Joyce Fernandes é conhecida como Preta Rara há quatorze anos, mas desde a infância a denominação carrega sua identidade, quando foi carinhosamente apelidada de "rarinha". Na hora de escolher o nome artístico, Preta lembrou do apelido que recebeu da mãe por gostar de coisas "diferentes" das outras meninas da época. Gostava dos carrinhos e não de bonecas. Agora, aos 33 anos, a rapper leva suas singularidades ao cenário musical. "Eu comecei a utilizar a música para falar sobre racismo, machismo, homofobia, porque é um meio rápido de fazer essas informações chegarem até as pessoas. É por isso que eu escolhi o rap. Para mim, o rap é um entrevista falada da periferia, é uma revista falada do povo preto", comenta a ativista.
Nesta semana, Preta Rara compõe a programação da Feira 2019, que acontece entre hoje e domingo, 17. Mais diverso e plural, o evento traz apresentações musicais (o Campo de Força) com foco nas mulheres, no movimento negro e nas periferias, além dos eixos Interfaces de Conversação (conhecimento) e Zona de Propulsão (negócios). O Campo de Força se concentra nos Anfiteatros do Dragão do Mar e no Porto Dragão, onde mais de 15 atrações de cinco estados prometem utilizar o espaço para levantar bandeiras sociais e políticas. O evento é gratuito.
Os palcos contarão com a presença de nomes como a cearense Ilya, que lança disco inédito na ocasião; o Sinta A Liga Crew, coletivo feminino de rappers e ativistas culturais; a DJ Luh Del Fuego, artista no grupo Criolina, entre outras atrações. Representado também a cena feminina cearense, Carolina Rebouças, Lorena Lyse, Luiza Nobel e Roberta Kaya levam Negro Voz, seu trabalho autoral, ao palco da Feira.
"Não abrimos inscrição neste ano, as atrações foram convidadas de acordo com o conceito desta Feira, que propõe abordar questões ligadas ao feminismo e outros grupos de resistência. A programação foi montada com foco na mulher, nos LGBTs, nos negros, na população periférica", explica Thais Andrade, produtora dos shows de Feira. Quem abre a programação musical é Cacique Pequena, a primeira mulher cacique da América Latina e grande símbolo de resistência feminina e indígena.
Além do Campo de Força, a Feira conta com outros dois eixos: a Zona de Propulsão representando os negócios, e a Interface de Conversação, representando o pilar do conhecimento. O diferencial desta edição, conforme explica Ivan Ferraro, idealizador do evento, é a conexão entre agentes do hackerismo e do universo da música. "Grande parte do ecossistema da música está inserido nessa lógica digital, então nos inserimos também e tentamos fazer com que produtores entrem mais fortemente nesse meio", conta. Ele elucida que a Zona de Propulsão foi pensada como espaço de desenvolvimento de ideias, projetos e soluções da área da música dentro do universo hacker. A zona traz mesas com temas como "Aperitivo com Dados - Etnografia fundamentada em Dados", "Cripto o que, mah?" e "Quem tem medo da internet?".
A programação da Interface de Conversação é composta por nomes como Cláudio Prado, produtor cultural e teórico da contracultura e da cultura digital e um dos fundadores do Mídia Ninja; Lorena Souza, da ThoughtWorks, empresa de tecnologia que atua com empreendedorismo social envolvendo também a juventude negra; Kamila Brito, empreendedora que coordena o Barco Hacker, projeto com foco em empreendedorismo pelas ilhas da Amazônia e mais de 30 especialistas. "A intenção é mostrar que precisamos construir uma política digital para as artes, para a música", esclarece Ivan.
Preta Rara também participa deste eixo com a roda de conversa "Música, periferia e negritude: a arte do gueto é do mundo", que acontece às 16h30min da sexta-feira, 15, no Auditório do Dragão do Mar. "A importância da Feira abordar feminismo, negritude e periferia é estar inserido nessas conversas, é importante mostrar pra galera da música que ser artista também é se posicionar, entender o que acontece no seu País e quem é o seu público", diz a rapper.
Confira programação musical da Feira
Campo de Força
Quinta-feira, 14
Palco TransFeira
Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar
21h: Toré Cacique Pequena e Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé
21h45: Preta Rara (SP)
Palco Mineração De Asteróides
Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar
23h: Festa de Abertura - DJ Lara Monteiro
Sexta-feira, 15
Palco Acelerador de Partículas
Porto Dragão
13h: Pausa para o café (CE)
Palco TransFeira
Anfiteatro Centro Cultural Dragão do Mar
21h: Ilya (CE)
22h: Sinta A Liga Crew (PB)
23h: Hiran (BA)
Palco Mineração de Asteróides
Novo Anfiteatro Centro Cultural Dragão do Mar
22h30: Hell Lotus (RN)
23h: DJ Priscilla Delgado (CE) e Luh del Fuego (MA)
23h30: Minas de Sobral (CE)
00h: DJ Priscilla Delgado (CE) e Luh del Fuego (MA)
00h30: Negra Voz (CE)
1h: DJ Priscilla Delgado (CE) e Luh del Fuego (MA)
1h30: Jessica Caitano (PE)
2h: DJ Priscilla Delgado (CE) e Luh del Fuego (MA)
2h30: Getúlio Abelha (CE)
Sábado, 16
Palco Acelerador de Partículas
Porto Dragão
13h: Stefany Mendes (CE)
Palco Mineração de Asteróides
Novo Anfiteatro Centro Cultural Dragão do Mar
23h: Viva la Vulva (CE)
Banda SelvaBeat - Clau Aniz, Roberta Kaya, Clarisse Aires, Luana Caiube, Thaís Clim, Ayla
Lemos, Caio Castelo.
Participações: Cecilia Mesquita, Nayra Costa, Samara Garcia, Amanda Pinheiro, Gabi Savir,
Bloco Cola Velcro
Performances: Silvia Moura, Elisa Porto e Marília Oliveira, Amanda Aristides, Noah Bonoba
DJs: Gabilônia, Loreta Dialla, Bia Gondim
Sarau Antologia Erótica Escritoras Cearenses: Sara Sintique, Nina Rizzi, Argentina Andrade,
Ayla Andrade acompanhadas de performance sonora
Projeções: Thais de Campos
Serviço
Feira 2019
Quando: 14 a 17 de fevereiro
Onde: Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Gratuito