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Sérvulo Esmeraldo - O menino do Crato faz 90 anos
Vida & Arte

Sérvulo Esmeraldo - O menino do Crato faz 90 anos

| aniversário | O artista vai ser tema de uma série de ações comemorativas ao longo dos próximos meses. Abertura do "Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo" acontece hoje, no Cineteatro São Luiz
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Sérvulo planejava viver até os 100 anos. Engenheiro das formas e um dos mais representativos nomes da arte cearense, ele partiu em 1º de fevereiro de 2017, aos 88 anos. A história do artista plástico, como ele mesmo costumava dizer, começou com a apreciação da linha do horizonte na Chapada do Araripe. O menino do Crato, entretanto, partiu para alcançar voos surpreendentes. Salpicou suas formas e desenhos pelo continente europeu. Estabelecido na França, Sérvulo Esmeraldo foi o responsável por uma das mais abrangentes e perspicazes pesquisas sobre a arte cinética - referência para novos artistas até hoje. Mas ele voltou, como conta Dodora Guimarães - curadora de arte e viúva de Sérvulo - por acreditar na generosidade da arte pública. "A volta dele para o Brasil representa esse desejo. Ele veio para colaborar", diz Dodora.  

Vitimado por uma falência múltipla de órgãos, Sérvulo partiu antes de chegar ao centenário que tanto sonhava. Mas não é por isso que a vida e a obra do artista cearense deixarão de ser celebradas. Hoje acontece a abertura do Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo - iniciativa da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). O evento - que lança a base para uma série de comemorações - terá cerimonial celebrativo, apresentação musical e exibição de documentário Sérvulo Esmeraldo: o espaço no infinito. Fabiano Piúba, gestor da pasta, explica que a princípio ainda não estão traçadas em detalhes quais programações vão integrar o Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo. O intuito, segundo ele, é ter uma comissão para pensar quais ações podem ser desenvolvidas. "Pensar a difusão da obra com seminários, filmes que podem ser exibidos e outras ações. É um ano importante para celebrar e viver Sérvulo Esmeraldo", diz.

Sérvulo faria 90 anos em 2019. Sua memória permanece em obras espalhadas pela cidade - como La femme Bateau (que devido a questões burocráticas ainda não voltou para seu lugar na Praia de Iracema), Pulsação (obra de 1980 que está instalada no Viaduto Antônio Martins Filho), o Interceptor Oceânico (que sofre com a degradação no trecho da praia), e Ballet-Gráfico (que após revitalização está na Praça da Sé). Transformar Fortaleza em um grande museu - aproveitando a fartura de luz solar - foi o objetivo do artista quando resolveu deixar a carreira consolidada no estrangeiro e retornar para a Capital. "Ele é um exemplo de homem que foi e, como se diz, fez a vida lá fora. E ele voltou. Todo cearense volta", diz Dodora. 

O material divulgado pela Secult sobre o conjunto de celebrações explica que o Governo do Estado vai enviar um Projeto de Lei a ser votado na Assembleia Legislativa, "cuja finalidade é instituir 2019 como o Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo". Dodora Guimarães vê os próximos meses como uma oportunidade para os cearenses conhecerem e encontrarem significados nas obras que estão espalhadas pela Cidade. Muito do vandalismo e da degradação as quais as esculturas estão expostas, diz a curadora de arte, vêm do lugar de desconhecimento da importância dessas obras. "A gente só preserva aquilo que ama", aponta Dodora.   

Abertura do Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo

Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 - Centro)

Quando:hoje, 27, às 19 horas

Entrada gratuita

Exposições

Dodora Guimarães, maior especialista na obra de Sérvulo Esmeraldo, está trabalhando em uma exposição no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc). As peças, até então desconhecidas por ela, são um conjunto dos primeiros anos de produção do cearense na França - compreendendo o intervalo dos anos 1950 e 1960. São, como a curadora diz, os "Verdes Anos". Também serão realizadas exposições, em 2019, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Projetos

Entre os sonhos de Dodora para 2019 está um Festival de Arte na Região do Cariri e a edição de um livro sobre a obra Femme Bateau. A peça, equilibrada sobre as longarinas da praia, foi levada pelo mar em 2018. Por questões burocráticas, a peça - que é uma das mais reconhecidas pelos fortalezenses entre a produção de Sérvulo Esmeraldo - ainda não voltou ao local original.

La Femme Bateau poderá ser recolocada na ponte neste semestre

Ela é uma das obras mais reconhecidas da vasta produção de Sérvulo Esmeraldo. Disposta nas longarinas da Ponte dos Ingleses e banhada pelo mar, La Femme Bateau se tornou um ícone entre os frequentadores da Praia de Iracema. Instalada pela primeira vez em 1994, a obra era uma escultura cinética em fibra de vidro, com medidas de 1,50 por 5,5 metros. Como boa navegante, a "Mulher-Barco" teve idas e vindas para esse porto. Sua última chegada foi em 2017, quando a obra foi reconstruída em aço inox pintado.

Mas, atualmente, a "Mulher-Barco" sonhada por Sérvulo Esmeraldo como guia e farol para os fortalezenses não está disponível para apreciação de quem circula pela praia. A peça - que havia sido novamente implantada graças ao projeto "Reconstrução, Restauro e Conservação de Esculturas de Sérvulo Esmeraldo", uma parceria da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) com o Instituto Sérvulo Esmeraldo - foi deslocada das longarinas onde estava devido a força da ressaca do mar. Era fevereiro de 2018, um ano atrás, e criou-se uma verdadeira comoção na Cidade. Todos queriam saber para onde havia ido La Femme Bateau e quando ela voltaria. Isso acontece porque, ao lado do naufragado Mara Hope, a peça de Sérvulo Esmeraldo é uma das referências da Praia de Iracema. Não raro, encontramos pessoas com camisetas e outros itens estampando os contornos da escultura.

Ao O POVO, Dodora Guimarães contou do desejo de ter a peça disponível novamente para apreciação pública, uma vez que ela está totalmente restaurada mas ainda não voltou ao seu lugar ideal simplesmente por conta de burocracias. "A Secultfor realizou todos os esforços para buscar e resgatar, junto ao Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), a obra que se encontra hoje em posse do Instituto Sérvulo Esmeraldo, órgão detentor da escultura", explicou o órgão em nota, que diz ainda que "atualmente, encontra-se em andamento o processo para firmar parceria entre a Secultfor e o Instituto Sérvulo Esmeraldo visando o restauro e a instalação da La Femme Bateau. A previsão é que a obra retorne à Cidade ainda neste semestre".

 

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