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Filme "O Lagosta" é fábula de uma sociedade sem emoções
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Filme "O Lagosta" é fábula de uma sociedade sem emoções

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O Lagosta (The Lobster) é um filme estranho a começar pelo nome. Agradará a pouca gente. É um daqueles filmes que não tem fim, simplesmente acaba de repente, sem que nada se quede resolvido. O cinéfilo que ligue os fios da meada de acordo com suas convicções. Só este detalhe já é o suficiente para alijar grande parte da audiência (não é um spoiler, pois quem não desistir até a metade de suas duas horas de projeção já terá entendido que será assim). O filme tem no inusitado de seu roteiro o ponto mais alto e a academia foi justa ao lhe indicar para o Oscar de roteiro original (embora tenha sido preterido no prêmio por Manchester à Beira-Mar).


Em um futuro indeterminado, o casamento é um alto valor da sociedade a ponto das pessoas serem obrigadas a se casar (espero que nunca cheguemos a isso!). Quem não consegue, por alguma razão, é enviado a um hotel onde terão 45 dias para apaixonarem-se por alguém entre os hóspedes, sob pena – aqui, a parte mais original e non-sense da história – de, ao término desse período, serem transformados em um animal a sua escolha. O título vem de o protagonista (Colin Farrell) ter escolhido a lagosta para ser o animal em que ele seria transformado caso não obtivesse êxito.


O filme segue a cartilha da estética do absurdo em que as coisas mais bizarras são ditas e vividas na maior naturalidade. É uma distopia em que o ponto mais tenso dessa visão futurista é o fato das pessoas estarem totalmente robotizadas. Elas agem de forma mecânica desprovidas de traços emocionais. Todo mundo é extremamente seco, burocrático e sem vida! É um verdadeiro terror se viver em uma sociedade como aquela, em que os humanos perderam a melhor parte daquilo que nos faz homens: a emoção e os sentimentos, quase completamente!


O filme mostra três segmentos desta realidade futura: a vida no hotel do acasalamento; a vida dos exilados, os que fugiram do hotel antes que fossem transformados em animais e por isso mesmo são caçados como se animais fossem; e a vida cotidiana nas cidades (local reservado para casais que devem sempre se apresentar em público acompanhados). Nos três, a tônica é a mesma: as pessoas estão mecanizadas, e, como é geral, ninguém se dá conta disso. Todos agem como se esse fosse o modo “normal” da condição humana.


O filme é uma crítica à vida contemporânea (toda distopia o é) e, ao caricaturar alguns aspectos de nosso modus vivendi, alerta para o perigo maior a que estamos sujeitos enquanto espécie: a desumanização.


A direção é do, relativamente jovem, cineasta grego, Yorgos Lanthimos, de 47 anos, que já assinou vários filmes com baixa repercussão entre o público, mas com respeito da crítica. Ele e Efthimis Filippou são os responsáveis pelo originalíssimo roteiro. O elenco é de primeira: Colin Farrell, Rachel Weisz e Léa Seydoux entre os protagonistas. A assistir, somente se você for do ramo!


Marcelino Pequeno, Professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC)


Multimídia


Assista ao trailer do filme em

https://goo.gl/wpRUHD

 

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