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A hora do protagonismo feminino no universo Marvel
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A hora do protagonismo feminino no universo Marvel

| Capitã Marvel | Após 20 filmes protagonizados por homens, finalmente, uma mulher estrela a obra do Universo Cinematográfico Marvel. E Carol Danvers chega para provar que não é uma super-heroína qualquer
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Brie Larson estreia como Carol Danvers em
Foto: Divulgação Brie Larson estreia como Carol Danvers em "Capitã Marvel", cuja estreia nacional é em nesta quinta-feira, dia 7/3/2019

No longínquo ano de 2008, quando a possibilidade de um universo cinematográfico integrado de super-heróis mal passava pela cabeça do público mundial, o diretor Jon Favreau e o ator Robert Downey Jr. provaram que quadrinhos da Marvel podiam ser imensos sucessos financeiros no cinema. De lá para cá, o Homem de Ferro ganhou outros dois filmes, Capitão América e Thor também tiveram três e até o Homem-Formiga já protagonizou dois longas. Ao todo, os estúdios Marvel já lançaram 20 longas. E nenhum deles tem protagonista feminina. Até hoje.

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Para quem conhece os quadrinhos, a cena pós-crédito de "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) deixou claro. Nick Fury (Samuel L. Jackson) manda uma mensagem para Carol Danvers (Brie Larson) e parece que os Vingadores terão o reforço da Capitã Marvel para o tira-teima contra Thanos. Só que, antes desse novo ápice cinematográfico da Marvel, o universo integrado da produtora retorna aos anos 1990 para mostrar quem é essa mulher super-poderosa.

"Capitã Marvel", de Anna Boden e Ryan Fleck, centra-se na personagem criada por por Roy Thomas e Gene Colan em 1968, mas que só virou ícone nove anos depois, quando o roteirista Gerry Conway a imbuiu de ideais femininos (e feministas) e superpoderes. Carol Danvers só virou a Capitã Marvel em 2012, mas, desde então, é personagem central dos Vingadores. Afinal, não é todo dia que surge alguém com força, velocidade, durabilidade e reflexos sobre-humanos, com capacidade de voar e soltar rajadas de energia (fotônicas) dos dedos.

Ex-Miss Marvel, Warbird e Binária, Carol Danvers batalhou até virar um sucesso. E talvez por isso seja tão importante que ela seja a primeira mulher protagonista de longa da Marvel. Uma injustiça com a Viúva Negra, que está lá desde "Homem de Ferro 2" (2010), mas ok.

O contexto do longa é um bem conhecido do público dos quadrinhos: a guerra entre dois povos alienígenas, os kree e os skrull. Danvers é uma ex-piloto da Força Aérea norte-americana que é recrutada pela Starforce, grupo militar de elite dos kree. De volta à Terra, ela tenta descobrir quem ela é, enquanto luta para salvar o planeta do conflito entre as forças extraterrestres.

Além de Carol Danvers/Brie Larson, ganhadora do Oscar por "O Quarto de Jack" (2015), o filme conta com o retorno de Nick Fury (Samuel L. Jackson), Ronan, o Acusador (Lee Pace), agente Coulson (Clark Greeg) e Korath, o Perseguidor (Djimon Hounson). O elenco traz ainda Jude Law, como Yon-Rogg, Annette Bening, como a Inteligência Suprema, e Ben Mendelsohn, como o skrull Talos, o Indomável.

O foco, porém, segue todo em Brie Larson, primeira protagonista Marvel com um Oscar, primeira mulher a centrar uma trama Marvel e a intérprete daquela que promete ser a salvação dos Vingadores diante de Thanos.

De novo o tal do boicote

Tal qual com "Star Wars: O Despertar da Força" (2015), "Os Últimos Jedi" (2017) e "Caça-Fantasmas" (2016), tão logo começou a divulgação de uma obra dentro de um universo nerd sendo protagonizada por personagem feminina, também teve início a reação negativa. E isso antes de o filme estrear. Na internet, pululam pedidos por boicote do longa.

Na semana que antecede a premiere internacional de "Capitã Marvel", o site agregador de críticas Rotten Tomatoes teve de agir para impedir campanha negativa puxada por provocadores que tentam desestabilizar nichos na internet. O portal acabou desabilitando a possibilidade de fãs - ou detratores - comentarem sobre um filme antes do lançamento.

Segundo o jornal inglês The Guardian, em questão de semanas a avaliação do público sobre o longa caiu de 96% de aprovação para 54%, em um movimento considerado não natural. Vale lembrar que nem os 96% elogiavam baseados no que já assistiram.

A sensação é de que o público nerd médio não consegue compartilhar brinquedo. O comportamento tóxico, que rejeita qualquer tipo de representatividade diferente da hegemônica, acaba perpetuando sempre o mesmo tipo de cinema. A DC/Warner, com "Mulher-Maravilha" - melhor longa do minguado universo compartilhado de lá - e a própria Marvel, com "Pantera Negra", mostraram a força da quebra. "Capitã Marvel" é outro passo nessa direção.

O fascinante do cinema é o poder de surpreender. E, para isso, todo mundo deve estar aberto para amar algo - ou mesmo se decepcionar. Capitã Marvel e Brie Larson não são o feminismo roubando espaço dos fãs de quadrinhos. São, na verdade, possibilidades de que novos públicos se identifiquem e amem HQs.

 

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