A pouco mais de um ano e três meses das eleições municipais, os partidos já começam a colocar seus carros na pista. Embora haja ainda uma longa estrada pela frente, as movimentações antecipam o pleito de Fortaleza.
Dois fatores estão por trás desse ritmo acelerado na agenda política da Capital: o fim das coligações proporcionais, que obriga as legendas a ter um postulante majoritário e assim ampliar chances de eleger vereadores. E a imprevisibilidade da disputa presidencial de 2018.
Como ninguém quer se surpreender, cada legenda passou a escalar com antecedência os nomes com potencial para entrar na corrida pela sucessão do prefeito Roberto Cláudio (PDT) em 2020. A começar pelo próprio pedetista, que posicionou os holofotes sobre o seu secretário de governo, Samuel Dias.
Foi no início da semana. Num palco de teatro, o prefeito cedeu protagonismo ao auxiliar, a cargo de quem estará a implementação de um pacote milionário de obras na cidade.
Ali, no tablado do São José, o gestor cercou-se de antigos aliados, como Ciro Gomes (PDT), e de novos, quem sabe. O principal é o senador tucano Tasso Jereissati, cujas relações com os Ferreira Gomes têm se distendido desde que Cid se tornou o seu colega de Casa.
Com um olho no presente e outro em 2020, "RC moveu uma peça importante no xadrez político", analisa Cleyton Monte. Articulista do O POVO, o pesquisador diz que o gesto do prefeito quebrou uma regra de ouro na cartilha eleitoral do clã de Sobral, da qual é aliado.
"O que faz o prefeito antecipar a disputa?", pergunta o cientista político. "É de praxe o grupo lançar candidatos já bem próximo das eleições, mas agora resolveram deixar a cartilha de lado exatamente porque a disputa do ano que vem é imponderável".
Segundo Monte, o que se viu no ano passado, com a vitória de Jair Bolsonaro com apenas 11 segundos de tempo de propaganda e quase nenhuma estrutura partidária, deixou os políticos escaldados.
"Houve um terremoto na forma de fazer política no Brasil. Acredito que os atores decisórios começam a perceber que, se não demarcarem posição desde já, terão dificuldade grande em 2020", afirma Monte. "Quem entrar na disputa da mesma forma como sempre entrou está correndo risco de perder a eleição."
Ex-senador, Luiz Pontes já entendeu o recado. "A eleição do Bolsonaro mudou as coisas", reflete o tucano, que assumiu recentemente o comando do PSDB no Ceará. "Agora vai ser televisão e mídias sociais."
Essa mudança de eixo impõe uma alteração radical na maneira como as siglas fazem suas campanhas. "Temos de começar a mobilizar o partido desde agora", afirma Pontes.
E então cita dois nomes com potencial para o ano que vem. O primeiro é o de Carlos Matos, ex-deputado, presidente do PSDB em Fortaleza e pré-candidato da legenda em 2020. "Ele está com disposição", avisa.
O outro é Capitão Wagner (Pros), deputado federal mais votado em 2018, forte concorrente na corrida ao Paço e, conforme Pontes, "o único candidato conhecido mesmo" do eleitorado fortalezense. Para o dirigente, o parlamentar larga com vantagem.
Deputado federal pelo PSL, Heitor Freire sabe disso. À frente do partido de Bolsonaro no Estado, Freire deixa claro que seu objetivo ano que vem "é lutar pelo fim da oligarquia dos Ferreira Gomes". Para isso, diz ele, o PSL não irá "medir esforços", o que inclui eventual apoio a Wagner já no primeiro turno.
"O Capitão é um bom opositor ao clã", considera Freire. O deputado pondera, no entanto, que o PSL vai decidir "com calma e avaliando todos os cenários possíveis".
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