Logo O POVO+
Crônicas inéditas de José de Alencar são reunidas em livro
Vida & Arte

Crônicas inéditas de José de Alencar são reunidas em livro

Textos, escritos entre os anos de 1854 e 1855, possuem conteúdos que "trariam problemas" para o próprio autor e, por isso, teriam sido excluídos de publicações anteriores. Pesquisa é do professor da UFSCar, Wilton Marques
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Oito crônicas inéditas do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), descobertas em 2015 pelo pesquisador Wilton Marques, acabam de ser lançadas em livro. Ao Correr da Pena (Folhetins Inéditos) é o título da publicação, que tem o mesmo nome do folhetim escrito semanalmente por Alencar, entre os anos de 1854 e 1855, no jornal carioca Correio Mercantil. O lançamento é da editora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).


Marques explica que, em 1874, crônicas de Alencar foram reunidas em um livro organizado por José Maria Vaz Pinto Coelho, um admirador do escritor. Ficaram de fora, no entanto, oito textos. “Desde então, toda vez que as crônicas foram publicadas, seguiram o livro, e não o jornal”, explica o professor do departamento de letras da UFSCar, por isso os textos são considerados inéditos. Eles nunca foram republicados e, portanto, não foram recolhidos e nem estudados, restava, então, encontrar os motivos que levaram à supressão desses textos.


O livro traz o ensaio Enigma dos folhetins, de Wilton Marques, com a interpretação das crônicas. “Faço uma discussão para mostrar que foi o Alencar que pediu mesmo (a retirada). Tem algumas marcas que é possível provar que o escritor não teria interesse daquele texto sair. Eu leio o folhetim, com olhar no ano que ele escreveu, que é entre 1854 e 1855, e o outro olhar em 1874, que é quando foi publicado. Tento mostrar que cada um desses folhetins tem alguma coisa que seria, digamos assim, reprovado publicamente, que traria problemas para ele”, explica o autor.

[FOTO2]

Em uma das crônicas, por exemplo, Alencar faz críticas à língua tupi. “Todo mundo sabe que o Alencar é o grande escritor do romance indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874)”, relaciona Marques. Ele destaca que, considerando a data em que a coletânea foi publicada – em 1874 – ele já era reconhecido por essa obra e seria um contrassenso ter um texto publicado com esse tipo de ironia. “De certo modo criaria um certo constrangimento para o Alencar, porque são textos de juventude”, avalia.


Em outro texto, o cearense faz críticas ao mundo político. Ao fazer uma comparação entre o Rio de Janeiro antigo e moderno, Alencar resolve falar sobre “uma tal revolução tecnológica” que teria dado origem a uma “máquina-deputado” e segue uma descrição irônica desta figura. O texto original diz: “Esta máquina serve para votar, levantando-se e sentando-se para dar apartes, fazer cauda aos ministros nas ocasiões necessárias, preencher o número de deputados que as constituições exigem, e finalmente para resistir aos deputados-homens, gente de consciência, que tem a balda de só apoiar os governos ilustrados. Bem se vê, que para semelhante fim era escusado nesses países empregar-se um homem livre e inteligente, e que basta uma máquina, a qual não possa opor tropeços à marcha da administração”.


Marques lembra que, em 1874, quando o livro organizado por Pinto Coelho seria lançado, José de Alencar já tinha sido ministro e era deputado. “Imagino que ele falou: ‘Não vou publicar isso, porque isso vai me causar um grande problema’. Ele fala que os ministros corrompem os deputados”, explica o pesquisador.


Folhetim

Wilton Marques explica que folhetim é um gênero que se assemelha à crônica. Como, atualmente, o primeiro termo adquiriu um caráter ligado ao romance, o segundo é mais esclarecedor para explicar a produção da época. O folhetim era publicado sempre aos domingos, no rodapé da capa do jornal, “como uma espécie de resumo da semana”. “Era um lugar de destaque no jornal”, diz o professor.

 

O folhetim tinha como característica tratar de assuntos diferentes em um mesmo texto. “Alencar fala que o folhetinista era uma espécie de beija-flor, que ele beijava várias flores, vários assuntos e tinha que dar um jeito de colocar dentro do mesmo espaço”, relatou. Também passaram pelo Correio Mercantil escritores como Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias, Manuel Antônio de Almeida e Machado de Assis. (Agência Brasil)


SERVIÇO

 

O livro está à venda no site:

www.editora.ufscar.br/

Preço: R$42 (151 páginas)

 

O que você achou desse conteúdo?