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O dia em que a balbúrdia virou protesto nas ruas
Reportagem

O dia em que a balbúrdia virou protesto nas ruas

| Mobilizações | A defesa da educação foi pauta comum aos diferentes grupos de manifestantes que se reuniram na Praça da Bandeira e ocuparam ruas em protesto
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"Chegou a balbúrdia!", gritou a vocalista do Maracatu Solar quando o grupo se uniu às dezenas de manifestantes que lotaram os arredores da Praça da Bandeira, no centro de Fortaleza. Gritos de apoio acompanharam a fala que repetia o que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, acusou as instituições federais de ensino superior de fazerem.

A palavra usada para justificar o bloqueio do orçamento discricionário de universidades e institutos realizado pelo governo, era vista em cartazes e ouvida nas palavras de ordem de estudantes e professores que foram às ruas de Fortaleza - além de diversas outras cidades do interior do Ceará. Uma contraposição ao primeiro uso, feito por Weintraub, em uma balbúrdia aqui não mais apenas do ensino superior, mas em todos os níveis de ensino e de diversas outras categorias.

"Todo mundo junto em único intuito: ajudar um ao outro", resume Maria Nonata, 31, professora do ensino infantil indígena na escola Conrado Teixeira. Bem perto dali, de farda e segurando cartaz em crítica ao governo do presidente Jair Bolsonaro, o estudante do Ensino Médio Gustavo Pereira, 17, explicou de maneira simples o que o levou para rua em uma manhã que misturava chuva e sol: "Pelo meu futuro e pelo futuro de diversas outras pessoas, eu estou aqui na rua lutando", quase gritou, enquanto diversos outros estudantes gritavam a "greve geral da educação".

O futuro da educação também é a preocupação relatada por Francisco Moura, 32, servidor técnico-administrativo da Universidade Federal do Ceará, e pela professora Sâmara Gurgel, 33, enquanto seguravam a pequena Flora, de quatro anos e acompanhavam a movimentação do ato. "Lutar pela futura educação dela. Os cortes também estão na educação básica, não só na superior. Então, por isso que eu a trouxe. Achei importante trazer ela para participar disso", explica Moura.

Aguardando desde às 8 horas da manhã de ontem, os que estavam na praça saudavam quem chegava pelas ruas próximas com a animação de quem não conhece, mas se reconhece na pauta comum. "São medidas cruéis que vão sucatear a educação pública, a gente vê essa intenção", critica a servidora técnico-administrativa do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Amanda Coelho, 30. Para ela, os estudantes serão muito afetados, apesar de "alguns membros do governo dizerem que não".

"Como é que os estudantes vão estudar sem energia, sem limpeza, sem material, sem laboratório?", questiona. A presença maciça de estudantes demostrava o mesmo questionamento. As fardas de secundaristas se misturavam a blusas com o nome de diversos cursos de graduação da UFC e também do IFCE. "(Queremos) Mostrar que os jovens e os estudantes também têm poder", defende Laila Andrade, 21, estudante da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

A inquietação da estudante por entender que "a educação é a única forma de mudar a realidade que a gente está enfrentando e a forma como governo está vendo isso é totalmente errônea" se misturava à emoção de participar de uma primeira manifestação. Emoção que divide com a colega de universidade Sheila Matias, 20, que encontra otimismo enquanto espera o início da caminhada que seguiria até o cruzamento entre as avenidas da Universidade e Treze de Maio. "(São) Várias instituições diferentes, tanto estaduais como federais, mas lutando pelo mesmo objetivo", diz.

O capoeirista Luciano Hebert, 38, acredita nessa união entre grupos diversos nessa mobilização. "A capoeira é sempre a luta do oprimido contra o opressor, então o capoeirista não pode se abster de nenhum tipo de luta", afirma e explica que a roda que se formou ali na praça, ao som de berimbaus, foi espontânea. "A gente não combinou nada. A gente disse 'vamos para a praça, vamos protestar e vamos lutar em prol da educação pública de qualidade'", relatou.

O dia de ontem, defendem os manifestantes, tem agora que se prolongar na luta que é em defesa da educação, mas se estende a outras pautas. "A gente não pode deixar parado. Tem que sempre estar em cima, porque se deixar na mão deles, não tem condição", afirma Nonata no que é complementada por Coelho: "Vamos seguir mobilizando. A gente precisa que as pessoas estejam atentas para os riscos que estão acontecendo", ressalta.

FORTALEZA,CE,BRASIL,15.05.2019: Protesto leva centenas de pessoas às ruas após anúncio do de cortes de verbas das universidades federais l. Em Fortaleza, ato aconteceu no Centro, na Praça da Bandeira seguindo até a Reitoria da Universidade Federal do Ceará. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)
FORTALEZA,CE,BRASIL,15.05.2019: Protesto leva centenas de pessoas às ruas após anúncio do de cortes de verbas das universidades federais l. Em Fortaleza, ato aconteceu no Centro, na Praça da Bandeira seguindo até a Reitoria da Universidade Federal do Ceará. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)

No ritmo

tema

A pauta mais citada entre os manifestantes foi o bloqueio orçamentário imposto às instituições. Estudantes e servidores do IFCE e UFC entoaram palavras de ordem e a pauta foi repetida nos discursos durante o ato.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 15.05.2019: Protesto de estudantes contra o corte de verbas para educaçao. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 15.05.2019: Protesto de estudantes contra o corte de verbas para educaçao. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

Personagem

o alvo

Jair Bolsonaro foi alvo de críticas em cartazes, gritos entoados e discursos. A Reforma da Previdência, o decreto que aumenta a posse de armas e o movimento "Ele Não" também foram lembrados.

interior

Atos foram registrados, ainda, em Juazeiro do Norte, Iguatu, Crateús, Sobral, Cedro, Quixadá, Russas, Quixeramobim, Tauá e Paracuru.

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