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Dentro de um universo particular
Vida & Arte

Dentro de um universo particular

|novo suporte| Artista visual cearense Simone Barreto estreia na nova coleção colaborativa da Ahlma, com desenhos e ilustrações que contam sua relação afetiva com a natureza
Edição Impressa
Tipo Notícia
Estampa colaborativa produzida por @ana.estaregui, @simonebarretoilustra, @lotahille e @lukasguinard (Foto: fotos Reprodução Instagram)
Foto: fotos Reprodução Instagram Estampa colaborativa produzida por @ana.estaregui, @simonebarretoilustra, @lotahille e @lukasguinard

Com o propósito de repensar a lógica da moda, tornando-a mais humana, mais "ser" do que "ter", a Ahlma, um coletivo carioca encabeçado por André Carvalhal (você já deve ter ouvido falar neste nome. Se não, vale a pesquisa), propõe nova coleção que nos faz descobrir um outro valor às roupas, que elas, como espécie de relicários, guardam rostos, principalmente memórias. A história de Simone Barreto vai junto. Ela foi uma das convidadas para intervir na criação da Fitoterápica, recém-lançada pelo coletivo, nascido no Rio, e que já hospedou ideias de outro cearense por lá, David Lee.

Na coleção a quatro artistas, Simone abre uma "porta", em tees que te leva ao encontro de um universo particular, totalmente enraizado pela sua relação com o tema, para ela: a ver com plantas de cura e proteção. "Em meus desenhos sempre me interessa muito fabular sobre o corpo e a natureza. Como essas duas grandezas se fundem e se relacionam. Muitas vezes meus desenhos são escritos autobiográficos e as plantas que aparecem ou estão presentes no cotidiano em rituais de auto-cuidado e cura ou estão presentes em meu imaginário", conta.

Nessa costura, associando as modas e os modos, a roupa como suporte aos símbolos, como ela mesma se anuncia, atualiza-se de cultura, servindo-se também de amuleto, por quê não? Além da ilustração de espada de Ogum (ou espada-de-são-jorge), que, segundo Simone, que tem uma em casa e no ateliê, traz proteção e ainda espanta o baixo-astral, ela dá destaque à dama-da-noite, também conhecida como jasmim-laranja.

"A casa vizinha à que cresci tinha uma dama-da-noite e sua moradora, dona Isaura, enfermeira, mãe solo, negra, é uma das mulheres mais fortes que já conheci. Todos os dias, dona Isaura chegava às 19 horas, mais ou menos o horário que a flor emana seu aroma doce e forte, assim como ela. Mesmo perdendo contato depois de mudarmos de lá, todos os lugares que vou procuro uma dama-da-noite e reservo uns minutos desse horário para contemplar seu aroma e lembrar-me de dona Isaura, que não deve jamais ser esquecida", diz.

Outro produto que surgiu dessa colaboração foi uma estampa coletiva assinada por Simone, Priscilla Menezes e Ana Estaregui. "É uma possibilidade incrível de ter o desenho ocupando outros suportes, outros materiais... saindo desse lugar mais sacralizado da arte como os museus e as galerias e estarem em corpos em movimento, se deslocando e habitando outros lugares, vê a cearense, que tem uma pesquisa artística que flerta com o bordado, tecidos, linhas, mas na moda é a primeira vez.

Sua pesquisa sobre a participação das mulheres nas colheitas de algodão (CE), apesar de também não relacionada à moda, com o trabalho recente, a faz hoje enxergar propósitos, olhar para um diálogo possível. "A indústria têxtil é a segunda que mais produz lixo no mundo. Saber de onde seu produto vem é garantir um futuro melhor para todos que co-existem nesse planeta. A Ahlma se compromete a produzir com consciência e isso me fez ver proximidades entre arte, moda e visão de mundo", observa Simone.

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