Cada um de nós se relaciona com o sexo de forma distinta. Na nova série original da Netflix, a britânica Sex Education (ou Educação Sexual), esta relação passa a ser pano de fundo (e, muitas vezes, protagonista) da vida dos alunos da escola Moordale Secondary, na Inglaterra. Grosso modo, a série mostra, nos oito episódios da primeira temporada, que todos (ou quase todos) têm alguma particularidade sexual que se esconde ali no fundo de obsessões, hábitos, timidez, insegurança, excessiva segurança, baixa auto-estima e outras características.
Lançada no último dia 11, Sex Education gira em torno do protagonista Otis (Asa Butterfield), um adolescente de 16 anos, virgem e tímido, que não tem muitos amigos. Sua mãe é a terapeuta sexual Jean Milburn, vivida pela atriz Gillian Anderson (famosa por sua personagem Dana Scully em Arquivo X), que, depois de se divorciar, não consegue estabelecer relações afetivas com seus - diversos - parceiros, reduzindo-os a encontros casuais e sexuais em sua casa. Ironicamente, Otis acaba seguindo os passos da mãe, quando Maeve Wiley (Emma Margaret Tachard-Mackey) vê na habilidade e paciência de Otis uma possibilidade de ganhar dinheiro: a dupla resolve abrir uma "clínica de sexo", onde o jovem vira terapeuta sexual, enquanto a colega busca clientes.
Maeve é uma persona fundamental para o desenvolvimento da narrativa. Alvo de cruéis fofocas na escola (principalmente, de cunho sexual, como supostamente ter feito sexo oral em 12 rapazes em apenas 10 minutos), a jovem é mais complexa e inteligente do que sua aparente rebeldia. Outra figura importante na trama é Eric (Ncuti Gatwa), negro e gay que sofre bullying na escola, mas que leva a vida sempre de forma leve (e, por vezes, ingênua). Melhor amigo do protagonista, Eric se revela uma pessoa forte e combativa após ter de atravessar graves problemas. Torna-se um querido dos espectadores, com um coração imenso, além de ter um estilo espalhafatoso e bem original.
A forma como a criadora da série, Laurie Nunn, constrói os personagens é bastante generosa e íntima. Em apenas 8 episódios (de, em média, 50 minutos), ela consegue aprofundar nas questões das quatro pessoas centrais da trama, fazendo com que o público se envolva bastante, além de conseguir desenvolver outras figuras mais periféricas, mas que, de várias formas, perpassam este núcleo principal.
Sex Education é uma série voltada para o público adolescente, mas que consegue se descolar do rótulo de "teen" para ser algo híbrido. As histórias prendem a atenção, abordando bullying, violência contra homossexuais, disfunções sexuais, machismo, paixão, aborto, viagra, auto-estima, pressão social para transar e muitos outros assuntos, de forma natural e, o mais importante, expondo e despindo tabus. Por exemplo, o fato de o personagem Jackson ter duas mães não é algo discutido no texto da série, pois é sutilmente e totalmente naturalizado (como tem de ser).
Tudo isto acontece com uma estética muito própria, em que o período no qual a vida daquelas pessoas acontece não fica claro. A julgar pela trilha sonora, por algumas das roupas e pelos carros, a série pode se passar nos anos 1980. Mas este recado da criadora é compreendido: não é fundamental saber a época em que a trama se passa, mas, sim a forma como as discussões avançam. Por todos estes motivos - e por muitos outros -, a série tem sido acompanhada, com curiosidade, por adolescentes e adultos.