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Olhar estrangeiro
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Olhar estrangeiro

| debate | Mostra de Tiradentes trouxe programadores de fora do Brasil para refletir sobre a produção nacional e sua inserção em festivais pelo mundo
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Cena do filme As boas maneiras (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Cena do filme As boas maneiras

Que o Brasil carrega certos estereótipos culturais pelos olhos de quem vê de fora, não é novidade. Mas e o cinema feito aqui, que marcas e pré-conceitos carrega consigo por esse olhar estrangeiro? Foi essa uma das preocupações da 22ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que terminou no último sábado, 26. Com presença internacional recorde, inclusive no júri da crítica, o evento dedicou alguns momentos para estrangeiros do audiovisual discorrerem sobre a área no Brasil. O Vida&Arte acompanhou um deles.

Os argentinos Diego Lerer (que, entre outros trabalhos, ajuda na seleção da Quinzena dos Realizadores, paralela do Festival de Cannes) e Violeta Bava (consultora do Festival de Veneza), a equatoriana Maria Campaña Ramia (programadora do evento mexicano Ambulante e do equatoriano Encuentros del Otro Cine) e a francesa Mathilde Henrot (programadora de Sarajevo e Locarno) foram convidados na quinta, 24, a debater o tema. A mediação foi da curadora Lila Foster.

De início, os programadores estabeleceram que o recorte curatorial de cada evento influencia na maior ou menor seleção de longas de determinados países. Se um festival tem mais sessões, abarca um número maior de selecionados - o que, por consequência, pode se desdobrar em mais obras do Brasil, por exemplo. Se um evento for menor, esse processo é mais difícil.

"O Brasil é o país da América Latina mais imprevisível para mim", considerou Diego, referindo-se à produção audiovisual. "(O cinema brasileiro) não repete a fórmula que grande parte do cinema latino-americano traz", opinou, lembrando da adequação de certos filmes a um "ideal europeu" do que deve ser uma obra feita na região. Para María, a colaboração nos processos é característica da produção documental no País, a que a programadora mais acompanha. "O cinema brasileiro é um mundo imenso para generalizar, mas nos documentários há um espírito colaborativo entre os realizadores e os personagens", afirmou, citando filmes como Baronesa, de Juliana Antunes, e Meu Corpo É Político, de Alice Riff.

Os programadores também afirmaram que momentos de crise política - como os que assolaram o País nos últimos anos - chamam a atenção dos diretores dos principais festivais, que procuram refletir cinematograficamente sobre essas questões. Um exemplo recente é O Processo, documentário de Maria Augusta Ramos que trata do impeachment de Dilma Rousseff e foi premiado em Berlim.

Falando de festivais internacionais - além de Berlim, há Cannes e Veneza -, Diego lembrou da participação do cearense Karim Aïnouz na Quinzena dos Realizadores em 2011. Nessa tríade, porém, a participação brasileira costuma ser reduzida. Os convidados da mesa, no entanto, lembram que há eventos importantes em outras cidades e países que dão espaço para a produção nacional. Violeta, que também trabalha no Festival de Macao, lembra que, pela aproximação cultural e linguística da região - apesar de ser na Ásia, há influência portuguesa -, lá a presença de filmes do Brasil e de Portugal é constante.

Em Locarno, lembrou Mathilde, a seleção de longas daqui também é forte. Em 2017, por exemplo, o terror As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, foi exibido na competição principal do festival suíço e saiu premiado. A francesa é também diretora de operações da plataforma online Festival Scope, iniciativa que se mostra uma saída para realizadores interessados em ver a obra atingindo diferentes públicos. "(O Festival Scope) é uma sala virtual que retoma algumas programações de festivais, ampliando a ideia da promoção dos filmes. (Assim), o público pode ter acesso a obras que não são fáceis de achar", explicou.

O jornalista viajou a convite do evento

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