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| Cinema | Greta, primeiro longa metragem dirigido pelo cearense Armando Praça, tem estreia mundial hoje, na mostra Panorama do 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim
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Denise Weinberg em Greta, de Armando Praça (Foto: aline belfort)
Foto: aline belfort Denise Weinberg em Greta, de Armando Praça

Pedro (Marco Nanini), um enfermeiro gay de 70 anos, é fã de Greta Garbo. Quando precisa liberar um leito no hospital onde trabalha para salvar a travesti Daniela (Denise Weinberg), sua melhor amiga, ele decide facilitar a fuga de Jean (Démick Lopes), um paciente criminoso que está sob custódia da polícia. Preocupado com o estado de saúde de Jean, Pedro esconde-o em sua própria casa para que possa tratar do seu ferimento. Eles acabam se envolvendo sexualmente, numa relação cheia de afetos e tensões.

Esta é a trama central de Greta, longa de estreia do cineasta cearense Armando Praça, que terá sua première mundial hoje na prestigiada mostra Panorama, do 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim, um dos três mais importantes eventos internacionais do gênero (os outros são os festivais de Veneza e Cannes). O filme é uma adaptação da peça Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá, do pernambucano Fernando Melo, e levou dez anos para sair do papel.

Ao contrário do espetáculo que lhe deu origem, o filme passa longe da comédia de riso fácil. Armando optou por se debruçar sobre relações e subjetividades, retratadas geralmente em situações limites. As filmagens ocorreram em Fortaleza, para onde a ação foi transferida, no segundo semestre de 2017.

"Procurei na ambiência sociocultural de Fortaleza as contradições que se revelam nos desejos e anseios dos próprios protagonistas", explica o cineasta. "A concepção do longa como um todo é fortemente influenciada pelas obras de alguns artistas contemporâneos, como o cineasta malaio Tsai Ming Liang, o filipino Brillante Mendonza e a argentina Lucrécia Martel, cuja maneira de desconstruir e flertar com os gêneros me inspira profundamente".

Antes de dirigir seu primeiro longa, Armando vem de uma premiada carreira em curtas-metragens. Filmes como Parque de Diversões (2002), O Amor do Palhaço (2006) e Mulher Biônica (2008) tiveram sua excelência reconhecida em importantes festivais internacionais.

Além disso, Armando atuou como pesquisador para roteiros, produtor, preparador de elenco e primeiro assistente de direção em 15 longas-metragens, com grandes nomes do cinema brasileiro, como Marcelo Gomes (que acaba de estrear seu novo filme, Estou me guardando para quando o carnaval chegar, também na mostra Panorama, em Berlim), Karim Aïnouz, Sérgio Rezende, Halder Gomes e Rosemberg Cariry, entre outros.

Com Greta, finalmente Armando Praça enfrenta o desafio de realizar seu primeiro longa. E o faz muito corajosamente. Não só pelo tema que decidiu abordar no filme, mas também pela maneira como o abordou.

Pelo trailer (disponível no Blog do Maranhão - https://bit.ly/2WWo35J) é possível observar que o cineasta não teve medo de contar a história com a intensidade que ela pede para ser contada.

Mas não é só. A própria escalação de uma atriz cisgênero (a excelente Denise Weinberg) para interpretar uma travesti já sinaliza que Armando não teme a polêmica. E antes que alguém levante a primeira pedra, a atriz trans Gretta Star, que atuou nos curtas Os sapatos de Aristeu (2008) e Quem tem medo de Cris Negão (2012), ambos dirigidos por René Guerra, interpreta uma mulher cisgênero no filme. Numa sinalização clara que o cineasta optou por estremecer certezas.

Além de Armando, estão em Berlim para a exibição de Greta os atores Marco Nanini e Démick Lopes, os produtores João Vieira Jr. e Nara Aragão, e a montadora Karen Harley. Depois da sessão de hoje, o filme voltará a ser exibido amanhã, quinta-feira, sábado e domingo.
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