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Roubos caem 20% em Fortaleza
Reportagem

Roubos caem 20% em Fortaleza

Em números absolutos, a área com o menor número de registros é a AIS 8, que abrange Barra do Ceará, Pirambu e Vila Velha. Foram 496 Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs) até abril deste ano
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 Tensão nas ruas e cultura de violência prejudica saúde dos policiais (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo  Tensão nas ruas e cultura de violência prejudica saúde dos policiais

No primeiro quadrimestre deste ano, Fortaleza reduziu, na comparação com o mesmo período do ano passado, em mais de 20% o número de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs) 1, que incluem delitos como roubos a pedestres e de documentos. A realidade da Cidade reflete as seguidas reduções mensais dos CVPs registrada no Estado: já são 23 meses consecutivos de diminuição na comparação com o mesmo mês do ano passado.

No entanto, a redução na Cidade não ocorreu de forma homogênea, ainda que todas as Áreas Integrada de Segurança (AIS) tenham registrado diminuição no número desses crimes no período — a exceção foi a AIS 1, de bairros como Aldeota, Meireles e Vicente Pinzón, que praticamente manteve estável o número de CVPs 1, com crescimento de 0,23%. Enquanto algumas AIS registaram diminuições de 3% no número de CVPs, outras chegaram a reduzir esse tipo de delito em mais de um terço, como é o caso das AIS 5 e 6. As áreas reduziram em 33,68% e 38,06%, respectivamente. A AIS 5 engloba bairros como Parangaba, Montese e Benfica, enquanto a AIS 6 tem bairros como Antônio Bezerra, Parquelândia e Henrique Jorge.

Em sua conta no Instagram, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, André Costa, postou imagem mostrando que o bairro Antônio Bezerra reduziu em 77% os CVPs em março. No mesmo período de 2018, foram registrados 97 casos, em 2019, foram 22, conforme o 18º Batalhão de Polícia Militar (18º BPM). Na página do batalhão no Facebook, outra publicação aponta redução de 76,5% no número de CVPs no bairro Parque Araxá: saindo de 26 casos em março de 2018 para seis em março de 2019. Em números absolutos, porém, a área com o menor número de registros é a AIS 8, que abrange Barra do Ceará, Pirambu e Vila Velha. Foram 496 CVPs até abril deste ano.

A tendência de redução é ainda maior, no entanto, quando observada a partir de 2017. O secretário cita que desde que foi iniciada a estratégia de combate à mobilidade do crime, em maio de 2017, já foram reduzidos em torno de 40% os roubos e, em 65%, o número de roubos de veículos. "São quase dois anos de consistente diminuição dos roubos", ressaltou em publicação no Instagram, citando ainda que o conceito de mobilidade do crime foi criado pelo titular da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), Aloísio Lira.

Na mesma postagem, o secretário citou que ainda que muitas pessoas não registrem os assaltos que sofrem, corroboram com a efetividade da estratégia definida pela SSPDS as reduções de roubos que sofrem menos com subnotificação, como de cargas, a bancos e comércios. A redução das CVPs 2, em 2019, em comparação com 2018, é de 48,1%, destacou. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o primeiro quadrimestre deste ano registrou o número mais baixo de roubos de carros desde 2011, quando 1.274 delitos do tipo foram registrados. Este ano, até abril, foram 1.726.

As estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) dividem os CVPs em dois tipos. Além dos CVPs 1, existem os CVPs 2, que incluem roubos à residência, com restrição de liberdade, roubos de carga e veículos. A SSPDS não disponibiliza por bairros as ocorrências de CVPs, apenas as Áreas Integradas de Segurança (AIS).

A receita para as reduções

O titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, comenta as estratégias para a redução de crimes violentos letais e intencionais (CVLIs) e crimes violentos contra o patrimônio (CVPs) no Ceará. Ele rebate a tese dos indicadores de criminalidades serem devido a ordens de chefes de facções. Conforme O POVO mostrou em 25 de abril deste ano, uma liderança da facção Guardiões do Estado, em depoimento em dezembro de 2018, disse haver uma orientação para não atacar rivais. "Vocês devem ter notado que os homicídios diminuíram", chegou a dizer. Para o secretário, a redução dos indicadores se deve ao trabalho das forças de segurança.

