Não há, hoje, nenhum projeto que garanta a revitalização da Casa dos Benjamins. O que se planeja é a implementação do parque Rachel de Queiroz, que abrange a área onde se localiza a residência. De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), os 14 bairros por onde o parque se estende devem receber uma operação urbana consorciada, como parte do programa Fortaleza Cidade Sustentável.
“Numa perspectiva futura, como contrapartida de alguns empreendimentos, pode ser contemplada a restauração do patrimônio cultural”, sugere a nota enviada por email, sem especificar prazos ou meios de viabilizar a reforma. O parque foi regulamentado em janeiro de 2014.
A demora em uma definição sobre o bem tombado é motivo de crítica para quem reconhece o valor histórico da preservação do lugar onde morou Rachel de Queiroz. A escritora Socorro Acioli, que biografou a autora cearense, diz que o local, mesmo sem estar em bom estado de conservação, ainda reserva importância por marcar uma fase de relevo para a vida e obra de Rachel, que aportou na residência quando deixou a cidade de Quixadá, ainda criança.
“Foi essa casa que marcou a mudança de status na vida dela. Lá, ela deixou de ser a Rachel educada pela família para se tornar uma Rachel que frequenta a escola”, demarca. “Nessa casa, ela escreveu os livros O Quinze(1930), João Miguel (1932) e parte do Caminho de Pedras (1937). Ela casou lá, ganhou a filha, que também morreu na casa”, acrescenta.
Para a pesquisadora, o espaço deveria abrigar um equipamento cultural que garantisse a preservação da memória de Rachel de Queiroz, mas também incentivasse a leitura e a escrita dos jovens do região. “É muito comum, no mundo inteiro, que as cidades restaurem as casas onde nasceram e moraram grandes escritores. É importante haver um memorial, transformar o espaço em algo muito vivo”, sugere.
A pouca atenção que o espaço recebe também chamou a atenção do fotógrafo Gentil Barreira. Ele foi convidado para fotografar a casa para um trabalho e se encantou. O esquecimento do lugar instigou interesses. “Em qualquer lugar do mundo, essa casa seria um espaço de visitação. Na minha parte, considero quase um lugar de adoração”, compartilha.
Para ele, a criação de um espaço cultural fora do eixo do Centro seria uma das vantagens do lugar. “Tem o exemplo da Casa José de Alencar. É longe, mas as pessoas chegam. É importante deslocar o foco e olhar para outros pontos da Cidade”.