Um disco maduro. Não só musicalmente falando, mas também - e sobretudo – nas ideias e convicções. Assim resume o pernambucano Otto quando indagado sobre seu mais recente disco autoral. Após The Moon 1111, trabalho de 2012 que mergulhava em referências ao cinema francês e artistas como Pink Floyd, Depeche Mode e Fela Kuti, Ottomatopeia - “nome batizado por um amigo sérvio que mora em Nova York” – chegou ontem às principais plataformas digitais, trazendo à baila suas reflexões sobre o mundo atual.
“Posso dizer que dentro de mim existem vários Ottos. Como deslizo no tobogã da humanidade, minha visão social, minhas lutas... Isso tem bastante do meu eu contemporâneo”, afirmou o cantor em relação ao título do disco que reúne 11 faixas (sendo dez autorais e inéditas) e direção musical afiada de Pupillo (Nação Zumbi). “Cada música é especial e representa a evolução da minha parceria com o Pupillo e o Kassin, Donatinho, Guilherme Monteiro, João Carlos. Demonstra nosso companheirismo e profissionalismo”, explica por e-mail.
[QUOTE1]Bala, que abre o disco, foi o primeiro single de Ottomatopeia disponibilizado para uma divulgação prévia nas redes sociais. Com a percussão sempre presente, principalmente na última faixa Orumilá (com a participação especial do “sepultura” Andreas Kisser na guitarra), o CD lança mão também de outras linhas melódicas, como no caso da bucólica Carinhosa, parceria inédita com Zé Renato (Boca Livre), que traz um naipe de cordas (violino, violoncelo, trompa) e backing vocal da cantora paulistana Céu.
Ottomatopeia, sorte nossa, oferece ainda mais. É um misto de bolero e carimbó (com Soprei e Teorema) e também - e por que não? - sertanejo, quando divide dueto com Roberta Miranda na clássica Meu Dengo (a canção, inclusive, integrou a trilha sonora de Quase Samba, filme do diretor Ricardo Targino, lançado em 2012). “Roberta é genial como cantora, mulher, compositora e ser humano. Fico honrado de ela ter me proporcionado cantar sua música. Fico cada dia mais apaixonado por ela”, disse. Quanto a Zé Renato, “ele me deu essa oportunidade de crescer como escritor, melodista e intérprete. Acho um presente dos deuses!”.
O ponto comum das letras, no entanto, recai sobre o amor e suas nuances. “Se você neste momento do mundo, do Brasil e da humanidade, não viver de amor e nobreza, você pode secar no mercado e na repetição. Amar é humano”, sinaliza Otto, que acompanha de perto e, sempre que pode, opina sobre a situação do País. “O Brasil explodiu na decadência política. Houve um golpe e minha reação foi acompanhar todo este momento. Perplexo, fui me esclarecendo e refazendo meu pensamento e agora ofereço essa reflexão em formato musical. Meu grito infinito, meu desabafo com o amor a serviço da liberdade”.
Percussionista que integrou a primeira formação das bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, Otto absorveu referências diversas ao longo de sua trajetória. Do rock à música eletrônica, passando pelos toques de matriz africana (candomblé e umbanda), o estilo próprio foi aos poucos tomando forma e teve seu pontapé com Samba pra Burro, de 1998. Neste Ottomatopeia, o pernambucano retorna mais ao pop - algo semelhante a Condom Black (2001) - e presenteia o público com um trabalho extremamente criativo e agradável aos ouvidos.
“A arte e a ancestralidade salvam um povo. O Brasil sempre será uma busca social, cultural e forma, o tempo todo, guerreiros honestos dispostos ao combate. Somos fortes e vamos atropelar este último nicho de corruptos. Como disse a presidenta Dilma, não restará pedra sobre pedras. E que as novas gerações sejam capazes de edificar esse país com as raízes e a força dos ancestrais”. Valeu a pena esperar. Sejam bem-vindos ao universo de Ottomatopeia!
Multimídia
Ottomatopeia encontra-se disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Apple Music, Google Play e Napster, além do canal YouTube:
SERVIÇO
OTTOMATOPEIA (2017)
Otto11 faixas
Independente/ Selo Press PassParticipações: Roberta Miranda, Céu, Manoel e Felipe Cordeiro, Andreas Kisser e Zé Renato
Produção: Pupillo