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Montagem do grupo Alumiar evidencia folguedos populares
Vida & Arte

Montagem do grupo Alumiar evidencia folguedos populares

Em temporada no Centro Dragão do Mar, montagem do grupo Alumiar Cenas e Cirandas põe em evidência o arquétipo do boi e outros folguedos populares
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As crenças e tradições de uma comunidade de vaqueiros compõem o espetáculo Os Cavaleiros, montagem do grupo Alumiar Cenas e Cirandas. Em temporada às terças-feiras no teatro do Centro Dragão do Mar até a próximo dia 22, o espetáculo evidencia pesquisa sobre os elementos da cultura popular, incorporando o reisado, o arquétipo do boi, a contação de história, o canto e os folguedos populares, entre outros. Hoje, o Vida&Arte discute a permanência desses elementos nos palcos cearenses.


“É a nossa cultura, o nosso jeito de ser. A nossa intenção no Alumiar é levar para o palco a nossa linguagem, as brincadeiras, personagens como a benzedeira, o vaqueiro, é falar também dessas heranças indígenas”, aponta Socorro Machado, diretora do espetáculo. Ela está à frente dos trabalhos do grupo há 18 anos e tem como um dos principais focos em suas montagens a pesquisa do teatro pedagógico.

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Para Socorro, o desafio da pesquisa com cultura popular nas artes cênicas é fazer o público olhar para a própria história. “Com toda essa influência das novas tecnologias n essas gerações, é ainda mais difícil se deixar ser tocado, mas queremos que elas se encantem e se reconheçam enquanto nordestinos”, aponta a diretora. Segundo ela, apesar de alguma resistência inicial, a plateia costuma se identificar ao conhecer Os Cavaleiros. “Ficamos felizes porque essa nova geração vai nos assistir e se deixa contaminar. É dessa forma o teatro pedagógico, a partir da transformação do ser humano”.


Referência no Estado quando o assunto é teatro e cultura popular, a pesquisadora Lourdes Macena, professora do Instituto Federal do Ceará (IFCE), aponta que esses elementos da tradição passeiam entre a presença e a ausência em grande parte da produção artística local. “Há certa rejeição, velada e inculta à cultura popular, ao mesmo tempo em que tem vários artistas recorrendo à matriz estética tradicional para fazer trabalhos contemporâneos. É uma relação de se aproximar e se distanciar”, detalha a fundadora do grupo Mira Ira.


Para Lourdes, dentro de um contexto mais amplo, há certo apagamento das tradições próprias do Estado. “Tem muito mais trabalhos olhando para o Nordeste como um todo do que para a cultura cearense. Na contação de histórias, por exemplo, percebo que as narrativas apresentadas são de vários lugares, mas poucos falam do cearense. As histórias da nossa oralidade, nossas lendas, ainda são pouco conhecidas”, critica.

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Sobre essa “rejeição” ao que é considerado popular, a professora – que ministra as disciplinas de danças dramáticas e de teatro e cultural popular – aprofunda a questão do ponto de vista da educação. “Os artistas não têm culpa, porque muitos alunos chegam ao ensino superior de teatro sem saber nada sobre o que é da terra. Tenho um programa para desenvolver com eles, mas tenho que ser ensino superior, médio e fundamental”, aponta, celebrando a importância de grupos como o Alumiar para aproximar o público da tradição.


Além dos palcos

Aluno do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Ceará e membro do Alumiar, o ator Lucas Limeira celebra a possibilidade de preencher os teatros da Capital com obras que ressaltam a tradição, mas vai além. “Vejo também a importância de as pessoas se aproximarem da ‘cultura real’ e não só dos espetáculos que usam esses elementos. O teatro é um primeiro contato que convida (o público) a ir atrás de tudo isso, a conhecer, por exemplo, os reisados e os cocos que tem por aqui”, aponta.

 

Para Lucas, o ambiente universitário, de modo geral, ainda está apartado dos folguedos tradicionais. “Não consigo ver tanta aproximação do meio acadêmico com essa cultura, não chega tanto, mas isso não é geral, tem muita gente da minha geração próxima a isso”, aponta o ator de 19 anos. “A cultura popular vem da nossa raiz, do meu povo, ter contato com ela é muito engrandecedor. Por isso a gente leva para os palcos, para que as pessoas tenham contato e, que do mesmo jeito que foi comigo, possam se encantar” confia.


SERVIÇO

 

Os Cavaleiros

Quando: terças-feiras, às 19 horas, até 22 de agosto

Onde: Teatro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)

Quando: R$ 10 (inteira)

 

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