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Batuques de griô
Vida & Arte

Batuques de griô

Regida por Descartes Gadelha, a Orquestra Solar ensaia ritmos a partir da célula básica do maracatu
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De origem francesa, a palavra “griô” – que traduz o termo da língua africana banaman dieli (jéliou djeli) - designa o guardião da memória coletiva de um povo ou comunidade. Espécie de mestres populares, herdeiros de um saber e um fazer transmitidos de forma oral, os griôs são verdadeiras bibliotecas vivas fundamentais para as gerações futuras. Artista plástico, percussionista, compositor... Associar a figura de Descartes Gadelha, 74 anos, nesse contexto é quase uma obrigação.

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Ao adentrar a Associação Cultural Solidariedade e Arte – Solar, o pequeno quintal da sede, batizado com seu nome, não é à toa. Sentado num banquinho, afinando um dos instrumentos, é com sua fala mansa, simplicidade e simpatia habituais que ele recebe seus alunos para uma tarde-noite de ensaios da Orquestra Solar de Tambores. O respeito, visível, faz com que alguns cheguem a cumprimentá-lo beijando a mão.


“É no maracatu que nós vamos achar o nosso eixo psicológico. Nós somos os Freuds de nós mesmos. E aqui é tudo de graça. Quem quiser chegar, pode entrar. A única coisa que eu peço é ouvido”, resume o griô cearense. Projeto de formação cultural continuada da associação, criada em 2005, a orquestra funciona aos sábados, no Teatro Universitário, numa parceria com a UFC.


Reunindo pessoas de idades e profissões diversas, com ou sem experiência no universo batuqueiro, os encontros objetivam um aprofundamento do conhecimento percussivo, tendo como célula básica o maracatu. “O maracatu é uma escola de manutenção africanista. Uma peça, no sentido de expressão, dessas religiões que aqui chegaram. Ele seria o vínculo com a civilização africanista a partir dos ritmos”, define Descartes.


“A pulsação é importante. Cada entidade tem a sua complexidade rítmica, percussiva e encantada. O toque para Xangô, por exemplo, é o alujá (também nome de uma região da África) e por aí vai”, continua ele. Luanda, imalê, babalu, arrasto, baião de maracatu e afoxé de maracatu são os outros ritmos trabalhados durante as aulas que, a partir do dia 3 de junho, serão divididas em turmas de iniciantes e iniciados.


Pingo de Fortaleza é o idealizador e coordenador geral da orquestra, que teve seu projeto contemplado no Edital das Artes 2015 da Secult. “De 2009 a 2011, a Solar desenvolveu o projeto de Ponto de Cultura Fortaleza dos Maracatus. Ele já foi concluído, desenvolvemos um livro e uma exposição, mas também outros trabalhos em vários universos, tendo como programa de formação o maracatu”, explicou.


O Maracatu Solar é um programa de formação continuada da mesma forma como é a Orquestra e a Companhia Solar de Dança. “Esses são os três eixos contínuos.

Mas tem a produção do Festival de Inverno na Meruoca, produção de livros... São cinco eixos que a Solar trabalha: difusão, produção, formação, assessoramento e alguns programas de solidariedade”.


E durante a semana, Descartes, o senhor faz o quê? “Ah, minha filha... Eu faço muita coisa! (risos) Faço minhas macumbas, fico compondo, fico escrevendo, fico fazendo esculturas, costuro até minhas roupas – e na mão, viu! E agora, interessante isso, me reapaixonei pelas pessoas da (Praça do) Ferreira. É impressionante aquilo dali! Meu sonho é promover um grande Carnaval para aquelas pessoas da Praça do Ferreira!”.

 

Serviço

 

Orquestra Solar de Tambores: Turma de Iniciantes e Iniciados

Inscrições: de hoje a 31 de maio, na Associação Cultural Solidariedade e Arte - Solar (Av.da Universidade, 2333 / em frente à Adufc - Benfica)

Início das aulas: 3 de junho

Horários: Iniciantes - das 9h às 11h30min (com Fernanda Brasileiro) / Iniciados - das 14h às 17h30min (com Descartes Gadelha)

Local: Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno/UFC (Av. da Universidade, 2210 - Benfica)

Inscrições e aulas gratuitas

Outras info: (85) 3226 1189

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