O novo álbum de Mallu Magalhães, Vem, chegou às lojas colado em uma polêmica. O grupo de dançarinos negros com os corpos cobertos por óleo e rebolando atrás de uma grade no clipe do single Você Não Presta desagradou grupos que viram ali posturas racistas. “Aqueles que falaram pra disseminar o ódio e a opressão, esses não merecem nada. Mas quem realmente se sentiu ofendido, fez uma discussão saudável, merece toda a minha atenção”, comenta a cantora, que lançou uma nota no Facebook pedindo desculpas. “Mais vale você seguir o caminho da compreensão, da humildade do que seguir o de ser dono da razão”.
O desagrado, no entanto, não eclipsou a qualidade do quarto álbum da paulistana radicada em Portugal. Lançado seis anos depois de Pitanga, seu último disco solo, Vem chega para dar vazão a uma série de experiências vividas pela cantora e compositora. Nesse período, ela mudou de cidade, estudou canto lírico, montou uma banda (a Banda do Mar), criou um show solo de voz e violão e teve uma filha. “Mesmo sem um disco, estava sempre compondo pra mim ou pra alguém que pede música”, acrescenta ela por telefone.
O resultado de tantas experiências é um disco cheio de canções prontas pra sair cantando na rua. E se Pitanga já deixava meio de lado o folk e o rock dos primeiros discos, Vem traz como protagonista o samba. “Eu sempre gostei bastante de samba. Quando comecei a tocar violão, ia para um asilo tocar para os velhinhos. Com o tempo, fui ouvindo não só o de raiz, como Clementina e Clara Nunes. Fui escutar também coisas mais modernas como sambajazz, Ben Jor, Elza Soares, Wilson das Neves”, elenca a artista de 24 anos.
No entanto, é bom ficar claro que Vem não tenta surfar no recente interesse que o samba vem despertando na juventude brasileira. Não há uma intenção de mudar o rumo, mas de acrescentar percursos. Tanto que, no lugar de surdo, tamborim e cavaquinho, o disco traz guitarra elétrica, baixo, bateria, além de cordas e sopros arranjados pelo indiscutível Mario Adnet. Um exemplo do resultado é justamente a supracitada Você não Presta, uma gafieira desaforada com cara de rock and roll. Casa Pronta amansa os ânimos numa bossinha sobre a alegria do reencontro. Também em clima de gafieira, Pelo Telefone poderia estar no próximo disco da célebre Elza Soares.
Vem traz o samba de muitas formas e com a naturalidade que as composições pedem. E tudo filtrado pela visão de Mallu, sob os cuidados do produtor e marido Marcelo Camelo. “Tudo é feito em parceria. Ele fica martelando, tentando de novo. O processo de composição dele é doentio. O disco ficou tão bem acabado, tão bem feito por causa da dedicação dele”, assume Mallu. Vai e Vem é uma baladinha pop pronta para as rádios. E a valsa Linha Verde traz ares de fado com a presença de músicos portugueses. Love You, única em inglês, retoma a linha dos primeiros discos com um folk adocicado.
Disco a parte, ela está feliz como artista, esposa e mãe. Tem recebido muitos pedidos de outros intérpretes (“eu me vejo mais como compositora, do que como cantora”) e ter viajado numa turnê de voz e violão deu a ela mais segurança no palco. E dentro de casa, o aprendizado não é diferente. “Ser mãe está dentro. Eu tenho ajuda do Marcelo. Ele é tão pai quanto eu sou mãe. É um pouco difícil conciliar com uma profissão itinerante, mas eu tenho ajuda”.
SERVIÇO
Mallu Magalhães – Vem
Participação de Dadi, Mario Adnet e Rodrigo Amarante12 faixas
Sony/BMGQuanto: R$ 39,90