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Companhia Inquieta apresenta Pra Frente o Pior hoje
Vida & Arte

Companhia Inquieta apresenta Pra Frente o Pior hoje

Edição Impressa
Tipo Notícia
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Karl Marx tinha razão: a história se repete. A primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Em Pra Frente o Pior, temos uma adaptação da já recorrente frase do filósofo socialista. No espetáculo, o encontro de seis corpos acontece a primeira vez como tragédia e a segunda como festa. O que os artistas apresentam ao público é só o que os artistas apresentam ao público. Nada mais, nada menos.


Em cena, os performers Andréia Pires, Andrei Bessa, Geane Albuquerque, Gyl Giffony, Lucas Galvino e Wellington Fonseca. Cada qual com seu cada qual, mas também cada um interligado ao outro. Juntos, eles formam uma só massa amorfa que parte do nada para o canto nenhum. A princípio, parecem sobreviventes escapando de uma tragédia. No fim, eles já são um grupo de amigos voltando de uma farra homérica.


De cara, o verbo (que depois se mostra desnecessário) dá conta de explicar que aquilo é só aquilo mesmo. Talvez não fosse necessário anunciar o que depois se construiria de modo tão claro. Mas, claro, é também compreensível que a mente de espectador tão acostumada a ver no palco uma estrutura aristotélica pode “bugar” ao se defrontar com Pra frente o pior. A dramaturgia apresentada ali não nasce da palavra, nasce do corpo e não estamos falando de um corpo programado, ensaiado. É corpo vivo e mutável.


O desenrolar do movimento vai dando margem para que o público crie junto. É possível, a partir daquele vai e vem interminável, viajar em possibilidades de um ciclo eterno do pior. O grito, quando vem, é bem-vindo, porém não é tão potente quanto a respiração e o suor, que gritam mais que o olhar perdido dos artistas.


Em alguns momentos, especialmente quando as mãos dos artistas se soltam e se desencontram, a massa perde força. O esforço feito pelos corpos para se reencontrarem acaba levando o público ao ambiente da sala de ensaio. Não que isso seja de todo mau, mas, em alguns momentos, parece que os artistas estão mais preocupados em demonstrar o esforço de se reconectar do que de fato batalhar pelo reencontro das mãos. Isso acaba remetendo aos exercícios corporais sem objetivo claro, tão comum nas nossas salas de ensaio.


Pra frente o pior não comporta o fazer de conta. A obra está ali: viva e presente. A linguagem figurativa e o movimento demonstrativo não cabem e os seis performers sabem disso. A obra ganha força justamente pela repetição sincera, pelo movimento espontâneo. O espetáculo vale apenas o suor derramado em cena. E isso é tudo.

 

SERVIÇO

 

Pra Frente o Pior

Quando: hoje, às 19 horas

Onde: Teatro Dragão do Mar (av. Almirante Tamandaré, 310)

Quanto: R$ 10 (inteira)

 

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