O POVO: Quais as principais estratégias empregadas pela SSPDS que tiveram relação com as diminuições de crimes violentos contra o patrimônio e de crimes violentos letais e intencionais?

André Costa: Parte da distinção, da classificação dos crimes conforme a resposta policial necessária. Nós temos os crimes de mobilidade e os crimes territoriais. Para cada tipo de crime, nós temos uma estratégia que foi traçada, que é bem diferente uma da outra.

OP: O que muda de um para outro? É possível dizer quais regiões estão sendo mais privilegiadas?

André Costa: Para os crimes de mobilidade, a gente monta uma estratégia que já está bem conhecida, o trabalho que a gente faz com ampliação das câmeras de videomonitoramento, com o emprego de uma ferramenta de inteligência artificial, de detecção automática dos veículos que devam ser objeto de investigação ou de abordagem, que é o Spia (Sistema Policial Indicativo de Abordagem). E também a montagem de cercos inteligentes, e o investimento em moto-patrulhamento. A gente consegue, então, combater melhor. Evita com que o criminoso, ao roubar um veículo, consiga praticar outros crimes usando esse veículo roubado ou furtado. E a gente, então, consegue reduzir não só o número de roubo de veículos, mas também o roubo em geral.

OP - E para os CVLI?

André -Com relação ao CVLI, que são os crimes territoriais, a estratégia já é diferente. A gente faz todo o estudo de 70 indicadores, que foram estudados pela Supesp (Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública). Foram estudados os CVLIs dos últimos quatro anos mais outros 69 fatorizados em renda, educação, saneamento, infraestrutura e densidade populacional e habitacional. Esse estudo define as áreas mais sensíveis para a segurança pública. Em cima disto, nós territorializamos o policiamento. Esses territórios que eram disputados por grupos criminosos passam a ter o predomínio da presença policial, policiamento fixo, através da instalação de bases do Proteger (Programa de Proteção Territorial e Gestão de Riscos), conhecidos visualmente como os contêineres. E, além da presença policial, a gente implanta também o trabalho da Polícia Civil nesses territórios. Trabalho em que eles focam também em equipes para trabalhar nesses microterritórios, de conhecer quem são os criminosos que estão presentes nessas áreas. E, além disso, um alinhamento com a Prefeitura e outras partes do Estado para que direcione urbanização e desenvolvimento econômico e social, principalmente, para essas regiões.

OP: É possível falar em reorganização das facções criminosas que atuam no Estado? Em dezembro último, Yago Steferson Alves dos Santos, em depoimento à Draco, afirmou que haveria uma ordem para não atacar inimigos, apenas para auto-defesa, e ainda relacionou isso à diminuição dos homicídios. Essa alegação faz sentido?

André Costa: Essa afirmação não pode ser descontextualizada de tudo o que vem acontecendo dentro do Estado. É uma afirmação feita no mês de dezembro, depois de nove meses de redução de homicídios no Estado, depois de dez meses de redução de homicídios na Capital, depois de 16, aproximadamente, meses de redução de roubos no Estado, depois de dois anos seguidos de redução de roubo a banco, a carro-forte, de roubo a cargas, de veículos, de latrocínios, depois de dois anos aumentando a apreensão de armas, dois anos aumentando prisões qualificadas. Esse depoimento foi feito nesse contexto. Olhando o lado de um membro de uma organização criminosa, ele vai querer atribuir esses indicadores à Polícia, ao Estado? Obviamente, vai contra o interesse dele. 

Assassinatos também em queda

Além da redução no número de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs), o Estado também registra uma contínua redução no registro de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), índice que engloba homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas mortes. Conforme a SSPDS, já são 13 meses consecutivos de redução de CVLIs no Estado, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No primeiro quadrimestre deste ano, foram 758 assassinatos, contra 1.624 do mesmo período de 2018. A redução é de 53,3%.

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