeitos de um drink feito de licor com sangue de cobra.


“No Brasil, o glamour é um clichê e uma ilusão. O rock’n’roll não tem isso. É matar um leão por dia mesmo. Aqui é muito mais rock’n’roll, ralação e suor”, adianta Daniel Ferro. Nem todas as histórias são inéditas. Algumas são até bem conhecidas – como a chegada de Paulo Pagni a Los Angeles, quando ele passou mal por abuso de drogas e teve que ser internado. Outras são curiosas pela simplicidade, como quando Dinho Ouro Preto saiu do show do Capital Inicial – no auge da fama do Acústico MTV – empurrando o carro de uma amiga que deveria levá-lo pra casa. “A galera que gosta de boas histórias vai entender que esse livro tem muitas delas. E tudo é 100% verdade, até quando não parece.

Todos os convidados são testemunhas oculares”, avisa o autor. 

 

ALGUNS CONTOS:


- Gerson Conrad, ex-Secos & Molhados, conta que a maquiagem entrou para os shows da banda por acaso. Ney Matogrosso se dividia entre os trabalhos de ator e cantor. No dia que o Secos & Molhados ia estrear ao vivo, ele não teve tempo de tirar a maquiagem, apenas mudou o visual acrescentando purpurina e outros elementos.

- Jorge Davidson lembra que, quando trouxe a Legião Urbana para gravar o primeiro disco no Rio de Janeiro, recebeu uma ligação de Renato Russo perguntando se tinha problema consumir o Toddynho que tinha no frigobar do hotel. Impressionado com o pedido inusitado e com a quantidade de toddynhos e chocolates que vinham na conta dos músicos, ele descobriu que a Legião havia feito um esquema com o hotel para consumir bebidas alcoólicas e ser lançado de outra forma na conta.

- Marcelo Branco era executivo da Polygram quando Cássia Eller já contava mais de 10 anos na empresa e não estourava um sucesso. Um dos motivos que explicava isso era a difícil relação da artista com a gravadora. Foi então que ele apelou para um gosto particular da cantora, como forma de melhorar seu ânimo. Ele soube que ela gostava de ver filme pornô enquanto gravava e enviou um lote grande de fitas eróticas da melhor qualidade para ela. Cássia ligou rindo para Marcelo e agradeceu.

- Quando era produtor do Rock In Rio, Amin Khader recebeu uma série de pedidos do Guns’n’Roses para o camarim, entre eles muitos quilos de macarronada para ser consumida depois do show. A apresentação acabou, a banda foi embora e ninguém comeu nada. Ficou só Axl Rose, que chamou os funcionários da limpeza para dividirem o banquete com ele. Quando Roberto Medina, criador do festival, passou em frente aos camarins, viu o roqueiro, acompanhado
dos faxineiros, comendo macarronada.

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Serviço

 

Contos do Rock

De Daniel Ferro

Ed. Dublinense

224 pág.

Quanto: R$49.90

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