Há uma remota chance de Bruno e Fernando terem feito o mesmo voo em setembro de 2017. Era o mês de realização do Rock in Rio e o casal ainda não se conhecia. Bruno viajava para o show que prometia ser destaque do festival, da cantora americana Lady Gaga, que por motivos de saúde acabou cancelando a apresentação. Já Fernando embarcou para a cidade maravilhosa na expectativa de assistir à dupla britânica Pet Shop Boys - estes, sim, fizeram um show icônico no festival. Há uma remota chance de Bruno e Fernando terem se esbarrado na Cidade do Rock. Talvez eles tenham se visto na fila do banheiro, na fila para comprar souvenirs ou na fila para comprar comida. Os dois podem até ter se visto no aeroporto, já na volta para casa. Talvez eles tenham trocado olhares sem saber que, no futuro, seriam o amor um do outro.

A contradição entre distância e proximidade é uma constante que alimenta o namoro dos dois. Pouco antes de se conhecerem, explica o enfermeiro Bruno Eduardo Santos, 26 anos, ele já havia traçado o plano de voltar para sua cidade natal - Caxias, no Maranhão. Mas conseguiu um emprego e resolveu permanecer por mais algum tempo em Fortaleza. Conheceu Fernando Henrique Lima, 40 anos, logo em seguida e percebeu que não apenas no trabalho - mas também no amor - havia tido sorte. As diferenças entre eles, entretanto, são muitas. Das mais óbvias - como a idade, a profissão, a altura e a cidade de origem - até as preferências culturais. Fernando é um nerd convicto, tem coleções de revistas em quadrinhos, assiste a todos os lançamentos do Universo Cinematográfico Marvel na pré-estreia e não gosta muito de uma tal cantora que, certa vez, usou um vestido de carne. Bruno ama as divas da música, escuta pop eletrônico diariamente e se denomina um "little monster" - pessoa que é fã da cantora americana Lady Gaga.

Há um ano juntos, Bruno e Fernando adicionam amizade, companheirismo e aprendizados diários para fazer a equação desse relacionamento ter um bom resultado. Juntos, eles assistem aos shows de música pop na televisão, jogam videogame e colecionam revistinhas em quadrinhos. Bruno explica que aprender a conciliar as diferenças tem sido um exercício fundamental e praticado pelos dois em igual medida. Cada um consegue ceder até o limite que lhe faz bem. O enfermeiro, por exemplo, foi para a pré-estreia de Vingadores - Ultimato, o filme de cultura geek mais aguardado dos últimos anos. Mesmo após um dia de trabalho, esteve lá, da meia-noite às três horas da manhã, vendo um punhado de super-heróis tentaram salvar o mundo. Assistiu à produção da Marvel mais uma vez, alguns dias depois, e até conseguiu embarcar na aventura icônica. "Mas na terceira ida ao cinema eu já disse não dava, né? Três vezes é demais", brinca.

"As diferenças, bom, nós lidamos da melhor forma possível. Se Lady Gaga viesse para o Brasil, a gente iria. Assim como eu assisto a todo filme da Marvel, por mais que eu ache sufocante. Mas eu vou assistir todos. Nós tentamos conciliar as diferenças e fazer com que dê certo", argumenta Bruno. Fernando explica que, apesar da coleção de diferenças, há muitos pontos de coalização no relacionamento - "como a dedicação aos estudos, um pouco de teimosia e o amor por RuPaul", brinca. "As diferenças vão desaparecendo no cotidiano, não literalmente, mas você não sente tanto elas. Você vai aprendendo a conciliar como base da existência e vai pautando o relacionamento não apenas no que se difere, mas no que se iguala. E essa igualdade vai criando os tijolos que vão construindo esse muro chamado relacionamento", elucida Bruno.