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Ministério ameniza declaração de que Guedes deixaria o País
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Ministério ameniza declaração de que Guedes deixaria o País

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Paulo Guedes é ministro da Economia (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Foto: José Cruz/Agência Brasil Paulo Guedes é ministro da Economia

A reforma da Previdência ganhou novos capítulos ontem a partir de uma declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele fez um diagnóstico pessimista para um cenário no qual a proposta não passe ou ainda seja aprovada como um remendo. Caso isso aconteça, falou que deixaria o País.

A repercussão negativa da entrevista à Veja durante todo o dia ofuscou a visita feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao Nordeste, tradicional reduto petista. No início da noite, uma nota liberada pelo Ministério da Economia informou que a pasta "reafirma o total compromisso do ministro Paulo Guedes com a retomada do crescimento econômico do País e rechaça qualquer hipótese de que possa se afastar desse propósito".

À revista, Paulo Guedes declarou: "Eu não sou irresponsável. Eu não sou inconsequente. Ah, não aprovou a reforma, vou embora no dia seguinte. Não existe isso. Agora, posso perfeitamente dizer assim: 'Olha, já fiz o que tinha de ter sido feito. Não estou com vontade de ficar, vou dar uns meses, justamente para não criar problemas, mas não dá para permanecer no cargo'. Se só eu quero a reforma, vou embora para casa. Se eu sentir que o presidente não quer a reforma, a mídia está a fim só de bagunçar, a oposição quer tumultuar, explodir e correr o risco de ter um confronto sério pego o avião e vou morar lá fora".

A publicação também traz uma análise do ministro de que, no curto prazo, o Brasil pode atingir uma situação similar à vivenciada na Argentina, com 30% a 40% de inflação, e que, no médio prazo, e antes de o governo acabar, pode chegar a se tornar uma Venezuela, com desabastecimento, inflação alta, dólar explodindo, ausência de investimentos, desemprego elevado, atraso de salários e de pagamentos a aposentados e pensionistas.

Guedes também frisou que, caso os parlamentares aprovem algo com uma economia menor do que R$ 800 bilhões, seria um remendo da velha Previdência. "Tenho absoluta confiança que vai sair a reforma de R$ 1 trilhão e que as revisões de crescimento para cima serão feitas a partir da reforma, que vai clarear um horizonte fiscal por dez anos".

Mas o dia terminou com o presidente colocando panos quentes nas declarações de Guedes. Depois de responder, durante visita ao Nordeste, que "ninguém é obrigado a ficar como ministro meu", Bolsonaro ironizou a polêmica pelo Twitter. "Peço desculpas por frustrar a tentativa de parte da mídia de criar um virtual atrito entre eu (sic) e Paulo Guedes. Nosso casamento segue mais forte que nunca kkkkk. No mais, caso não aprovemos a Previdência, creio que deva trocar o Min. da Economia pelo da Alquimia, só assim resolve".

Professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Helcimara Telles acredita que os fatos enfraquecem a possibilidade de aprovação do atual texto da reforma da Previdência e desagradam o empresariado que apoiou Bolsonaro durante a campanha não tanto pelas ideias conservadoras, mas pela possibilidade de realizar as reformas que atenderiam aos interesses do mercado.

Paula Vieira, cientista política e membro do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o novo governo encontra dificuldades de se adequar à dinâmica parlamentar, pois não busca consenso, o que dificulta a aprovação da reforma. A pesquisadora acredita que o enfrentamento proposto por Guedes desqualifica a relação entre os três poderes.

"A partir do momento em que um ministro se coloca contra a construção de um diálogo com os representantes que foram eleitos pela população para exercer uma representação legislativa, ele está indo de encontro de sistema democrático brasileiro", analisa.

No cenário econômico, as declarações podem ter impacto negativo, de acordo com Gilberto Barbosa, economista da Conceito Investimentos. Ele afirma que o mercado tem negociado com precaução, prevendo instabilidades. "Gera um tipo de incerteza desnecessária. A gente pode esperar que isso cause uma volatilidade dos ativos nos próximos pregões da semana que vem. Podemos esperar o dólar sendo negociado com valores mais altos e a bolsa em valores mais baixos", projeta (com agências).

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