Logo O POVO+
Esperando setembro chegar...
Vida & Arte

Esperando setembro chegar...

Sem posicionamento da Secultfor sobre a realização do Salão de Abril, grupo de artistas e curadores dialoga sobre a montagem do evento em setembro, com recursos próprios, e ocupando vários espaços de Fortaleza. História do salão é marcada por polêmicas e problemas
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

 

 

Passou abril, passou maio, junho chegou e não houve sinalização da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) sobre a realização do Salão de Abril. Artistas visuais aguardavam o edital que lançaria as bases para a 68ª edição do evento, mas os meses andaram e, diante do silêncio da pasta, um grupo resolveu tomar as rédeas e “sequestrar” a mostra de arte mais importante da Cidade.

 

 

 

Passou abril, passou maio, junho chegou e não houve sinalização da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) sobre a realização do Salão de Abril. Artistas visuais aguardavam o edital que lançaria as bases para a 68ª edição do evento, mas os meses andaram e, diante do silêncio da pasta, um grupo resolveu tomar as rédeas e “sequestrar” a mostra de arte mais importante da Cidade.
[QUOTE1]

A iniciativa é encabeçada pelo Fórum das Artes Visuais. Julio Lira, artista visual e integrante do grupo, explica que a intenção é fazer um salão em setembro, dividido entre vários espaços de Fortaleza e contando com o apoio de artistas, curadores e produtores culturais. Não será uma apropriação para eximir o poder público da responsabilidade com o Salão de Abril, elucida Julio, mas, sim, uma forma de chamar atenção para o desapreço em relação às artes visuais e a programação.


“E vamos fazer um evento crítico. Uma das funções desse salão vai ser exibir a irresponsabilidade da Prefeitura. Não será um alívio para a Prefeitura”, aponta Julio Lira. O POVO entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secultfor na última quarta-feira, 20, indagando se seria lançado edital para convocar artistas para o salão, quais seriam os prazos e qual seria o modelo do evento em 2017. Na sexta-feira, 23, entretanto, o órgão informou que não seria possível enviar um posicionamento. Até o fechamento desta página, nenhuma resposta foi dada para a reportagem.


Histórico de polêmicas


O Salão de Abril já atravessou dezenas de polêmicas: atrasos nos pagamentos, reclamações sobre o formato de evento, flutuações no calendário entre meses como agosto e novembro, críticas sobre a qualidade das obras inscritas e, em 2013, até a divisão da premiação foi contestada -quando a comissão organizadora e o júri acusaram a Secultfor de não ter respeitado as decisões dos jurados.


Jacqueline Medeiros, curadora da galeria Sem Título Arte, lembra que os salões de arte têm modelos questionados e, para divulgação dos criadores, já existem outros mecanismos no mercado - como circulações e residências. “Mas o Salão de Abril, em Fortaleza, está sendo a única ação de fomento direto das artes visuais, a única política pública. O problema é esse: ele é o único e, se acabar, ficamos sem nada?”. A descontinuidade do salão, aponta a curadora, será sentida visivelmente no futuro próximo.

“O artista deixa de produzir, deixa de criar e de desenvolver. Ele vai para outras profissões, gerando um esvaziamento da arte. Quem pode, vai até para outros estados e países”, pontua Jacqueline.


O artista visual Júnior Pimenta diz que há outros fatores ressaltando a falta de compromisso em relação às artes visuais em Fortaleza. “Por exemplo, eu ganhei um prêmio de residência na última edição (do salão) e só foi pago agora, em maio. Há também os editais, que são garantidos por lei, mas não são obedecidos”, diz, referindo-se ao Edital das Artes, lançado em 2016 e com pagamentos pendentes até agora. “Fortaleza é uma das maiores capitais do País e ter poucas ações de políticas públicas relacionadas às artes visuais é questionável. Até o mês passado, a Prefeitura não tinha nem espaço específico para a linguagem. Criaram recentemente e de maneira improvisada, o Centro Cultural Belchior com um espaço expositivo. São fatores que apontam para o descaso”.

 

SAIBA MAIS


Criado na década de 1940, o Salão de Abril é uma das mais significativas vitrines para a arte cearense - com verbas para premiações e residências.

Ao longo dos anos, selecionou obras de importantes artistas cearenses, dando visibilidade para trabalhos e criadores.


O grupo de artistas e curadores que construiu a iniciativa “salão sequestrado” pretende realizar o evento em setembro, adotando modelo colaborativo. Já foram realizadas reuniões para debater ideias e modelos.

O intuito é espalhar as obras pela Cidade e ocupar, ao menos, 15 espaços.

Além das colaboradores da organização, será desenvolvida uma campanha de financiamento coletivo para custear despesas com produção, montagem e material gráfico.

O que você achou desse conteúdo?